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RESENHA DE DISCO: CACHORRO GRANDE – TODOS OS TEMPOS

Por Brunio Nogueira (popup.mus.br)

O rock independente brasileiro pode mapear pelo menos três grandes nomes hoje. Cachorro Grande, Autoramas e Forgotten Boys são bandas conseguiram chegar num topo desejado por qualquer artista que não tem a estrutura de uma grande corporação de apoio. Com dois representantes dessa lista lançando novidades, o ano já começa a se desenhar positivo para o gênero. Em Todos os Tempos, os gaúchos da Cachorro Grande foram os primeiros a demonstrar também vontade de passar de fase.

Como todo bom brasileiro que se muda para São Paulo, o vocalista Beto Bruno estava totalmente perdido quando atendeu no próprio celular para uma entrevista. “Tem certeza que a gente se perdeu?“, perguntava distante do aparelho de tempo em tempo. Parece cena de artista famoso, constantemente ocupado com uma agenda armada pela gravadora, indo para uma grande rádio nacional. Mas na verdade ele só tentava fazer um lanche. “Suco de abacaxi não, quero Coca“, pedia entre uns “opa Bruno, desculpa, só um minuto“.

O novo disco da banda espanta. Ficaram famosos por um rock muito rápido e agitado, que rendeu a eles a melhor má-fama de quebra-tudo em festivais do país. Já Todos os Tempos é um uma coleção de baladas, difícil de se imaginar em um show típico da banda. Beto Bruno defende a idéia, dizendo que “muita gente fica surpreso e é isso que a gente quer. A banda evolui, não faz sentido lançar um disco igual ao outro“. Além da constante referência aos Beatles, a sonoridade traz um novo padrinho. “Enquanto estávamos na estrada descobrimos a coleção completa do Neil Young, foi algo que ouvimos muito antes de gravar“.

Ele explica que foi um disco feito com mais cuidado. “Não quero fazer nenhuma comparação, muito longe disco, mas foi gravado da mesma maneira que o disco branco dos Beatles, uma música por dia, ao vivo, sem pressa“, conta. “Dessa maneira, cada música sai sempre muito diferente da outra“. O vocalista concorda com a impressão de que este é um trabalho difícil para o palco, mas justifica, “não faz sentido ir para o show com a mesma coisa do disco, fica chato até para nós“.

O que Beto Bruno ainda não se deu conta, é que Todos os Tempos, apesar de um bom disco, vai exigir muita maturidade de um público que eles conquistaram que ainda é muito novo. A Cachorro Grande parece ter mirado nas rádios, mas desviado a pontaria dos shows. Mudança que deve fazer dessa versão “domesticada” uma verdadeira prova de fogo para a posição que a banda ocupa na santíssima trindade do rock independente.

Principalmente agora que a banda, finalmente, consegue viver livre de um rótulo que nunca deu certo na música, o do tal “rock gaúcho”. “Era algo que diminuía muito nosso som“, comenta Beto, “coisa criada por gente que é aproveitadora e quer aparecer as custas da fama dos outros“, alfineta. “Nos somos uma banda de rock, e rock é igual em qualquer lugar, em qualquer idioma“.

Esta é a principal lição que a Cachorro Grande traz no novo disco. “A banda de rock emo, rock carangueijo, rock isso e aquilo passam, as de rock de verdade ficam, foi assim com o Rolling Stones“. Mas pela quantidade de novas referências que o vocalista traz ao novo disco, parece que eles estão mesmo interessados em mudar de panteão, indo para o mesmo nível dos já consagrados (e, porque não, fundadores) do gênero.

Beto Bruno garante que não. “Para mim a consagração é poder tocar em qualquer lugar do Brasil, a gente nunca teve ambição ou fomos alucinados pelo sucesso“, garante. Perguntado onde ele imagina a banda nos próximos cinco anos, volta a ser mais modesto. “Acho que vamos continuar fazendo isso, com um pouquinho mais de conquistas“. Com um arriscado disco mais lento, eles desaceleram mesmo esse processo.

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