Por Foca
O punk caiçara do Eddie sempre bateu forte na minha cabeça e no meu som. Lembro de tocarmos juntos no bar do buraco em Natal, ano de 98, eu começando a empreender com música. Aquela formação dos olindenses nos daria pra sequência de sua existência Rogerman, Fábio Trummer e Karina Buhr. O Eddie como banda nunca morreu, nunca parou e continuou seguindo sua trilha e transpassando por mim em vários momentos, acabaram de lançar um álbum semana passada. O som mudou, ser caiçara das Olinda ficou mais forte, a influência da brincadeira no carnaval entrou com tudo nessa geração de jovens do rock periférico e de lá vimos aparecer Mombojó, Academia da Berlinda, Orquestra Contemporânea de Olinda e um sem fim de outros trabalhos seguindo a toada dos Eddies do punk praiano.
Pula para agora e me encontro duas vezes com os Eddie nos palcos da vida. A primeira no Sul do país tocando no mesmo festival em Paraíso do Norte e a segunda por convite do Dosol durante o Carnaval do Pôr do Som em 2020, o último rolê que promovemos antes do nefasto período pandêmico. Fábio, sempre elegante com a gente, sempre bate um papo e deixa descer uma goodvibe de quem reconhece no par as agruras de estar na música por tanto tempo.
Veio o coletivo FERVE, me debrucei em ampliar meu estudo como compositor e programei, compus e escrevi uma canção com o título de “A La Ursa”, lindamente finalizada pelos meus parceiros de som Jesi e Guirraiz. Na primeira volta que dei nos vocais da faixa eu ouvi a voz de Fábio Trummer e nunca mais des-ouvi. A princípio fiquei com vergonha de chama-lo para participar, um dos meus heróis do Nordeste Forte. Fui em frente, mandei a track e a letra e em menos de dois dias já tinha tudo de volta com a interpretação grave que marcou e ainda ainda marca época no cancioneiro alternativo nordestino.
Encontro bonito, um sonho. A La Ursa, a canção, fala de uma mulher humilhada pelo trabalho e pelo mundo em que a rodeia. Resolve virar assassina de aluguel, mas só aceita matar otários. Cozinha, mata, volta, se arrepende mas segue. A La Ursa também é o carnaval que vivemos, de Eddie, de Dosol, de Olinda, de Natal e que esperamos viver de novo a cada sol que nasce nesse pesadelo pandêmico.
Em loop: Nordeste Forte