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RESENHA DE DISCO: VIOLINS, VALENTINA E BLACK DRAWING CHALKS

Por Bruno Nogueira (popup)

Em tempos de debates sobre a cadeia produtiva da música, o Recife ainda agoniza em busca de um método de trabalho. Discos estão sendo lançados de forma aleatória e individualizada, sem aproveitamento nas rádios e no palco. Enquanto, por aqui, o CD passa a ganhar o sentido de cartão de visitas, em Goiânia, o mesmo já funciona como passaporte para bandas cada vez mais conhecidas no circuito dos festivais. À frente dessa guerrilha, a Monstro Discos lança três discos de projeção nacional.

Dos três, um é sério concorrente a disco do ano. Pop, bom de fazer acabar a pilha de qualquer som de tanto que dá vontade de repetir, o terceiro disco do Violins se chama “Tribunal Surdo”. A banda ainda não teve passagem pelo Recife, mas já começa a se aproximar do horário das atrações principais em outros palcos. Neste novo trabalho, cantado em português, eles têm 14 hits certos, o tipo de coisa que falta nas novas bandas independentes. Polêmica, “Grupo de Extermínio de Aberrações” traz o ouro do repertório, com um protesto bonito em sua complexidade, numa letra que lista os medos velados da classe média.

Os arranjos pesados e um flerte com programação eletrônica escondem o disco mais político da banda. Letras que eles também disfarçam para o desatento, em versos como “Solitária para você é ficar longe da sua mãe / mas solitária para mim é ficar vivo para te ver”. O “Tribunal Surdo” julga a todos, sem distinção de gênero, cor e nacionalidade. Passa incólume pelo batido exército americano, os loucos do manicômio e encontra conforto no anti-herói da classe média, aquele que morre para defender os bens que comprou a prestação.

De carona nas referências do Violins, a Valentina leva as influências para fora do Brasil. A banda já tocou no Abril pro Rock e traz um CD que supera, em muito, o show. Escuta-se fácil os ecos de New Order e Jesus and Mary Chains nas faixas, que tem produção de Iuri Freiberger, novo ferreiro disputado para lapidar o rock nacional. A estrada percorrida antes do disco, com shows de Brasília a Porto Alegre, fez da banda uma estréia madura suficiente para passar na peneira de grupos que começam a aparecer primeiro na Internet. Chamar atenção numa terra como Goiânia não é fácil. Como o próprio vocalista do Black Drawing Chalks, terceira banda na lista de lançamentos, já falou certa vez em entrevista, “aqui tem uma banda para cada dois habitantes”.

Das três bandas, o Black Drawing Chalks tem a estréia mais tímida. “Big Deal” tem uma sensação constante, e por vezes incômoda, de “primeiro trabalho”, ainda atirando para lados opostos entre as faixas. É possível vislumbrar o futuro da banda a partir de algumas das músicas, mas não do álbum como todo. “Big Deal” é faixa que batiza o CD e, quando abre o repertório, chama a atenção. Mas entre as dez canções que seguem, acaba se perdendo muito do pique. Tudo para chegar em “Suicide Girl”, que retoma o fôlego apenas para encerrar o que poderia ter sido um bom começo de carreira.

TRABALHO SUJO
A Monstro não lança apenas os discos, também faz um trabalho constante com as bandas. À frente da gravadora, estão os produtores Leo Bigode, Leonardo Razuk e Fabrício Nobre. Este último, também é o atual presidente da Associação Brasileira dos Festivais Independentes e vocalista da MQN. “O lance é ajudar as bandas tocarem o máximo possível, se articularem via Internet e mandar material para imprensa”, explica Nobre. A lógica de trabalho, segundo ele, é simples: “show, disco, show, investir na continuidade da carreira, trabalho diário, correria, Internet, camiseta, tudo!”.

Como também estão na estrada e nos palcos, escolher quem vai se juntar ao selo vira trabalho mais fácil. Segundo Fabrício Nobre, “estamos sempre viajando e vendo as bandas em ação, além de receber discos e links o ano inteiro”. A Monstro tem um programa em uma rádio local chamado “97 Noise” e organiza os festivais Goiânia Noise e Bananada. No último, são escaladas bandas de todo o Brasil e até de fora do país, mas a atração principal de cada noite é sempre uma banda local. A formação de público é real e se comprova com vista cheia na hora dos shows.

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