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TALMA&GADELHA – MATÉRIA DA RAVISTA PAPANGU

Por Cefas Carvalho.
Simona tem 34 anos, Luiz, 31. Ambos são natalenses e conhecidos de longa data do público natalense e potiguar. Simona já venceu o MPBeco em 2006 com a canção “Volta”, em parceria com Khrystal, e também o prêmio Cosern Musical. Gadelha realizou muitos shows, esteve no projeto Retrovisor (com Khrystal, Valéria Oliveira, Ângela Castro e a própria Simona). Prolíficos, cantam em barzinhos, se apresentam em teatros e casas de show com projetos autorais, possuem repertórios variados (como de músicas de carnaval) e mantém a banda Trem Fantasma, desde 2003, que apresenta repertório de músicas infantis e é sucesso em Natal. Resumindo: trabalham muito, são workaholics.
O encontro do repórter com a dupla se deu na praça de alimentação no shopping natalense Midway Mall. Talma e Gadelha são descolados, simples e bons de papo. Antes (e mesmo durante) a entrevista sobre o projeto, Luiz Gadelha lembrou, com nostalgia, nos tempos das fitas K7, quando, com tesoura e durex, brincava de mixagem. Simona recordou quando – nos idos anos 90 – Gadelha morava no Rio de Janeiro e ambos trocavam cartas pelo bom e velho sistema de Correios. “Eu era mais prática, ele escrevia cartas longas, detalhadas, cheias de páginas”, diverte-se.
Levando em consideração a teoria de Hemingway de que toda a vida e a realidade de um artista são guardadas em uma “fonte” para depois se refletir em seu trabalho, percebe-se que tudo (experiências, companheirismo, amizade) é refletido na obra de Simona e Gadelha em “Matando o amor”. O CD é composto de dez canções, todas de pegada roqueira, de baladas como “Doce hora” e a faixa-título, a ecos da Jovem Guarda, como a divertida “Mais uma cereja”, passando ainda pelo pop-rock de “Bons meninos” e “Cola em mim”. Há também a curiosa “Porque todo coração é burro”, balada que começa romântica, mas com uma paulada como mensagem, onde Simona canta: “Seja fútil, seja frágil seja um nada, filho da puta”. O CD foi gravado no estúdio Dosol por Anderson Foca e Henrique Geladeira e mixado e masterizado no Megafone Estúdio por Anderson e Eduardo Pinheiro.
Sobre a origem do projeto, Simona registra que “o disco surgiu do convite de Anderson Foca, que acompanhava as nossas carreiras, para entrarmos no projeto Incubadora, de gravar artistas locais. Na verdade ele queria que eu e Gadelha fizéssemos juntos um disco de rock. O que a gente fez foi reunir o que estávamos fazendo, fazer outra parte no estúdio e escolher dez de quinze músicas feitas”, afirma.

CD DE ROCK

Quanto ao conceito que o CD pode passar (amor, em suas vertentes) a dupla novamente descarta excessos glamourosos tão comuns ao mundo narcisista do rock: “Não houve um conceito propriamente dito”, reafirma Gadelha, “e sim a idéia de Foca de nos juntar para gravar um CD de rock”. Em relação ao título, mais simplicidade: “Pedimos, no Twitter, que os amigos e fãs escolhessem entre os títulos das canções, o nome do CD. Ganhou “Matando o amor”, embora muitos não tivessem sequer ouvido a música”, diverte-se. Simona complementa: “Hoje não imaginamos outro nome para o CD”.
Segundo a dupla, o processo de gravação foi rápido e intenso. “Trata-se de um disco de banda”, registra Simona. “Pois o processo foi construído com a banda (Cris Botarelli, Henrique Geladeira e Emmily Barreto). A gente chegava com um rascunho e o pessoal transformava, houve muitos ajustes. Na verdade, paramos a vida com este CD, trancados três meses no estúdio de maneira a um não agüentar mais a cara do outro”, ri. Quanto ao processo de composição, Talma e Gadelha garantem não haver regras fixas. Ambos fazem tanto letras quando melodias. Simona registra que costuma primeiro fazer a letra, depois encaixá-la em uma melodia. Luiz assinala que tenta buscar a musicalidade nas palavras, então, tudo surge ao mesmo tempo.

“Matando o amor” deve muito do seu êxito à internet, e a dupla parece dominar este universo. “Para bandas independentes a internet é fundamental para a divulgação do trabalho”, diz Simona. Como as canções foram sendo divulgadas nas redes sociais (Facebook e Twitter, principalmente) e o CD disponível para download, nos shows (para baixá-lo, basta acessar www.dosol.com.br) muitas pessoas já conheciam as canções. E a digulhação pela web faz com que Talma e Gadelha já tenham fãs além-fronteiras potiguares. Este fato os anima para alçarem vôos maiores. “Estamos sim planejando uma série de shows em outros estados”, diz Gadelha. “Mas, antes, vamos fazer o dever de casa, shows em Mossoró e em cidades do Estado. Depois, Recife e Fortaleza e assim por diante”, registra Simona.

Para concluir a entrevista, a pergunta que não quer se calar, a que difere artistas de neófitos, ou, pelo menos, de batalhadores românticos. “Vocês vivem de música?”, dispara o repórter. A resposta vem em uníssino: “Sim, totalmente”. E, pelo que dizem, já há alguns anos. Bom sinal para a música potiguar. E sinal de que trabalho duro, organização e, last but not least, talento, ainda dão certo, em Natal ou alhures. Matando – ou não – o amor.

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