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COBERTURA: TIM FESTIVAL PRIMEIRO DIA (RJ)

Tim Festival (RJ) – Primeiro Dia

Por Bruno Nogueira – popup.mus.br

Eu curti o esquema novo do Tim Festival. É verdade, parece uma quermesse agora, mas pelo menos todos os shows acontecem em apenas dois palcos (os principais são sempre no mesmo). O lado negativo que percebi é que o público se sente mais idiota pagando vários ingressos super caros para entrar no mesmo lugar. A área de circulação também fica mais vazia, com apenas umas poucas pessoas no começo da noite. Acho ruim um evento tão caro não se prevenir com quiosques que aceitam pagamento em cartão de crédito e, só para constar, a banquinha de lembranças (bolsas, camisas, cadernos, etc), continua um horror de caro. Mas voltando ao assunto principal agora. O festival começou cedo, tipo 20h30 (19h30, no meu relógio pernambucano), com o Antony and the Johnsons no palco volta.

Foi um show bonito, não tem como negar. Mas Antony não me comove. É uma figura tímida, escondida por trás de um piano de cauda, dando tchauzinho como quem tem medo de ser visto. Sei que soa grosseiro, mas em uns poucos momentos parecia até música de motel. O público amou. Talvez meu conflito com o show vem do fato dele estar completamente deslocado. Se fosse num auditório, a experiência com certeza seria completamente diferente. Ali, naquela tenda que indicava que o restante da noite seria de um calor dos infernos, parecia esquisito.

Antony reclamou do som umas poucas vezes. Dizia que era muito estranho para ele estar tocando para um público daquela maneira e que não escutava muito bem o que falava. “É como tocar para um oceano”, falou em comparação. Na parte final do repertório, virou uma mini comoção indie, com bracinhos levantados e coro. Posso não ter curtido o show, mas confesso que ele foi o cara mais gente boa no palco. Parecia que queria descer e ficar no meio do pessoal, confraternizando. Ou talvez isso seja apenas coisa de gente sem amigo.

Minha expectativa para Björk não era muito maior, mas eu estava obviamente enganado. O show dela começou com um coral de sopro formado por mulheres, como naquelas cenas de desenho animado medieval. Não vou me arriscar em dizer o que ela estava vestindo, parecia uma pinha. As músicas do “Volta” são fantásticas ao vivo. Ela abriu com “Earth Intruders” e fiquei pensando que esse show não teria mais clímax, tudo permaneceria nesse incrível grande momento. Enganei-me de novo. Björk – que eu nem curtia tanto até então – é foda de show.

Foi a melhor apresentação da noite. Não apenas pelas macaquices que rolavam no palco, mas pelo geral de catarse que rolou no público. Na segunda metade da noite, tudo virou uma louca rave étnica (?), com o chão tremendo de tanto que a galera dançava. Björk, que tinha entrado meio travadona, também deixou o queixo cair e entrou no clima.

O show do Hot Chip, começando o horário “Novo Rock UK” do palco, tinha de tudo para superar a noite. Mas a banda sofreu do mesmo problema que o Antony e soou um pouco deslocada. A apresentação deles foi foda, mas funcionaria muito melhor num ambiente mais claustrofobico. Numa área que tem zona de circulação, sobra a opção de não dançar para quem está assistindo. E quando eles tocaram “Over and Over”, ficava meio brochante ver gente tão perto do palco só parada olhando para os caras.

Nesse ponto, a Marina da Glória já estava debaixo d’água. A produção descolou umas capinhas de chuva e começou a distribuir gratuitamente entre o público. O boato nos bastidores era de que o palco “Novo Rock BR” seria cancelado porque estava totalmente ensopado. Considerando a hora, os shows comeceriam s 3h da manhã e isso já não era mais tão má idéia. Esses impasses – e uma fila gigantesca – contribuíram também para demorar ainda mais a entrada do Arctic Monkeys.

Essa era a grande noite deles. Curto bastante a banda e peguei de surpresa sabendo cantar todas as músicas, mas o show deles foi um tanto decepcionante. Numa frase: é um show regular de uma banda com boas músicas. Os meninos são paradões no palco, na exceção apenas quando fazem as já famosas poses dos clipes tocando guitarra e batendo cabeça. Bem comportados demais para o gosto de qualquer um. Funcionou bem para eles porque cada música era uma gritaria sem fim. Só depois de muito tempo que eles se deram conta que a voz do público cantando tudo em coro era muito maior que o som que vinha do palco. Alex Turner parou numa determinada hora e riu, falou “vocês estão vendo como eles cantam tudo?” e seguiu.

Nenhuma timidez justifica um show frio – vide o caso acima de Antony. Eles seguiram burocráticos no repertório que apresentaram aos jornalistas antes do show, com uma seleção balanceada entre músicas dos dois discos. Esse poderia ficar conhecido, como Lúcio Ribeiro bem falou, como a noite que o Arctic Monkeys tocou no Brasil, mas a verdade é que sobra muito pouco na memória. A maioria das imagens que chegam na manhã seguinte se confunde com um videoclipe. Um videoclipe bem caro.

E no fim, nem rolou mesmo o último show. O novo rock do Brasil foi por água abaixo.

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