Quem esteve ontem no Rio Vermelho conferiu uma noite histórica. Assistiu bem provavelmente o começo de uma nova fase do Carnaval de Salvador. Um novo circuito parece que se consolidou como obra do destino. Bastou a festa de Yemanjá cair em pleno Carnaval para o boêmio bairro ganhar palcos e a presença de blocos. O trio elétrico Armandinho, Dodô & Osmar – com a fobica em cima de um caminhão, com um som bem abaixo da qualidade merecida – foi ironicamente o responsável mais de 50 anos depois por inaugurar um novo circuito da festa. O frevo elétrico que marcou o Carnaval de Salvador na década de 50 do século passado, é o mesmo que será lembrado por tornar o Rio Vermelho um novo destino para os dias de festa.
Se vai se consolidar de fato só os próximos anos dirão, mas Armandinho Dodô e Osmar puxando uma multidão com um trio que remontava aos tempos antigos foi memorável. E foi mesmo como antigamente, um trio simples, sem muita força sonora, mas que era compensado pela animação do público em êxtase que cantava entusiasticamente todas as músicas e relembrava saudosos carnavais. Num ambiente de paz total, que mesclava públicos diversos, com foliões jovens e veteranos, até crianças e turistas, todos cantavam com um sorriso estampado no rosto aqueles sucessos imbatíveis do grupo. “Vida Boa”, “Chame Gente”, “Chão da Praça”, entre tantos outros, ao lado do “Bolero de Ravel” e do “hino do Senhor do Bonfim” para fechar a noite. A leve chuva caia para refrescar os foliões que não abandonou a rua até o trio encerrar a festa.
O trio elétrico Armandinho, Dodô & Osmar continua se apresentando durante o Carnaval. Nesse domingo eles estarão no Campo Grande, no circuito Osmar. Já na segunda e terça-feira eles puxam o trio mais tradicional do Carnaval nas ruas da Barra, no Circuito Dodô.
O rock faz as pazes com o Carnaval
No palco do Rock no Rio Vermelho, a guitarra baiana e o frevo elétrico se unem à surf music enquanto roqueiros viram foliões ao som de Armandinho, Dodô & Osmar
Se o Carnaval paralelo do Rio Vermelho não estava lotado em todos os palcos montados pelas ruas do bairro, um deles se destacou por reunir um ótimo público e shows. Montado no largo da Companhia de Pizza, o palco voltado para o rock abriu com atraso com a banda Cascadura, que fez aquele costumeiro shows, certeiro, com todos os hits e público na mão. O Retrofoguetes veio em seguida, inserindo mais uma vez novidades no shows. Além dos petardos de sempre, inseriram a guitarra baiana e o frevo elétrico, com Morotó SLim acopanhado de Robertinho da Lampirônicos fazendo a farra com instrumentais clássicos do Carnaval.
Depois o convidado foi Moskabilly, que cantou Kinks e atacou com a imbatível “Vampire”, do The Dead Billies, com mais um momento marcante. Imortalizado o show continuou com Moska e Nancyta cantando juntos. Ainda teve participação de Loin Man e terminou com folia carnavalesca. Para fechar a noite a banda Theatro de Séraphin, que ficu meio desclocada, até porque quase todo mundo correu para ver Armandinho em Dinha. E se o rock baiano sempre tratou o Carnaval com desdém, tentando se distanciar ao máximo dele, a noite de ontem marcou as pazes de roqueiros com o Carnaval.
Não só com o Retrofoguetes fazendo a festa com um repertório que mesclava surf music com frevo, mas porque boa parte do público presente no palco correu para rua para dançar ao som de Armandinho, Dodô & Osmar. Roqueiros viraram foliões e as pazes foram feitas nas ruas do Rio vermelho.