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COLUNA DO BRAGATTO (RJ): "OZZY NO BRASIL: MAIS UM OPORTUNIDADE PARA A REVERÊNCIA AO MAIOR ÍCONE DO HEAVY METAL"

Meus amigos, imaginem que ontem, ao visitar a redação de um afamado jornal aqui do Rio, que no domingo decretou a morte das revistas de música, sofri, de cara, uma saia justa. Nada, contudo, que tenha sido tão duro com este velho colaborador. Explico. Fui perguntado, de supetão, quais músicas Ozzy Osbourne irá tocar no desde já histórico show que fará no Rioarena, dia 3 de abril. Eis que – acreditem – não tinha a resposta, e uma frase que repito à exaustão me martelou a cabeça. O show de rock antecede a si próprio e não se encerra em si mesmo. É, portanto, um encontro com a eternidade. Parecia-me, ali, que estava eu a desmentir uma das minhas mais desgastadas máximas. O referido editor não acreditou em minha negativa e disse que queria ouvir as músicas antigas, no que retruquei que o set list deveria ter umas quatro, cinco do Black Sabbath, e número igual de outras do último disco de Ozzy, o razoável “Black Rain” . E ele foi mais longe: queria porque queria músicas dois primeiros discos solo de Ozzy, no que eu afirmei que “Bark At The Moon” era número certo. Ele, então, insistiu: “Quero ouvir ‘I Don’t Know’”. Eu, de antemão, prometi também Mr.Crowley”. E depois disso a conversa se desenrolou por outro viés, aquele que havia me levado até àquela amigável redação.

A pulga colocada atrás da orelha pelo amigo me levou ao lugar aonde todos vão quando têm alguma dúvida nesse mundo moderno: à frente do computador. Ou, por outra, e mais especificamente, à inefável internet e, por fim ao Google. Não encontrei – ainda – dentro da ferramenta mais cobiçada de todos o tempos, o próprio Ozzy para responder minhas dúvidas, mas tava lá o set list de alguns shows da turnê do álbum “Black Rain”, aparentemente a mesma que acontece no Brasil no início de abril. E, pasmem, meu amigo atirou no que não sabia, e eu vi lá, cravado: “I Don’t Know”. Vi, ainda, para limpar minha barra, o início com a dobradinha “Bark at the Moon” / “Mr. Crowley”, e, fechando tudo, já no bis, “Paranoid”, aquela que certa vez eu próprio elegi, a pedido de uma respeitável publicação especializada, como “a maior música de heavy metal em todos os tempos”. Não é mole, não.

Lembro que no show de 1995, no Metropolitan (hoje Citibank Hall), seguramente um dos melhores shows que já vi em todos os tempos – e olha que não foram poucos -, Ozzy abriu com Paranoid. Eu, ainda fotógrafo, me embananava com abertura de fotômetro versus tempo de exposição, e me preocupava com a seqüência de baldes d’água que o Madman, como de hábito, jogava na platéia, para não molhar meu equipamento. Ainda assim, senti o impacto da música e de tudo o que ela representa. À época, ninguém menos que Geezer Butler, o baixista original do Black Sabbath, fazia parte da banda de Ozzy, e voltei a sentir o peso de uma música, como senti da outra vez em que Butler esteve no Rio, em 1992, no Canecão, com o próprio Sabbath, só que com Dio nos vocais, na turnê do álbum “Dehumanizer”.

Por sorte, passadas as três músicas a que tinha direito para fazer as fotos, de volta ao camarote (naqueles idos era de lá que a imprensa via os shows), descolei um lugar privilegiado. Primeira fila de um dos cubículos de frente, ao lado do charuto fumegante de Ricardo Amaral, proprietário da casa, que mais parecia defumar aquele ambiente notadamente “from hell”. Dali pude ver aquilo que o heavy metal tem de melhor: braços erguidos e punhos fechados em coreografia ensaiada a cada refrão, a cada solo, a cada vez que Ozzy (já) dizia: “louder” ou “I can’t fucking hear you!”. Ou ainda quando, súbito, a platéia sacou um “olê, olê, olê, olê, Ozzê, Ozzê!”. Era dia 6 de setembro, e a madrugada seguinte no baixo Gávea não me impediu que, no feriado, eu escrevesse, de próprio punho (não havia computador em minha casa, ainda), uma pequena resenha para a saudosa Revista Dynamite.

Mas falávamos de set list, de músicas a serem tocadas, de preferências, e, por fim, do show de Ozzy. Na relação de músicas que obtive, constam apenas 13, o que deve resultar em cerca de hora e meia de show. Se considerarmos o tempo de estrada de Ozzy, é pouco tempo para muita música, mas o que acontece é que o Madman completa nada menos que 60 primaveras esse ano, e já há muito tempo tem a saúde debilitada. No início dos anos 90, chegou a ser desenganado pelos médicos, e, no entanto, está aí até hoje. Para muitos sem condição de fazer um show, mas indispensável para ouros tantos.

Não sabemos ao certo como encontraremos Ozzy em 3 de abril, mas quando ele adentra o palco, não é só um senhor idoso e debilitado que surge. Aparece ali toda a carga histórica, da história do rock, do heavy metal e da banda (ou do cara) que mudou – repito – a história do rock. Não é exagero afirmar que o rock se divide em antes e depois do Black Sabbath, e, em última análise, antes e depois de Ozzy. Toda vez que visto uma camiseta e uma calça pretas, sei que faço isso porque Ozzy e o Sabbath fizeram. Sei que não haveria calças de couro e jaquetas jeans surradas não fosse o Sabbath; que as cruzes só começaram a se inverter depois deles; que os riffs de Tony Iommi estão em tudo que é canto no rock desde o Sabbath, de um extremo a outro. Por isso, entre tantos outros motivos, um show de Ozzy é, antes de qualquer outra coisa, uma oportunidade para a reverência ao ícone maior do heavy metal, àquele que carrega a história nas próprias costas. Ao Pai, enfim.

Utilizando o artifício vil de se finalizar um texto citando seu início, volto ao assunto lá de cima par reafirmar o óbvio. A conversa que tive com o amigo editor, e todo esse blá blá blá aqui revelam que o show de Ozzy, dia 3 de abril, no Rioarena, já começou. Ele está antecedendo a si próprio, e não se encerrará em si mesmo. Será, portanto, e mais uma vez, um encontro com a eternidade.

Até a próxima e long live rock’n’roll!!!

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