Coberturas

COBERTURA FESTIVAL DOSOL 2008: TRIBUNA DO NORTE (RN)

Por Tadzo França

Apesar de boa parte da Ribeira estar ocupada por um carnaval fora de época, um pequeno trecho – o tal “estreito” – da rua Chile foi demarcado como território do rock n’ roll. A edição 2008 do Festival DoSol fez o habitual e literal barulho para exibir uma parte da cena indie nacional aos ouvidos interessados em rock da cidade; em momentos altos e baixos, a maratona do primeiro dia manteve um pique regular de apresentações, entre nomes inéditos ou já vistos no DoSol e outros festivais.

Ainda com um céu azul de fim de tarde e um público tímido, a “matinê” roqueira foi se desenrolando ágil entre o DoSol e o Armazém Hall. Ainda com pouca gente, o som do imenso Armazém se dispersava e chegava a agredir os tímpanos pouco adaptados ao barulho. No palco menor do DoSol, as bandas se beneficiavam de um clima mais “intimista”. O que foi adequado para umas das primeiras bandas da tarde, o performático Lunares. A afeição explícita ao rock inglês – começaram com versão de “Strawberry fields forever” – figurou ao lado da mise-en-scene do vocalista, bailando com a guitarra entre letras melancólicas. Mas, de Beatles a Coldplay, ainda faltou acertar em algum alvo.

A Rosa de Pedra, banda mais “estranha no ninho” do evento, mais uma vez se impôs pela bem temperada mescla de ritmos regionais e pop. Se as citações de cirandas e catimbós soavam esquisitas ao público jovem de All Star cano alto, logo vinham guitarras altas e funkeadas com uma zabumba marcial para envolver a todos na roda. O lado cênico das Rosas também ajuda na empatia. E cena também é o forte da paraibana Star 61, um dos grandes shows da noite. Com um som bem mais amadurecido e resolvido do que o mostrado no Mada, anos atrás, o grupo provou que afetação, ironia e barulho ainda podem render no rock. O vocalista Flávio André, com sua crista moicana vermelha, calça de lycra e maiô de lantejoulas, sabe dosar bom humor e energia na hora de cantar sobre dores de cotovelo, travestis e profissionais do sexo, em melodias que remetem ao melhor punk inglês dos anos 70, com pitadas de glam e disco music. Em show onde coube até citação à Gretchen, foi catártico encerrar com o hino “I wanna be your dog”, dos Stooges. Arrasou.

O Camarones Orquestra Guitarrística propôs um bailão de rock instrumental, mas, apesar de bem tocado, vai pouco além da batida surf rock/new wave. Já no palco menor, a fanfarrocine electrorock do Barbiekill pôde se soltar à vontade. O grupo, apesar de ainda não ter mostrado nada diferente de seus shows anteriores, estava bem à vontade e fez um show divertido, a ponto de instaurar os primeiros ‘moshs’ da noite. Já o The Sinks, tocando alto e rápido, instigou os primeiros pogos. Momento alto do sábado, já com a casa lotada e o trecho da rua também — em torno de mil pessoas — o show dos cuiabanos Macaco Bong foi uma amostra de toda psicodelia que ainda pode haver entre guitarra, baixo e bateria, numa conjunção quase carnal. O rock instrumental do trio, cheio de tons entre o rock abrasivo e os improvisos jazzísticos, hipnotizou a platéia de forma intensa. A partir daí os shows embarcaram numa sucessão linear de punk/garage/hardcore com poucas variações. O MQN, fanfarrão e pesado, agradou como sempre – aliás, o rotundo cantor virou uma figura onipresente nos shows.

Os Forgotten Boys agradaram aos fãs que sabiam suas músicas de cor e aderiram às rodas de pogo, apesar da pouca variação no som. Seguiu-se o esporro garageiro do Black Drawning Chalks (GO), de instrumental bem resolvido e algumas concessões a melodias. O destaque da noite, a americana The Donnas é um nome que embala adolescentes rockers mais antenados há tempos, mas ainda uma curiosidade desconhecida para a maioria. A vocalista, exibindo curvas bem delineadas e requebros provocantes, tocou os hits que os fãs queriam ouvir, conversou, pulou, e cantou alto. Uma rriot girl cheia de ginga.

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