O sol começou a brilhar!
Foi dada a largada para o 2º Festival DoSol. A festa começou nessa sexta feira dia 04 e foi aberta com chave de ouro. Rua cheia, stands com CD’s independentes, imprensa de todo o país. Foi com essa força total e uma estrutura de palco e iluminação mais fortes que a do ano passado que o Festival deu seu pontapé inicial.
A banda que foi escolhida para dar as boas vindas ao público foi Os Poetas Elétricos (RN). Acompanhei até o meio do show do lado de fora e pude me ligar mais no som. Uma proposta interessante e inusitada. Poemas declamados ao som da mais bem instrumentada música. Um vocal feminino dava mais identidade ao som proposto pelos Poetas. E além de todos os recursos musicais, quando entrei pude reparar que eles também usam a imagem para complementar a forma de expressar sua arte. Eles usaram um telão que ficava passando imagens interessantes. Esse foi meu primeiro show deles e me causou uma bela impressão. Boa música junto com poesia. Não poderia haver escolha melhor. E como o festival já começou bem, chegou a vez da também potiguar Simona Talma segurar a boa impressão que me foi causada. E ela se saiu muito bem. Com seu blues e MPB, ela empolgou os poucos presentes. Digo poucos presentes porque o público de Natal tem um costume muito feio: chegar muito tarde aos eventos. E acabam perdendo muita coisa boa por causa disso. Mas voltemos à música. Solos de guitarra, um teclado bem marcado e um vocal que às vezes me lembrava Elza Soares. Enfim, uma bela apresentação e uma boa aposta do Festival ao colocar duas atrações que estão mais para MPB (não uma MPB retinha, sem sal). Pela resposta do público, o resultado foi positivo.
Saindo da praia potiguar e parando na pernambucana, sobem ao palco os meninos da Parafusa. Eu conhecia o trabalho deles pelas mp3 que eles disponibilizaram na internet e estava curiosa para saber como era o show deles. Eles começaram com “Certo de Estar”, seguiram por “A história do boi Tatau” e passaram pelo “Asfalto”. O que pude notar foi a atenção que o pessoal estava dando ao novo som apresentado. Quando já estavam mais familiarizados, arriscaram uns passinhos e já na bela canção “Maria”, demonstraram uma satisfação pelo som mostrado pelos pernambucanos. Até o problema com o teclado (sim, o famoso problema técnico apareceu no show deles) não deixou a peteca cair. Mas vamos ao som da banda. À medida que ia ouvindo as canções, notei uma nuance de Jovem Guarda nos teclados e no ritmo. Pode ter sido impressão minha, mas se essa for influência da banda, eles souberam usar muito bem e deu uma característica ao som. Outra coisa interessante são as letras que falam de amor. As bandas independentes fazem canções de amor sem serem piegas ou caírem no lugar comum. Esse é outro ponto favorável à Parafusa. Ao fim da apresentação, os aplausos e gritos de “ahhh, acabou”, devem ter deixado uma boa impressão aos pernambucanos.
Mudando de Pernambuco, voltamos ao Rio Grande do Norte. E é a vez dos Mad Dogs animarem a noite. Com todo seu blues, animação e belo repertório autoral, eles mostraram a força das bandas potiguares. O repertório dos cachorros loucos foi desde as autorais, passando por Jorge Benjor e culminando nos Beatles, que foi inspiração para um álbum no qual o Mad Dogs fez versões da banda inglesa. E para fechar a celebração ao rock com blues, eles tocaram o hit “Alguém no Bar”, que foi entoado por uma maior quantidade de gente que já havia chegado ao Largo da rua Chile.
Ainda ficando em terreno potiguar, surge o SeuZé. Com seu repertório já conhecido pelo público fiel que comparece aos shows, dessa vez os meninos resolveram dar cara nova às suas canções. E estão colocando em teste a nova música de trabalho. Até que está sendo bem aceita pelo pessoal. O público cantou, dançou e celebrou todas, preparando o terreno para os pernambucanos do Bonsucesso Samba Clube. Com uma mistura de samba, reaggae, mangue beat e rock, eles levaram a galera ao requebro. Fica clara a influência das bandas da terra do frevo no trabalho deles. Dá para saber que tem um pitaco de Nação Zumbi e Mombojó, mas nada que vá tirar a identidade deles. Pelo contrário, contribui para marcar a personalidade musical.
Uma coisa que marcou o primeiro dia do festival foi o pouco tempo entre uma banda e outra. Seguindo o mesmo esquema do MADA, com os dois palcos e uma banda logo seguindo a outra, o que deu uma agilidade e nem restava tempo para a famosa descansada entre as bandas. E nesse pouco intervalo de tempo chega outra banda potiguar, a DuSouto. Com seu rock misturado com música eletrônica, eles conseguiram manter a energia começada pelo Bonsucesso. Eles tocaram de tudo, desde as autorais até o queridinho da Europa, o brasileiro Sérgio Mendes. E logo após o Dusouto outra potiguar aparece, o Experiência Ápyus. Com uma formação que pegou músicos do SeuZé (Lipe Tavares) e Kassava (Ticiano D’Amore), eles colocaram o povo para dançar de vez. O que me chamou mais a atenção no show deles foi novamente o vocalista Gil Oliveira que com sua performance forte e voz possante deu uma vida a mais à apresentação do Ápyus, vibrante. Um vozeirão que me lembrou Tim Maia.
Depois das apresentações das bandas nordestinas, chega a vez da paulista Ludov encantar os fãs presentes e aqueles que não conheciam o som da banda. Com um carisma contagiante eles mostraram porque vieram pela segunda vez a Natal e estão conquistando mais fãs em terras potiguares. Começando o show com “Estrelas”, eles levantaram a galera e colocaram os fãs para cantar. Seguindo as estrelas veio o “Gramado”. E os fãs que estavam há mais de um ano sem show deles por aqui (o primeiro foi na prévia do mesmo Festival DoSol do ano passado) aproveitaram para curtir o som. Mas foi com o hit “Princesa” que o público teve seu primeiro delírio. A música foi cantada a plenos pulmões e a satisfação dos músicos ao apresentarem suas canções era clara. Contudo, foi mesmo em “Kriptonita” que o pessoal se entregou à melodia. Além de mostrar as canções do CD “O Exercício de Pequenas Coisas”, eles apresentaram a inédita “Ciência”, que vai estar no novo CD da banda, que está sendo trabalhado. Mas o que realmente chama a atenção no show deles, além da simpatia e competência dos músicos são os fãs. Nada daquela gritaria louca ou fanatismo exagerado.
Enfim, foi uma bela festa, com a rua Chile cheia, preparando para o encerramento com a pernambucana Mundo Livre S/A, que chegou com seu samba rock para agitar a galera que não foi embora após o show do Ludov. Com todo o balanço característico o Mundo Livre colocou mais uma vez a galera para dançar e mostrou canções de seus cinco CD’s lançados, desde “Bolo de Ameixa” até as atuais. Um show que fechou com chave de ouro (a mesma chave com que foi aberta) a primeira noite do Festival DoSol. E que venha a segunda noite!
Veja as fotos da noite.
Por Sandra Regina
sandrinha@rockpotiguar.com.br
08/08/06