Erros e acertos nos clipes
Alex de Souza
Ontem foi o segundo dia do festival Curta Natal. Na programação, as mostras Visorama de Diversões Eletrônicas e Convidados, de animação, e a competitiva de Videoclipes. A Visorama, empresa especializada em animações, trouxe também a Natal trabalhos de outras produtoras do Sudeste, como a Nitrocorps, Conseqüência, Seagulls Fly e Das Cinzas Design.Os vídeos exibidos mostram que estamos anos-luz de atraso na área. Tirando animações mais toscas, como o humor cretino dos vídeos Peso Morto, as produções apresentadas (clipes, aberturas ou vinhetas publicitárias) primavam pela exuberância visual.
Entre as animações convidadas, boas surpresas. As deficiências técnicas foram supridas com criatividade e bom humor, como no cearense Muiraquitã, uma fábula ao contrário, inspirada em lendas indígenas e cenários reproduzindo o patrimônio histórico brasileiro.O vídeo baiano Zoovírus mostrou um estranho zoológico, formado por vírus de computador.
A geração internet adorou. Mas alguém que não estivesse por dentro dos mistérios da informática passaria batido.O Menino e o Azul, do Ceará, uniu poesia e animação para contar uma pequena história sobre liberdade. Singelo, mas carecia de um texto melhor.
Na mostra competitiva de clipes locais, alguns fatos chamaram a atenção. O primeiro foi a qualidade do vídeo e som da Casa da Ribeira, que prejudicou e muito a exibição. Isso sem falar no atraso de 40 minutos que espantou boa parte da platéia antes do final das exibições.
A máquina de clipes do Do Sol, a Do sol Image, foi responsável por oito dos 13 clipes mostrados ontem. Se as imagens tinham qualidade, faltaram idéias interessantes na concepção.Quase todos os clipes não conseguiam fugir do esquema bandinha- tocando-fazendo caras-ebocas. Os que possuíam uma produção mais esmerada esbarravam em idéias ruins ou mal produzidas, como no caso do clipe Granizo, do Jane Fonda, mostrando uma crise de namoro, e Sempre Vou Estar por Perto, do Allface, que, pasmem, foi feito usando imagens de um casamento. Tudo a ver com a pieguice da música, mas o efeito terminou sendo cômico, para não dizer trágico. Ridículo mesmo foi O que Passou Passou, com a banda Calibre cantando no meio de bichinhos de pelúcia.
Dos dois trabalhos do selo Solaris, o clipe Take No Notes, do Deadfunnydays, era ruim de escorrer água. Imagens de baixa qualidade, som pior ainda. Calma. Nem tudo foi perdido.
A despeito das más idéias, o trabalho de edição do DoSol é de primeira linha. Muitos cortes e truques para acompanhar o ritmo frenético das bandas do selo. O hit Paralized Out, da banda Automatics, resultou num vídeo envolvente, psicodélico.Falando nisso, viajante mesmo foi vídeo Psicodelia, do Bugs. O diretor Nicolas Gomes conseguiu traduzir bem o clima lisérgico e estranho da música. As surpresas ficaram por conta dw Palarveando, dos Poetas Elétricos, e Pareburo, do Macacco. No primeiro, o diretor Mário Ivo preparou uma atmosfera surreal para traduzir a viagem metalingüística da música, com referências ao Livro de Cabeceira, de Peter Greenaway. Já o diletante Macacco, identidade secreta do dentista Alexandre Gurgel, arrasou ao usar imagens de uma quadrilha estilizada como fundo para suas viagens eletrônicas.
Por mim, um dos três leva os quinhentos contos. Mas, independente disso, fica a impressão de que nosso audiovisual deu um importante passo frente, empurrando pela batida da música.
O festival dá um tempo hoje para a apresentação de Simona Talma, s21h, no Cosern Musical.