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VIRADA CULTURAL NATAL: VIRADA DO PENSAMENTO – TEATRO DE NATAL, UMA ETERNA (RE)CONSTRUÇÃO

VIRADA DO PENSAMENTO
TEATRO DE NATAL, UMA ETERNA (RE)CONSTRUÇÃO
Por Henrique Fontes

Acho que eu virei diretor de Teatro, não me formei. Por mais que essa afirmação deixe meus colegas encenadores com cabelos arrepiados, acho que no meu caso foi bem isso mesmo. Comecei em Natal como ator amador, segui fazendo cursos livres, ajudei a construir o teatro profissional do Grupo Clowns, fundei 4 outros grupos, idealizei e ajudei a construir a Casa da Ribeira e tudo isso num processo tão dinâmico que quando me dou conta hoje, passaram-se 26 anos.

Em algum ponto desse processo, para poder dar vazão a uma necessidade avassaladora de fazer teatro, tive que tomar a frente de um processo e dirigir uma peça. Não foi bem uma escolha, ou resultado de uma formação, apenas tive que fazer porque não tinha mais ninguém que topasse a doidice.

Pois bem, depois que cometi o delito, fui correr atrás do prejuízo e buscar formação. Mas onde? Eu sabia que Natal ja tinha tido grupos e espaços dedicados ao teatro na década de 70, mas ali no final dos 80 começo dos 90, não havia escolas de formação de ator muito menos de diretor. A universidade oferecia um curso de educação artística apenas e poucos grupos promoviam oficinas, enfim, era bem difícil.

Então, todo ano nas minhas férias (sim, na época eu era professor de carteira assinada com direito a férias e 13º ) eu ia ver peças, fazer oficinas, participar de debates em várias cidades do Brasil e até fora dele. Isso saía caro. Geralmente eu passava metade do ano seguinte pagando contas desses “cursos de férias”.
Eis que as coisas começaram a mudar. Alguns grupos começavam a surgir e se manter; fizemos ocupação do antigo prédio desativado da TVU, onde hoje é o IFRN (acho que foi o primeiro Occupy…), fomos atrás de parceiros em tudo que era quanto. O Teatro Sandoval Wanderley começou a abrigar grupos e a fomentar uma cena de novos atores, mas a grande virada mesmo veio com o surgimento do Centro Experimental de Pesquisa Teatral, que, na gestão de João Marcelino e Josenilton Tavares, fez uma verdadeira revolução no teatro contemporâneo potiguar. Em apenas 6 anos aquele espaço formado por duas salas de aula, um ateliê, uma copa e uma sala de administração, localizado no Aeroclube da Hermes da Fonseca, agitou a cidade e acendeu a esperança de um bando de jovens, e daqueles que eram jovens há mais tempo, a fazer teatro de forma comprometida.

O Centro Experimental funcionava sem parar. Pela manhã se faziam reuniões, produziam-se figurinos, adereços e cenários; à tarde havia aulas, ensaios e à noite ainda mais ensaios e apresentações de cenas curtas, leituras dramáticas, peças clássicas ou experimentais. Renascia a cena teatral natalense.
Ja no segundo ano de funcionamento, artistas de outros municípios começaram a vir a Natal pra fazer cursos no Centro e companheiros de outros estados vinham ministrar workshops. Digo sem medo, que foi essa efervecência que motivou o DEARTE da UFRN a abrir o curso de licenciatura em Teatro e de onde surgiu boa parte do pensamento que deu origem à escola técnica de teatro idealizada por Vera Rocha, Ivonete Albano e Lenilton Teixeira. Também sei que muitos grupos iniciaram a replicar as oficinas partindo da formação do Centro Experimental e muita gente boa, que ainda hoje está em cena, veio dessa época.

Mas isso tudo “JA TEVE”. Hoje os espaços de formação se reduzem a UFRN e à escola técnica de teatro que, segundo me informaram, anda sucateada e com um quadro de professores bem reduzido.
Natal hoje se assemelha muito àquela Natal do final dos anos 80, onde eu buscava formação e não encontrava em lugar nenhum. Além de ter o teatro municipal fechado desde 2009, os equipamentos teatrais do Estado que funcionam andam tão apáticos e sem diálogo com a classe artística que o público migrou de mala e cuia pra dentro dos shopping centers.
Sem formação, com espaços sucateados ou fechados e sem fomento às novas montagens o Teatro em Natal volta a se fechar em salas de ensaio de poucos grupos de teatro que produzem pra fazer 3 ou 4 apresentações no RN e saem em busca dos festivais Brasil a fora.

Está na hora da Virada! Não dá pra continuar aceitando ser a terra do “JA TEVE”. Temos que construir e não ficar nesta eterna Re-construção, como uma Penélope neurótica que tece e destece essa saia e nunca termina pra poder usá-la numa festa e arrasar.

Precisamos avançar. Não cabe mais tantos passos para trás. Seremos rapidamente neo-colonizados deste jeito e da pior forma: sem aviso prévio ou escolhas. Ou acreditamos que o desenvolvimento não passa fundamentalmente pelo fortalecimento da cultura de um lugar?

Ah, recentemente fiquei sabendo que o prédio do Centro Experimental vai abrigar o acervo da biblioteca municipal Câmara Cascudo enquanto esta se reforma, o espaço do Centro estava fechado porque o telhado havia sido condenado, mas agora surgiu verba para reformar e abrigar os livros.

Eu propronho uma campanha #EuQueroExperimentarTeatro – REABRAM O CENTRO EXPERIMENTAL.

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