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REPERCUSSÃO FESTIVAL DOSOL – RECIFE ROCK (PE) – SEGUNDO DIA

Admito: quando me dei conta de que dezesseis bandas se apresentariam no segundo dia do festival me bateu uma preguiça daquelas, e por pouco não fico no hotel dormindo. Ainda bem que não o fiz. Paradoxalmente, o melhor dia do evento acabou sendo o de menor público: apenas mil pessoas. Felizardas, diga-se. A festa começou ainda de tarde e terminou madrugada adentro. Três bandas locais abriram os trabalhos no Bar DoSol. Destaques para o rock duro da boa Drunk Driver e para o pop consistente do Doris, comandado pela vocalista Ana Morena. Fortes candidatos ao palco da Rua do Chile no próximo ano.

O cearense 2Fuzz foi a primeira banda a tocar nos palcos principais. Apresentou um new metal / grunge que não acrescenta e também não compromete. Ou seja, pouco relevante.

Depois foi a vez da Carfax fazer uma apresentação impecável que pouquíssima gente viu. O som estava cheio e pesado. E a segurança de palco que eles adquiriram com o tempo só fez melhorar o que já era muito bom. O destaque ficou para a nova “Nitroglicerina”, que encerrou o show deles.

A partir daí começou uma série de shows fantásticos, cada um melhor do que o outro. Primeiro foi o baiano do Los Canos, que apresentou um rockão despojado, irreverente, inteligente, pé-na-jaca e largado. Rock com gosto de cerveja gelada, mulher bonita e diversão. Precisa mais?

Em seguida veio o Bugs, que considero a melhor banda de Natal. Eles misturam rock de garagem com psicodelia, alcançando resultados surpreendentes, inesperados e extremamente criativos e climáticos. Só vendo e ouvindo para ter idéia.

Quando o brasiliense Bois de Gerião começou a tocar ficou no ar a sensação de se tratar de uma banda que trilha o caminho já percorrido pelos Los Hermanos em sua primeira fase. Mas o grupo vai muito além. Com um naipe de metais poderoso, a banda tem a manha de colocar sopros no Led Zeppelin sem parecer pretensioso ou ridículo. E, melhor, suas composições são intensas, bonitas e extremamente simples de tão complexas.

O Walverdes contribuiu para a perda de audição de boa parte dos presentes. Com apenas três integrantes em sua formação, os gaúchos, que possuem treze anos de carreira, fazem um barulho dos diabos. E barulho dos bons: casca grossa, macho, sujo, raivoso. Saiu de cena como forte candidato ao título de melhor show do festival. Em uma palavra: foda! Se nunca ouviu, ouça!

O Revolver, que no ano passado havia tocado no bar Do Sol, não se intimidou com um palco maior. Desfilou seu rockabilly desencanado com extrema desenvoltura. Eis outra banda de Natal que promete.

O Memória Rom foi outra boa surpresa local. Daquelas bandas que, de tão boas, são difíceis de rotular. Entendi pouquíssimo de seu som, e foi justamente isso o que mais me agradou na banda. Me pareceu bem diferente do trivial, o que, por si só, já é muita coisa.

Chovia. Fazia frio. Todo mundo já estava bem cansado, se protegendo da água e bem longe do palco. Foi aí que entrou em cena o carisma de Fabrício Nobre e a força do som calcado no AC/DC praticado pelo seu MQN. Fabrício se entregou de tal forma no palco que chegou a passar mal após o show. Nada demais. Apenas o retrato de uma banda que consegue unir competência, raça e espírito visceral. Não resisti e comprei o disco deles depois do show. Desconfio que muita gente fez o mesmo.

Sobrou um abacaxi dos diabos para o regular Zero8quatro descascar: se apresentar depois de uma seqüência impecável de shows. Acabaram não dando conta do recado, o que já era esperado para quem já conhecia a ordem da programação.

O Autoramas tem hoje um dos melhores show do Brasil. Rápido, bem trabalhado, grudento e com uma presença de palco absurda de seus integrantes. Coisas como “Você Sabe” são difíceis de tirar da cabeça. Assim como as coreografias esquizofrênicas de Gabriel, Selma e Bacalhau. O tipo de banda que qualquer elogio só faz chover ainda mais no molhado. Rock até o caroço.

Com um baita disco debaixo do braço chamado “Standy By D.A N. C.E”, o Forgotten Boys prestou uma bela homenagem em forma de repertório autoral à nomes trejeitos sonoros que vão da pegada do Kiss e do AC/DC até os riffs dos Rolling Stones. Show impecável que me fez desembolsar uma grana na aquisição de mais um disco. Odeio clichês jornalísticos, mas vou me render a um: se você só tiver dinheiro para comprar um disco nos próximos meses, compre o do Forgotten Boys. Melhor show da noite? Ainda estou em dúvida. E pensar que cogitei a possibilidade de ficar dormindo no hotel…

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