Festival Do Sol incendiou Natal com shows de Walverdes, Mundo Livre SA, Forgotten Boys e Autoramas, entre outros
10/08/2006
“É do caralho!”. Cerca de três mil pessoas, sendo que a grande maioria provavelmente usava fraldas quando a música foi composta, completavam os versos de “Punk Rock Hard Core Alto José do Pinho”, clássico dos Devotos (PE), penúltima atração do último dia do festival Do Sol, realizado em Natal no último fim de semana, resumindo em três palavras a atmosfera reinante.
Duas noites antes, sob fina chuva, os locais Poetas Elétricos iniciavam a maratona e, de cara, ficava evidente a receptividade do público potiguar. Bandas locais, muitas delas desconhecidas no resto do Brasil, tinham suas músicas entoadas por boa parte da audiência. O destaque entre as pratas da casa ficou por conta do DuSouto. Composta por membros da extinta General Junkie, pilar do rock independente da cidade, a banda chamou a atenção com um dub’n’bass chapado, repleto de referências ao mangue beat.
Deu o tom para as duas melhores apresentações da primeira noite: Bonsucesso Samba Clube e Mundo Livre SA, as duas de Pernambuco. Faces da mesma moeda, cunhadas com uma década de intervalo, mostraram cada um a seu modo o estágio em que andam suas perversões do samba. No caso, a primeira se deu melhor. Pegou o filé do horário, com arena cheia e menininhas doidas pra gingar. Aí foi só deixar rolar. E rolou bem. Já o Mundo Livre pagou o preço de ser headliner. Devido a uma série de atrasos, o show só começou depois das três da manhã, quando boa parte do público já havia debandado – principalmente após a apresentação do Ludov. Quem ficou, no entanto, se deu bem. Ganhou como recompensa a empolgação da banda, que não deixou de fazer bis apesar do horário avançado.
A noite de sábado, mais focada no rock’n’roll, foi a que levou os melhores shows
Os gaúchos do Walverdes
e o menor público ao festival. Em dez horas, os presentes puderam assistir a uma série de 16 bandas tocando ininterruptamente. As três primeiras atrações tocaram ainda de tarde no bar Do Sol, palco reservado aos novatos da cena local, como o Doris, que chacoalhou a audiência com um rock básico com vocal feminino.
Nos palcos principais – isso, palcos, eram dois, um ao lado do outro, o que eficientemente evitou intervalos entres os shows – seguiu-se uma série de ótimas apresentações. Los Canos (BA) divertiu com boas letras e rock cru; Bois de Gerião (DF) levou metais ao grunge; sempre ótimo, o Walverdes (RS) massacrou ouvidos com porrada atrás de porrada – incluindo uma cover de Rocket from the Crypt; o MQN (GO) promoveu o inferno na Terra; Autoramas (RJ) compilou um “best of” com perfeição; Forgotten Boys (SP), com baixista substituto, mostrou a tradicional eficiência e fez a meninada cantar junto.
Mais voltado ao punk rock, o domingo trouxe a atração mais esperada pelo público do festival. “Quem tá falando aqui é a maior banda emo do Brasil”, divertiu-se o vocalista Rodrigo, no mesmo dia em que o Gugu levava ao ar uma antológica reportagem sobre o estilo ao ar. Emo ou não, o Deadfish (SP) mostrou no palco que é de longe a mais interessante entre as mais populares bandas do hardcore nacional. Com um show compacto, garantiu a alegria dos presentes e o recorde de stage dives do evento.
A bateção de cabeça, entretanto, já havia começado bem antes, com um gigantesco circle pit no show dos paraibanos do Dead Nomads que, jogando pra torcida, soltaram um medley de hits dos Ramones. Os potiguares Jane Fonda e Allface, banda de Anderson Foca, organizador do festival, também foram aprovados em massa, com hits locais na boca na molecada. Entre as duas, o Aditive (SP) fez a festa dos mais emocionáveis. Mas, como na primeira noite, foram duas bandas de Pernambuco que roubaram a cena. Primeiro, os Astronautas, peixes fora d’água numa noite punk que, com um show impressionante, saíram do palco como estrelas, cercados por caçadores de autógrafos. A outra, claro, foi aquela do começo do texto, que fez o público sintetizar em coro os três dias de rock em Natal.