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ENTREVISTA: PAULO ANDRÉ, PRODUTOR DO ABRIL PRO ROCK

Entrevista com Paulo André, produtor do festival Abril Pro Rock

Por Luciano Matos, Slavador/BA

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– O Abril está copletando 18 anos, queria que falasse qual a proposta do festival esse ano, qual a proposta do festival e quais as novidades?

Paulo André – A proposta de 2010 está sintonizada com a dura realidade do Recife e de PE. Estamos atuando nos gargalos da cidade. Por exemplo, fizemos uma parceria com a Sec. Especial da Juventude e Emprego do Gov. de PE, para realizarmos uma série de capacitações voltadas pros jovens com interesse nesse mercado. Foram 240 vagas com mais de 800 inscritos, sucesso absoluto. Fiquei feliz em ver tanta gente na cidade querendo aprender e entender esse novo mercado da música. Aqui não temos clubs, não temos rádio e não temos mercado. Criamos o APR Club, pelo menos em Abril durante 7 noites, teremos um espaço de médio porte com boa programação, bom som, bom ambiente, sendo uma boa opção de diversão que atualmente não existe na cidade do Recife. Além disso, dobramos a quantidade de bandas na sexta e aumentamos em 50% as bandas do sábado, sendo 5 atrações internacionais nos 2 dias de APR, além das atrações do APR club.

– Antes o festival servia como um celeiro de novidades, especialmente para as gravadoras. Ele perdeu essa função? Quual a função um festival como o Abril tem nos dias de hoje?

Paulo André – Para as gravadoras sim, pro mercado não. Basta dar uma olhada na programação dos ultimos anos e ver a quantidade de bandas novas de todo o Brasil que apresentamos. Desde sempre 70% da programação do APR são de bandas com baixíssimo potencial de público, pelo menos aqui no Recife. A grande função continua sendo fomentar e promover a cena musical local, nordestina e brasileira. Este ano teremos 2 noites do APR club apresentadas pela Radio 3 da BBC de Londres (eleita a radio do ano de 09 no Reino Unido) e 1 noite apresentada pela Radio Antena 3, de Portugal. Estamos mostrando ao Brasil esse interesse das rádios estatais de Portugal e Inglaterra pela nova música brasileira, não deixa de ser um dedo no olho da nossa decadente comunicação pública, aqui em Pernambuco, principalmente da nossa Rádio Universitária, atrasada 30 anos no tempo e no espaço.

– Pelo visto o festival continua apostando em uma noite mais pesada. Queria que você falasse um pouco porque apostar nessa segmentação e quais os destaques dessa noite.

Paulo André -O público do rock mais pesado sempre foi nosso público mais fiel, com as centenas de shows gratuitos no Ciclo Natalino e no nosso Carnaval Pop, o público mais eclético está farto de shows gratuitos, por isso, reduzimos pra 2 dias, cortamos 1 dia mais pop, diverso. Recife se transformou na maior casa de shows gratuitos do Brasil. De Sepultura a Cidadão Instigado, de Fresno a Silvia Machete, além de todas as bandas pernambucanas de pequeno, médio e grande porte, tocaram de graça nos ultimos 5/6 meses aqui. Nenhuma cidade do Brasil tem uma situação destas, o poder público virou o grande contratante, não o mercado privado. A grande distorção é ver bandas dependendo do $ público, muito mais confortável e mais bem pago, do que sair desbravando o pequeno mercado privado existente no Brasil pra bandas novas e artistas promissores. Ninguém paga nem 5 reais pra ver bandas novas aqui. Em Salvador por exemplo, vocês têm várias casas noturnas onde as bandas novas tocam e movimentam a cena, vocês têm rádio, programas etc. Vocês estão muito melhor nesse aspecto.

– Na segunda noite temos um grande apanhado de artistas de diversos estilos, com algumas das principias apostas do cenário independente de hoje. A proposta foi juntar esses nomes? Como vê esses artistas no cenário atual?

Paulo André – Vejo que esse cenário cresceu e evoluiu muito, principalmente pela circulação que os festivais brasileiros oferecem a estes novos artistas, diferente dos anos 90 onde o caminho era o Sul/Sudeste apenas . O mercado brasileiro é bem desafiador e, depende muito da capacidade de circulação dos artistas, o futuro deles. Eu vou fazer uma turnê com DJ Dolores e banda, que vai passar pelos principais festivais de verão do Canadá e pelos EUA. A tour só será viável porque serei o produtor da tour, o vendedor de cds e o motorista da van nos percurssos terrestres, são bandas legais do mundo inteiro pleiteando esse espaço e, precisa ser muito competente e original musicalmente pra entrar neste circuito. Dolores é um artista 100% independente, mas se eu for esperar o mercado brasileiro melhorar, complica. O Abril Pro Rock desde sempre foi um festival diverso, abrangendo desde a cultura popular até o mais extremo heavy metal, desde a música eletrônica brasileira, até atrações internacionais que de outra forma jamais viriam ao Brasil. Diversidade sempre…

– Um mainstream falido e uma cena independente com ótimos nomes, o que acha que falta pra alguns desses artistas do circuito independente darem o pulo do gato e crescerem já que não são mais as gravadoras que faz esse papel?

Paulo André – Não há uma fórmula, há trabalho e muito. Nesse novo formato de mercado, só vai se consolidar quem tiver estratégia, persistencia e vontade de trabalhar. Muita coisa mudou pra melhor, os editais de circulação, as associações do mercado musical, as feiras, os festivais, mas cada um tem que saber pra onde quer ir e onde quer chegar, senão vira um barco sem rumo. Há 5 anos, as bandas do mainstream do rock e pop brasileiro, passavam pelo Recife 4 ou 5 vezes por ano, hoje no máximo 1 ou 2 vezes. O outro lado é que já estamos em 2010 e, a década passada não teve nada de muito expressivo em termos de novos artistas, formando grande público. Isso reflete a nova configuração deste mercado. Ou se sobrevive assim, ou não se consegue circular. Acho que o que todos querem é a circulação da música e do show.

– Como você vê o papel dos festivais no dias de hoje? Quais as maiores dificuldades para se produzir um?

Paulo André – Fundamentais para a cena brasileira. Sou de uma geração que desbravou caminhos, sem um circuito ou calendário de festivais legais em todas as regiões do Brasil. Desbravei não só nacionalmente, mas internacionalmente também. Hoje, pra uma banda boa, existe um cenário muito positivo e pulsante em todo o Brasil, vai depender da vontade de trabalhar e desbravar de cada artista ou banda. O disco já não dá mais $, o desafio é a circulação, pra novos artistas existe um circuito formado e consolidado. Pra um artista com uma sonoridade brasileira, existe um grande mundo a ser desbravado, ainda mais com a comunicação mais fácil via internet. Por outro lado, a concorrência aumentou e muito, porque ficou mais fácil pra bandas do mundo todo também. As dificuldades dependem dos objetivos. Tem gente que cria festival pra ganhar $, nas minhas palestras sempre falo que coloquei o trabalho na frente do $. Se tivesse ido pelo $ apenas, teria parado há 13/15 anos atrás, mas eu enxergava um futuro muito além disso.

– Como os festivais podem contribuir para tornar a carreira de bandas e artistas sustentável e viável?

Paulo André – Com as bandas que produzo, prefiro muito mais tocar em um festival, do que fazer mais um show naquela cidade. Os festivais tem alto poder de promoção de um novo artista, junto ao seu futuro público, dá uma visibilidade muito maior, abrindo caminho pra banda chegar depois na cidade com seu show. Os festivais agregam valor na visibilidade, promoção, circulação e no processo de formação de público. Com as bandas que trabalho, sempre digo, não importa como estamos aqui, importa que estamos aqui. Quanto ganhamos, ou quanto investimos é problema nosso, cada um sabe pra onde e como quer ir. Há pelo menos 10 anos pagamos cachês e ajuda de custos a todas as bandas que passam pelo APR, mas ninguém é obrigado a aceitar. Mas, existe um equívoco de bandas e produtores em achar que os festivais são a hora de pedir um cachê mais alto. Como produtor sempre tento viabilizar um show ou festival importante que nos interesse, deixo pra ganhar um cachê melhor quando tocamos pra prefeituras, governos, SESC, centro culturais de bancos, grandes empresas, etc. Mas, sou radicalmente contra artistas sobreviverem do $ público.

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3 Comments

  1. Na verdade o fato de que um atista faz um show em um festival podera abrir portas melhor do que em qualquer show desses por ai, isso e um fato quantas banda ja começaram a saborear o sucesso depois de tocar em festivais e além do mais festival carrega muito mas publico pela variedade de bandas.Bom quanto você vai pra um show com uma galera pra conhecer novas bandas mas quando maioria de sua galera resolve virar evangelico e você passa a ir sozinho mas mesmo assim vou sem problema.. foi mau tocar nesse assunto que tem nada ver mas tinha que falar msm pq puts !

  2. Acho que é sempre assim, só se coloca a boca no trombone quando se perdem as facilidades.
    O Abril sempre foi patrocinado pelo poder público e com a chegada das esquerdas em Pernambuco, o APR sofreu perdas de subvenção.
    Cuspir no próprio prato é prática comum a todos e ainda sim Paulo continua viajando pelo mundo com grana pública, posso até estar errada.

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