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OPINIÃO: 2010, O ANO DA AFIRMAÇÃO DOS INDEPENDENTES


Foto: Love Bazucas no Festival Dosol 2010 (Nicolas Gomes)

Por Fernando Rosa
www.senhorf.com.br

O primeiro ano da nova década, afirmou a diversidade musical sugerida pela lógica da internet e das redes sociais. Um ano de muitos lançamentos, difíceis de rastrear/acompanhar/ouvir, o que faz com que a maioria das listas sejam discrepantes entre si. Além, claro, de cada uma delas refletir o perfil editorial de cada publicação e das pessoas envolvidas.

O ano de 2010 teve a marca da consolidação independente no Brasil, iniciada com mais fôlego em meados da década com a criação da ABRAFIN. Os cuiabanos Macaco Bong dividindo o palco com Gilberto Gil e a brasiliense Móveis Coloniais de Acajú lotando casas de shows país afora são exemplos dessa realidade. Os festivais afirmaram um circuito, uma plataforma para as bandas que, a partir de agora, estão forçadas a criar, compor, produzir para circular. O dito de que não basta ter um bom disco, mas precisa mostrar no palco, está valendo cada vez mais para selar o destino de uma banda.

Apesar de ser um ano meio de entressafra, 2010 deu bons frutos, com bandas que se firmaram definitivamente, como Superguidis, que chega ao terceiro disco, com identidade sonora e presença em todo o país e no Prata. Por outro lado, promessas jovens vingaram, como Diego de Moraes e O Sindicato, e outras ainda mais novatas foram gratas surpresas como a brasiliense Watson e a sorocabana INI. Também artistas que flertam com a MBP e ritmos regionais ocuparam espaços, em especial a carioca Do Amor, com um colorido disco de estréia.

Em nosso caso, surgimos como um portal voltado para o rock independente, sem abandonar o clássico, de todas as épocas. Somos, antes de mais nada, uma publicação de rock, no sentido mais estrito que tal definição ainda possa ser entendida – talvez não por acaso, os três primeiros discos das listas sejam bandas com forte peso nas guitarras. É com esse espírito, que trazemos a presente lista dos destaques independentes brasileiros de 2010.

Também trazemos nossa lista iberoamericana, de forma mais econômica, e do rock internacional, leia-se anglo-saxão. No primeiro caso, trata-se de um esforço em contribuir para o processo de integração por meio da sugestão de alguns discos para ouvir. No segundo, a constatação de que o rock deu um “back to 54 + era nuggets”, sem perder o punk, o noise e o peso pós-Nirvana.

Para o ano que vem, já tem muita gente se candidatando para a lista de melhores discos. Beto Só e Volver, ambos indo para o terceiro disco, já concluíram as gravações. Macaco Bong anunciou que o novo disco está composto, enquanto o Vanguart também já fez o mesmo. Outro disco previsto para 2011 é da banda curitibana Mordida. Entre as estréias que prometem estão Saulo Duarte e A Unidade, Caldo de Piaba, Mini Box Lunar e The Pro.

BAIXE AQUI COLETÂNEA COM OS ARTISTAS DA LISTA

Independente nacional

1 – Superguidis – 3 (RS)
www.superguidis.com.br

O melhor disco de rock do ano, e um dos melhores do novo rock da geração independente. Batizado de “3”, mostra a evolução do quarteto gaúcho, que consolida sua identidade sonora. Nas letras, o cotidiano da juventude suburbana retratada com sutil e irônica inteligência poética. No som, as melhores guitarras do Brasil em completa sintonia. “Aos Meus Amigos”, que fecha a sucessão de hits do disco, é a emocionante versão musical da luta de uma geração contra a solidão precoce. Gravado e produzido por Philippe Seabra, e mixado pelo americano Kyle Kelso, o disco tem qualidade técnica internacional.

2 – INI – A Caixa do Macaco (SP)
www.tramavirtual.com.br/INI

Quem já viu um show da banda de Sorocaba em boas condições técnicas uma vez sabe do que estamos falando. O quarteto faz rock como poucas bandas atualmente, com pegada, barulho e tortas melodias. O disco reflete em parte o show, mas é o suficiente para conquistar com seu “space rock”.. Há quem remeta as referências ao At The Drive In e outras bandas do estilo, mas o quarteto tem personalidade própria. Uma grande banda, com simplicidade musical e existencial.

3 – Watson – Watson (DF)
www.bandawatson.com.br

“Uma das mais gratas surpresas de 2010”, escreveu Fábio Massari apresentando o disco em sua coluna na internet. Um comentário justo, pois o disco de estréia do quarteto de Brasília traz uma banda madura, a cavaleiro de ótimas guitarras, cozinha perfeita e letras que refletem a vida dos jovens da Brasília atual, real e cosmopolita. Entre clássicos da cena local e novas composições, o disco traz canções como “Quitinete”, “Tupanzine”, “Perfume de Hotel” ou “Quero Envelhecer” Produzido e mixado por Thomas e Gustavo Dreher, o disco conta com qualidade diferenciada para discos de estréia.

4 – Diego de Moraes e O Sindicato – Parte de Nós (GO)
http://www.myspace.com/diegodemoraes

Aqui está alguém que melhor resolveu a relação do rock universal, com a história do rock nacional e com a MPB, algo na escola de Raul Seixas e Novos Baianos, entre outros. Cuiabano/goiano, Diego de Moraes fez um certo barulho tempos atrás, recolheu-se e, agora, entra firme no cenário independente com um ótimo disco. Muito bem gravado, “Parte de Nós” traz a poesia/crônica inteligente, irônica, divertida e um instrumental rico e colorido, com destaque para teclados e guitarras, sem afetação “crossover”.

5 – Guizado – Calavera (SP)
www.tramavirtual.com.br

Um disco que poderia ter lançamento mundial, pela qualidade autoral, de produção e pela variedade das referências. Em “Calavera”, tem o clássico instrumental brasileiro misturado com trilhas de filmes “B”, Burt Bacharach, Ennio Morricone e Juan Esquivel. O resultado é uma preciosidade da música instrumental, rara, psicodélica, sofisticada, mas sem qualquer pretensão “estilística” de seu autor, o trompetista e multiinstrumentista Guilherme Mendonça. Participações especiais, como a do guitarrista Régis Damasceno deixam o disco ainda mais interessante.

6 – Do Amor – Do Amor (RJ)
www.myspace.com/doamor

Junte quatro instrumentistas de altíssima qualidade, adicione canções legitimamente difusas e coloque-os num bom palco pra tocar. Ou então, faça o mesmo, mas leve-os para um estúdio, sob o comando de Chico Neves, e você tem um belo disco. “Do Amor”, o disco de estréia da banda Do Amor é uma coleção de diferentes canções, que interagem entre si e com a diversidade da música nacional, sem cair no “maculelê” para inglês ouvir. “Vem Me Dar”, “Dar Uma Banda” e “Pepeu Baixou em Mim” são clássicos modernos.

7 – Lestics – Aos Abutres (SP)
www.lestics.com.br

Oriundos dos Gianoukas Papoulas, Lestics é obra da cabeça da dupla Olavo Rocha (voz) e Umberto Serpieri (violão, guitarra, gaita, teclados, neste disco acompanhados de Lirinha (guitarra e violão), Marcelo Patu (baixo e violão), percussão e backing vocals) e Xuxa (bateria e percussão). “Aos Abutres” é o quarto disco deles, que mantém a sonoridade indie-folk-country e, neste trabalho, um pouco mais rock. Música para gente grande, exemplo de grandes compositores do rock independente, com emocionante poesia. A faixa título é uma das mais belas canções do ano.

8 – Holger – Sunga (SP)
www.tramavirtual.com.br

Uma banda que poderia resvalar no hype, mas que produz um conjunto de canções com honestidade musical. Sintonizado com sonoridades universais, e cantando em inglês – aliás, ótimos vocais – Sunga traz um clima indie-brazuca-pop que cativa e empolga o ouvinte. Canções como “No Brakes”, “She Dances”, “Let’em Shine Bellows”, especialmente, e “Who Knows” poderiam ser hits internacionais. O disco foi lançado pela Trama Virtual, que continua cumprindo seu papel de promover bons lançamentos.

9 – Apanhador Só – Apanhador Só (RS)
www.myspace.com/apanhador

Outra banda gaúcha da geração pós-Superguidis/Pública que desponta no cenário nacional com um belo disco de estréia. Construindo sua identidade além das referências herdadas de Los Hermanos, a banda traz composições de grande qualidade e ancoradas em influências de MPB clássica, como “Nescafé”, “Pouco Importa” e “Prédio”. O disco também vem embalado com capa e encarte, em qualidade digna dos melhores momentos da geração vinil.

10 – StereoScope – Conjunto de Rock (PA)
www.myspace.com/stereoscopebelem

Uma espécie de “ópera rock” sobre o “ser independente” nesses tempos de transição das relações artista x produção x público, “Conjunto de Rock “ é o terceiro disco da banda de Belém. O tema título, assim como outras canções como “Clark Kent” e “Canção que Não Toca no Rádio” são exemplos da temática abordada com criatividade e ironia. Os três compositores da banda – Jack Nilson, Marcelo Nazareth e Ricardo Maradei estão entre os melhores do rock nacional. Um disco com sonoridade lofi e ótima poesia.

11 – Violins – Greve das Navalhas (GO)
www.violins.com.br

Entre idas e vindas, os goianos Violins são discretos e elegantes sobreviventes do rock nacional, pouco capaz de absorvê-los em toda sua dimensão criativa. Em “Greve das Navalhas”, a banda mantém o nível criativo, inspirado, existencialista e musicalmente arrebatador, difícil de superar diante dos últimos dois discos, pelo menos. Beto Cupertino continua sendo um dos melhores letrista do rock independente e sua interpretação cada vez mais pessoal.

12 – Sociedade Bico de Luz – Doe Rock ao EMOcentro (RS)
www.myspace.com/sociedadebicodeluz

Uma banda que faz rock com apelo pop como poucas na história recente da música jovem brasileira. Seu disco Doe Rock ao EMOcentro é uma sucessão de hits, que tratam com ironia diversas situações do cotidiano de Porto Alegre da Região Metropolitana. Centro de Porto Alegre, Musa do T2 e Eu Tenho Uma Banda Que Quer Ser Strokes falam por si só. Ao vivo correspondem a qualidade do disco, com apresentações fortes e pra cima.

13 – Pata de Elefante – Na Cidade (RS)
www.tramavirtual.com.br

A banda Pata de Elefante é dos grandes grupos instrumentais do país, ao lado de outros como Macaco Bong, Retrofoguetes e The Dead Rockers. Os guitarristas Gabriel Guedes e Daniel Mossmann são geniais do instrumento e o baterista Gustavo Telles não fica atrás. Em “Na Cidade”, o trio está mais leve, com uma orientação para o universo da surf music, o que valoriza o som dos gaúchos. “Sai da Frente”, “Pesadelo no Bambus” e “Squirt Surf”, das treze faixas do disco, estão entre as mais legais.

14 – Giancarlo Rufatto – Machismo (PR)
http://bit.ly/9T5JUf

O curitibano Giancarlo Rufatto surgiu algum tempo atrás com suas canções folk-blue-eyed-soul, confirmando-se um grande compositor de rock. Depois de vários lançamentos online e da parceria – que continua – com o grupo Hotel Avenida – ele chega a mais um disco. “Machismo” é outro lançamento no melhor estilo lofi, que contém ótimas canções, entre elas “Oquei”, “Curitiba, se você sorrir, lhe darei um doce”, “Chocolate e Flores” e a faixa título.

15 – Survive – Destroy and Revolutionize (AC)
www.myspace.com/survivebanda

No palco do festival Varadouro, em 2010, a banda toda de preto assombrou o público presente com um show arrebatador, mesmo para quem não se liga muito no gênero. Sob o comando do vocalista Max Dean, a banda traduz no disco “Destroy and Revolutionize” o peso, a qualidade musical e a tensão que imprimem nas apresentações ao vivo. Muito bem produzido, o disco deixa claro que o Acre esconde (por pouco tempo) uma das melhores bandas de metal do país.

Extra-bônus

16 – Black Drawing Chalks – Live in Goiânia (GO)
www.myspace.com/blackdrawingchalks

Trata-se do registro ao vivo da banda de Goiânia, dona de um dos melhores do rock brasileiro atual, e mais fiel tradução do rock da cidade encravada no Centro-Oeste do Brasil. O disco também é prova da maturidade do rock independente, capaz de bancar a experiência de um registro ao vivo, com sucesso. No disco estão canções do primeiro e do segundo álbum que construíram a imagem da banda nos palcos do Brasil e do exterior. Uma espécie de “hours concours” em nossa lista.

Iberoamericanos

1.Triângulo do Amor Bizarro – Año Santo (Espanha)
2.Onda Vaga – Espiritu Salvaje (Argentina)
3.Los Mentas – U.E.L.M. (Unidad Educativa Los Mentas) (Venezuela)
4.Los Planetas – Una Ópera Egípcia (Espanha)
5.Os Pontos Negros – Pequeno Almoço Continental (Portugal)
6.Los Bunkers – Musica Libre (Chile)
7.El Hombre Misterioso – Inside The Corporation (Peru)
8.Julieta Venegas – Otra Cosa (México)
9.La Ola Que Queria Ser Chau – Películas Caseras (Argentina)
10.Los Saicos – Demolición (The Complete Recordings) (Peru)

Internacional

1.Surfer Blood – Astro Coast
2.BRMC – Beat The Devil’s Tattoo
3.Avi Buffalo – Avi Buffalo
4.Wavves – King of The Beach
5.Neil Young – Le Noise
6.Magic Kids – Memphis
7.Arcade Fire – The Suburbs
8.Tame Impala – Innerspeaker
9.Jaill – That’s How We Burn
10.The Soft Pack – ST
11.The Walkmen – Lisbon
12.Crocodiles – Sleep Forever
13.Smith Westerns – ST
14.Spoon – Transference
15.Best Coast – Crazy For You
16.Black Angels – Phosphene Dream
17.Dum Dum Girls – I Will Be
18.The Coral – Buttherfly House
19.The Drums – The Drums
20.Nada Surf – If I Had a Hi-Fi
21.Magnetic Fields – Realism
22.Male Bonding – Nothing Hurts
23.We Are Dios – We Are Dios
24.Vivian Girls – Everything Goes Wrong
25.Titus Andronicus – The Monitor

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