POR LADO R
Em tempos de leis de incentivo a cultura, quando não se consegue apoio na continuidade de um projeto, o que fazer? “Se readaptar, oras!”. Dessa maneira, foi realizada a terceira edição do Festival Dosol: enxuga daqui, encolhe dali e assim se manteve o espírito da festa com o brilho reforçado pela força de vontade aliada a coragem de arriscar.
O Festival Dosol cumpriu o prometido: 47 bandas, 26 horas de música, descontração e muito rock and roll. E se há males que vem para o bem, o formato da nova edição encaixou perfeitamente pro porte do Festival. De maneira inteligente, os shows foram distribuídos para duas casas: Armazém Hall (palco maior) e Dosol Rock Bar (palco menor), o que deu um clima mais intimista ao evento, onde circularam 4.500 mil pessoas, em média, nos três dias. O que fez falta, foi um espaço alternativo melhor, como nas edições passadas, onde as bandas pudessem dispor o merchan e assim fazer girar o ‘mercado financeiro independente’, onde bottons, camisetas, cds e adesivos são tão valorizados.
Se por um lado houve linearidade por parte da organização do evento, sem tumultos e com horários e ordens de apresentações respeitadas; a sonoridade musical foi diversa e frenética, destaque pra sábado, com 20 bandas tarde-noite adentro. Surpresa ou coincidência, a maioria das bandas que tocaram no Festival eram formadas por ‘power trios’. É um sinal de que a velha fórmula “baixo+guitarra+bateria” continua sendo a essência da coisa. Entre tantas apresentações no Festival é até difícil não ter preferências ou apontar destaques…
A primeira noite ganhou empolgação quando The Sinks [RN] subiu ao palco tocando canções do seu recém lançado ep “Ignored”, que poderia estar em qualquer prateleira de alguma loja perdida em Seattle. Aproveitando o clima overdrive, vêm o Cascadura [BA] com seu rock vibrante, mais que sincero de quem já está na estrada há muito tempo. Munido de boas letras e ótimos riffs, o Cascadura é a prova da resistência [e persistência] em empunhar uma guitarra e fazer barulho até o ouvido sangrar.
Dando uma amansada nos amplificadores, o Volver [PE] executou boas canções, embalando a galera com sua sonoridade “jovem guarda”. Chegada a vez do Vamoz!, o power trio pernambucano de guitarras endiabradas demonstrou no palco o seu já conhecido e sempre visceral rock duro. Set rápido, intenso, mesclando músicas do velho e do novo álbum, sinceramente: rock duro e alto… FYA BABY!!!
Depois da paulada do Cascadura e do Vamoz!, ficou difícil para o Moptop [RJ] empolgar os mais exigentes. Apresentação morna e funcional. Quando aqueles mais sonolentos cochilavam pelos cantos, com certeza, acordaram assustados com as cordas nervosas do Bugs [RN]. Velha conhecida do público e figura presente nos grandes festivais independentes, a banda tocou as canções mais que envenenadas do seu mais novo álbum: Exílio. Resumindo: rock cru e esfumaçado. A maratona da primeira noite chega ao fim, com o público aguardando os gaúchos do Cachorro Grande, que executaram um show contagiante e que ficou, a contento dos presentes.
Por volta das 15:30h, começa a maratona do segundo dia de Festival na Rua Chile, no bairro da Ribeira. Quem teve energia e disposição pra levantar da cama e chegar cedo, presenciou a apresentação dos potiguares do Toy Gunz e do Lótus, seguido pelos paulistanos do Secks Collin.
Com o público ainda pequeno, o Fliperama [RN] mandou seu punkrock bubblegum sem medo de ser feliz, para um público jovial e cheio de energia. O tempo parecia passar rápido quando o Joseph K? [CE] subiu ao palco, destilando seu rock apimentado com uma pegada bem pop. Entre uma cerveja e outra, é a vez dos mineiros do Enne. Guitarras altas e pesadas fez lembrar bastante do tempo e da sonoridade de seus conterrâneos do Diesel[Udora]. Agradou o suficiente e esquentou os ouvidos para a apresentação do Arquivo [RN], que mandou seu rockpunk de harmonias dissonantes e sensibilidade rítmica de quem conhece do assunto.
Correndo de um lado para o outro, entre os dois palcos, começa sem muita pausa o Stellabella [RJ]. Este power trio carioca tentou mais não conseguiu convencer muito o público, apesar das boas canções de uma levada pop/distorcida. E por falar em distorção, o Red Run [CE] fez uma apresentação redondinha, com uma pegada overdrive bem anos 90, prontos pra sair da garagem e ganhar os palcos do Brasil. Dando seqüência, chega a vez do Allface [RN] que, com seu punkrock melódico, fez a galera cantar junto e o público juvenil se emocionar.
Sem choro nem vela é chegada a hora do Rockefellers[GO], com pegada hardrock, riffs e solos infernais, fez o público ir a loucura e presenciar um dos melhores shows do Festival. Depois da chicotada sonora dos goianos, duas bandas potiguares, Jane Fonda e Zero8Quatro, velhas conhecidas do público local, fizeram suas apresentações dentro do esperado: canções pop cantadas em coro. Deixando a tietagem de lado, os goianos do Violins fizeram uma apresentação que exigia atenção do público. Execução impecável, conduzida com muita emoção [sem ser piegas, claro!] de quem já está acostumado aos palcos dos grandes festivais.
Já no outro palco, ouvíamos a pegada eletro-rock do Lucy and the Popsonics [DF], do simpático casal que tocou energéticas canções, transformando o palco do Dosol numa grande festa eletropunk. Sendo assim, o público já estava endiabrado para ver um dos shows mais insanos do Brasil.
Chega a vez do The Honkers [BA]! Insanidade elevada a mil, com direito as peripécias e traquinagens de Rodrigo Sputter [vocal], que subiu nos PA’s, nas janelas ao fundo do palco do Armazém Hall, rolou no chão, cuspiu cerveja, bulinou seu colega guitarrista, fez o djabo no palco. O Honkers demonstrou que tem potência rockeira e sabe cativar o público. Precisa mais?
Aproveitando o clima de loucura rocker, o Zeferina Bomba [PB] mostrou para que veio. Violão eletrozumbificado dos diabos, vocal nervoso, fez o público se debater durante toda apresentação. Dona Zeferina nessa noite soltou suas bombas, um viva a esses paraibanos cabras de pêia. Ficou difícil para o Supergalo [DF] sustentar a insanidade da noite. Fizeram um show certinho, com boas canções de uma banda formada por músicos experientes. Já rolava a madrugada e a maratona chegava na penúltima volta. Dessa vez, Os Bonnies [RN] mandaram seu rock’nroll numa lapada só. Como sempre: insanos, barulhentos e mal encarados. Na última volta, quem teve perna pra agüentar viu o show do Rock Rocket [SP] com stage dives no mínimo engraçados e algumas cervejas cuspidas ao alto.
Domingo, último dia. Aqueles que não foram pagar os seus pecados na missa, tiveram a oportunidade de ver o dia mais infernal do Festival. Peso, distorção, camisas pretas e guitarras com chifres foram a tônica do dia de encerramento. Além de um público muito participante, que formou rodas de pogo nervosas em praticamente todos os shows. Destaque para as bandas cariocas Ataque periférico e Jason.
O desconhecido trio estrangeiro The Nation Blue [AUS], pela primeira vez no brasil e em turnê com os cariocas do Jason país a fora, foi uma boa surpresa. Com a moral de quem abriu shows do Helmet e Foo Fighters, fizeram uma apresentação insana. Os vocais gritados, divididos entre Tom Lyngcoln [guitarrista] e Matt Weston [baixista], lembraram o velho e sempre bom Hot Water Music ou a menos conhecida Small Brown Bike. Sem contar na apresentação ora esquizofrênica, ora doentia de Lyngcoln, com direito a sangue escorrendo na testa e tudo. Das garagens da Austrália para o mundo, uma banda ótima!
Levante e Expose Your Hate foram, sem sombra de dúvidas, as pratas da casa mais pesadas. Trocadilhos a parte, quem viu o show dessas duas bandas na seqüência com certeza não saiu arrependido. A violência sonora tomou de conta da festa e dos tímpanos da galera. Os da gente estão zunindo até agora, o que não significa que não gostamos, entenderam?!
Fechando em alto estilo, o Matanza [RJ] fez muitos cantarem junto e se esbaldarem numa tremenda roda de pogo, inédita na edição 2007 do Fest. Dosol. O cenário final do Festival Dosol foi bonito de se ver, com o Armazém Hall praticamente lotado, tomado por jovens e adultos entusiastas, em uma comunhão profana coletiva, o “carismático” Jimmy e sua corja de beberrões, prendeu todo mundo até o final, com muita conversa fiada e barulho que divertiu até os mais avessos a banda.
Equipe [r]: Rafael F., Leandro Menezes, Dimetrius Ferreira, Renata Marques.