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HUGO MORAIS (RN): ENTREVISTA COM O LUNARES (RN)

A banda Lunares nasceu em 2006 de forma muito parecida com tantas outras, tocando covers de bandas que eles gostavam. Depois de algumas formações a banda estabilizou como trio: Rodrigo, Bruno e Daniel. Com o auxílio da tecnologia de computadores e programas eles introduzem samples e outros elementos digitais para formar um som calcado em rock inglês, mais melódico, emotivo. O som é pop, é rock, mas acima de tudo é diferente do que a maioria vem fazendo em Natal. Confiram a entrevista concedida por Rodrigo Lacerda.

Vocês já tocaram em outras bandas? Quais?

Eu já tive duas bandas de colégio, Fahrenheit (2002) e O Retorno (2002-2004), nas quais tocava pop-rock cover. Fase divertida sim, mas com o passar do tempo a cabeça mudou, e com ela os gostos e prioridades também mudaram. Acabei saindo e atravessando um longo período em busca da “banda dos meus sonhos”. E eis que Bruno, um garoto que passou toda a sua adolescência tentando montar o que viria a se tornar a Lunares, me encontrou. Não há nada mais romântico (risos). Além da Lunares, Daniel toca batera na pop-rock Cats & The Dogs.

Quais as principais influências da banda?

Tudo o que escutamos nos influencia de alguma forma. Eu amo U2. Bruno, Coldplay. Daniel adora reggae (err, tá bem, acho que até agora não inserimos elementos jamaicanos em nosso som; quem sabe um dia…). A lista segue com os arranjos densos e coros do Arcade Fire, com The Cure, Beatles, brit-rock, pós-punk, pop, indie/alternativo em geral, tudo o que é melancólico e dramático, tudo o que é melódico e intenso. Dentro do rock nacional, Legião Urbana é uma grande influência e eu, particularmente, adoro Secos e Molhados em seus 2 primeiros discos. E eu falo pros caras que um dia vão ter que deixar eu brincar com flamenco. Minha paixão por música cigana é milenar…

Fale um pouco sobre essa história de música cigana.

Chega a ser bizarro. Mas eu tinha cinco ou seis anos de idade quando ouvi Gipsy Kings e me tornei uma criança obcecada por flamenco, as guitarras espanholas, as palmas, castanholas, os coros ciganos. Tive que perturbar bastante e ter todos os discos deles. Isso sempre me acompanhou, e assim fui desenvolvendo uma obsessão por música em geral e por instrumentos musicais. Meu primeiro contato efetivo com um violão foi aos onze. Queria tocar Gipsy Kings na primeira semana, mas era um tanto quanto difícil, hehe. No ano passado, descobri uma outra vertente da música cigana, da região do bálcãs (leste europeu), através de uma banda norte-americana emergente, Beirut.. Como não poderia deixar de ser, viciei.

A banda foi formada em 2006. De lá para cá o que vocês estavam fazendo?

Tocando, em shows esporádicos, covers de bandas que curtimos, foi assim que Lunares (na época, Minerva) começou. Sentíamo-nos uma banda estagnada, mas, de certo modo, essa fase foi essencial para nosso amadurecimento técnico e subjetivo. Sempre ensaiamos muito. E planejamos muito as coisas. Acho que, depois de tudo, chegamos a um resultado positivo com nosso trabalho autoral em desenvolvimento. Bom, nesse período também sofremos mudanças na formação: éramos um quarteto, do qual um dos guitarristas (Diego) saiu, o que nos moveu a investir pesado em equipamento de sampler, pois, embora transformados em trio, queríamos arranjos preenchidos, teclados, percussões, etc. Esse processo nos “atrasou” um pouco: adaptação ao novo formato, gravações de samples, adaptação ao metrônomo… Mas, como já havia dito, foram coisas que contribuíram para nosso crescimento. Ah, claro, em alguns pontos dessa reta, nós estávamos compondo (ou, pelo menos, tentando…). Por fim, há poucos meses atrás, sofremos uma mudança de batera: Renoir saiu e Daniel entrou, já gravando ‘Ofendículos’ e ‘Dance’.

Como funciona o metrônomo?

O modo pelo qual utilizamos esse recurso é algo tão elementar, que ficamos bestas quando nosso amigo Dalmo Santos, do estúdio Trampo, nos explicou pela primeira vez, e somos gratos a ele por isso. Já sabíamos que o metrônomo poderia ser feito em programas de loops. O que não sabíamos era como aplicá-lo no palco, sem que as pessoas o ouvissem. Simples: gravamos o sample de cada música em uma faixa “comum”, estéreo, utilizando um programa de edição/produção de audio. No lado L, jogamos apenas os teclados e percussões que se misturarão com a banda tocando. No lado R, jogamos o metrônomo. Na hora de tocar ao vivo, tudo o que precisamos é de um notebook ou qualquer player para reproduzir essas faixas e um amplificador/distribuidor de fones de ouvido para separar, no controle ‘balance’, os sons que o público vai ouvir nos auto-falantes e o metrônomo que nos guiará em nossos fones individuais.

Quem escutar o disco de vocês pode até não gostar, mas vai saber que está fora dos padrões de produção local que é feito em sua maioria por bandas que gostam de um rock mais agressivo. Vocês acham que isso pode atrapalhar já que o público local também prefere mais esse estilo mais agressivo?

Não sei se atrapalha. Mas certamente existe algo que nos beneficia: o público potiguar não curte apenas música regional e rock pesado/agressivo. Há, portanto, um enorme vácuo e tentamos preenchê-lo. Além do mais, nosso objetivo não se resume a agradar no âmbito local. Não se trata, simplesmente, de achar nosso “segmento” ou nosso “público alvo”, mas fazer algo que reúna qualidade e emoção dentro do rock, do pop, ou seja lá do que for. Em outras palavras, nos propomos a atingir “pessoas”, sem rótulos específicos.

Como é o processo de composição de vocês?

Lento, difícil, exaustivo, tenso, estressante… Ah, e prazeroso também (sério!). Temos muitos espasmos musicais no estúdio e fora dele. Poderíamos lançar um album só com esqueletos gravados em nossos ensaios. Mas acontece que somos doentes perfeccionistas, então a coisa complica. Algumas idéias são guardadas na adega e outras são mastigadas, processadas, digeridas, até dar uma dor no juízo. Geralmente, eu apresento uma melodia (poucas vezes, com letra), retirada da minha cabeça-player ambulante, e no estúdio desenvolvemos o resto. Mas existem exceções, como ‘Enquanto Vivos’, que começou com Bruno inserindo alguns fragmentos líricos meus em uma melodia, e ‘Dance’, que surgiu de um loop hipnótico de baixo, tocado praticamente por acidente, durante um ensaio. Após a fase inicial, com bateria, baixo, guitarra, melodia vocal e letra pré-definidos, vamos à gravação dos samples de teclados, percussões e programações eletrônicas. Reensaiamos e redefinimos alguns elementos e finalmente, quando terminamos uma música e todo seu arranjo, somos como uma mãe que acabou de passar por um trabalho de parto. Aí é só alegria…

A gravação do EP foi toda produzida por vocês? Fale um pouco sobre o processo.

Sim, somos os responsáveis integrais na produção do EP, artística e financeiramente. Achamos melhor assim. Apesar de os recursos financeiros serem menores, o fato de não ficarmos presos a ninguém, a não ser nós mesmos, é bastante positivo, pelo menos de início. Dispomos de total liberdade para fazer o que queríamos, do modo que queríamos e no tempo em que julgamos estar preparados. “Dance! Dance! Dance!” não foi gravado em um período só. Reunimos duas faixas gravadas em 2007 (O Feto e Enquanto Vivos), no estúdio Trampo, e gravamos em fevereiro deste ano, no Studio R, mais duas faixas (Ofendículos e Dance). Para a gravação de teclados e loops, tivemos um reforço com o pc do nosso amigo “automático”, Henrique Pinto, do qual somos bastante gratos.

Vocês tocaram recentemente com o Bandini e o Domben, duas bandas novas também. O evento foi todo produzido pelas próprias bandas. Esse é o caminho hoje?

Descobrimos que sim. Antes de sentar e chorar, como muitos fazem, devemos observar se estamos fazendo algo por nós mesmos. E realizar um evento de pequeno porte não é difícil. Basta vontade, colaboração e um pouco de ousadia. O Rock No Salão foi efetivamente planejado em apenas uma semana e superou nossas expectativas. Cada banda participou ativamente contribuindo com equipamentos/transporte, divulgação, entre outros elementos importantes. Como resultado, divulgamos nossas bandas, fizemos um público satisfeito e um lucro no nosso bolso. Ora, se não é o caminho (risos)… Muito em breve queremos fazer mais.

Como será o processo de divulgação do EP?

Queremos utilizar de vários meios. Já começamos lançando as músicas no myspace, e o clipe de “Ofendículos” (agradecemos à diretora, Catarina Doolan) no youtube. Filmaremos outro clipe e queremos realizar uma noite de lançamento para o EP, com duas bandas convidadas e otras cosas más… Isso ainda está sendo discutido, mas torcemos e faremos de tudo para que dê certo. Quando as coisas estiverem definidas, e a data estiver próxima, disponibilizaremos o EP para download.

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