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BRUNO NOGUEIRA (PE): BANANADA – SEGUNDO DIA

Talvez o impacto do primeiro dia tivesse ido embora após uma tarde de sono, mas o clima do Bananada e os shows da noite anterior foram tópico tão recorrente que foi inevitável. Acordei às 10h para pegar o finzinho do café da manhã e encontrei os meninos da Sweet Fanny Adams no hall do hotel fazendo check in. Vieram direto de Brasília, nonstop, onde tocaram na noite anterior. Parecido com a Amp, que saíram logo após um show no Recife para se apresentar na abertura do evento, junto ao Macaco Bong e Lucy and the Popsonics na noite anterior. Parece um papo velho, mas vejo poucas bandas com essa disposição de madrugar na estrada, no melhor estilo Quase Famosos, só para estar nesse circuito.

Falando em velho papo, um dos stands da feirinha do Bananada guardava uma solução inteligente para aquela conversa que a gente não cansa de novos formatos de consumo. A Phonobase Music Services apresentava o novo disco do Cérebro Eletrônico em digipack, mas também em um “box cerebral” e “download card”. Um cartão que você vende por R$ 5 (ou, quem sabe, de repente dá para as pessoas) e ela faz o download de 12 músicas com bitrate de 256kbps. Vale a pena. Eles vendem o serviço para outras banda também.

De volta ao teatro

O sábado foi o dia mais lotado de todo o festival. Já bem cedo o público superava a noite anterior, muito certamente na expectativa de ver o show da Mallu Magalhães (SP). Justiça seja feita, ela entra na lista de melhores surpresa da noite ao lado da Gloom (GO), Chimpanzé Club Trio (SP), Do Amor (RJ), além da consagração total de três nomes locais como bandas realmente fodas. O Violins, Black Drawing Chalks e o Diego de Moares e Sindicato.


Gloom (GO) – Foto de Cláudio Cologni

A primeira é o tipo de banda que você nunca imagina que vai encontrar em Goiânia Rock City. Se até Johnny Suxx, o que a cidade conseguiu produzir de mais afetado, é uma grande porrada rocker, é difícil pensar que surgiria lá uma orquestra de metais no melhor estilo “Lulina encontra Móveis Coloniais na casa do Los Hermanos”. A Gloom, num resumo preguiçoso, é algo desse tipo. Uma big band com uma vocalista baixinha e tímida acompanhada por uma marmanjada que faz tipo e dança no palco. É normal numa banda mais nova ainda soar com tantas coisas, mas romper com esse estereotipo da cidade já foi suficiente para marcar pontos com eles.

Bem tranqüilos e presentes em todos os dias do festival, eles garantem que não existe pressão na cidade para soar mais rocker. Niela, que além de vocalista também toca escaleta, até se espantou com a pergunta. Só um aviso: a única música deles no MySpace é completamente diferente do que foi visto no show. E até que invalidaria mesmo o questionamento.


Chimpanzé Club Trio, instrumental de SP – Foto de Cláudio Cologni

Eu acabei trocando muitas idéias com a turma do Chimpanzé Club Trio durante os três dias do festival. Mas garanto que a afinidade nos papos não influenciou nem um centímetro do quanto meu queixo caiu durante a apresentação deles. Inevitável lembrar do Pata do Elefante vendo um trio instrumental que ainda se reveza nos instrumentos. Mas eu remeto as conversas para explicar: é fantástico como tem surgido uma cena instrumental pop que está num patamar de qualidade muito superior a todas as outras bandas independentes. Inclui nessa lista, além das duas citadas, o Macaco Bong e O Garfo (CE) que você entende a equação.


Sweet Fanny Adams – Foto de Cláudio Cologni

Apesar de infelizes por não terem tido condições de armar a tela de fundo do palco como queriam, a Sweet Fanny Adams também fez um dos melhores shows da noite. E já pisou em Goiânia com alguns fãs. Foi impressionante ver uma banda tão nova – e com um EP ainda mais recente – com tanta gente na frente do palco pedindo música e cantando tudo. Coisa da Internet que nem eu, empolgado com a história, ainda consigo entender bem. A banda avança em maturidade em passos acelerados, fazendo jus a nova fama roqueira de Pernambuco.

Quem me conhece sabe que eu sou um tanto chato com um monte de coisa. Nunca escrevi aqui, por exemplo, meia linha sobre a Mallu Magalhães por conta disso. Queria esperar para ver mesmo que isso demorasse. Não queria comprar a idéia só pelo oba inteiro que andavam fazendo. Estava conversando exatamente sobre isso numa área restrita do Bananada quando alguém falou “não pode mais entrar no teatro, tá lotado!”. Todo mundo se levanta, corre, tenta se esguichar pelo povo e garantir um espaço. A vista era impressionante mesmo. Quase umas 900 pessoas ali dentro. Por trás do palco, ela conversava com o pessoal do Identidade como se nem se desse conta do que estava rolando.


Mallu Magalhães – Foto de Cláudio Cologni

O show da Mallu foi bem simples. Ela estava sozinho no palco, de jaqueta jeans, camiseta branca, calça vermelha e tênis All Star. Alternava entre dois violões numa apresentação curta, lidando numa ótima a algazarra do público que não parava de berrar. Quando jogaram um chicleta, ela somente olhou, tirou e seguiu. Quando pediram Vanguart, foi direta “gente, eu não sei tocar Vanguart. Mas eu trouxe umas músicas minhas para mostrar a vocês”. Ela sabia que estavam ali mais pela imagem que pela sua música, mas acreditava que podia reverter isso.

Conseguiu fácil. Voz doce de menina, com as osciladas desafinadas que o folk permite em suas canções, ela começou tímida e terminou num pique de fazer todos dançarem. Num canto do palco, o pai orguloso, no outro, apenas o assistente de produção garantindo que tudo saia sob controle. Ela cantou Johnny Cash, agradeceu e saiu sob aplausos. Sorrindo para todo mundo que encontrava na saída. A sensação que passa, de tanta tranqüilidade, é que se tudo aquilo ali desse errado também estariam numa boa. A falta de pretensão e ambição é tão grande que chega a comover.

Segundo o pai, Dude Magalhães, eles vão esperar o período de férias para gravarem um disco totalmente independente em São Paulo. Ele recusou proposta de literalmente todas as principais gravadoras pelo simples motivos que todas traziam mais exigências que traziam vantagens. E, cá entre nós, ela não precisa mais desse tipo de estrutura, certo? O que poderia conseguir com a ajuda de uma empresa ela já conquistou.


Do Amor – Foto de Cláudio Cologni

De volta ao mundo real, a maratona do Bananada estava longe de terminar. Da minha lista de destaques, sobrou a carioca Do Amor. Talvez mais até que o Curumin, que fez o melhor show, esses caras ainda vão dar muito que falar até o fim do ano. Ficaram com certeza no top 3 do festival com um show empolgante e cheio de malícia.

Não gostei mesmo foi da Abesta (SC), mas confesso que por uma questão muito pessoal. É noise puro, com um teremim em forma de cabeça de boneco como principal instrumento. Barulheira altíssima, sem começo, meio e fim. Mas até nesse ponto, tenho que tirar o chapéu para o Bananada, porque ficou gente colada no palco até terminar. E parece que curtiram.

Amanhã tem a parte final da cobertura. Mas até o fim da semana tem o restante dos vídeos.

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