O texto abaixo é do produtor carioca Arthur Moura retirado da sessão “Publique-se”. Leiam a confiram.
Venda sua arte
Há 20, 30 anos atrás os artistas tinham um enorme problema para vender sua música, cativar um público e se tornar “comercializável”. Estes ficavam nas mãos das grandes gravadoras que dominavam o mercado fonográfico. Não existiam selos independentes, homestudios nem muita menos a Internet. Hoje, apesar do advento dessa enorme rede de contatos, o artista muitas vezes não sabe nem por onde começar. Dificuldades que se foram com o tempo ganharam uma nova roupagem a serem superadas.
A indústria se tornou mais versátil, mas nem todos ainda conseguiram enxergar essa versatilidade e aliá-la com suas propostas. Há mercado para todos, do popular ao extremo experimentalismo. Ouvimos dizer que músico vive é de shows, pois ganhar dinheiro com a venda de cds é muito difícil, e quando o assunto é ganhar dinheiro na Internet a imagem negativa da rede é a maior vilã da história. Não é de se assustar, pois a Internet apesar de ter um significativo aumento no número de usuários a cada ano que se passa, ainda é uma ferramenta nova e nem todos a tem realmente como uma verdadeira ferramenta que aliada ao trabalho pode ser motivo de grandes avanços nessa conquista.
Observam-se experiências feitas, como o caso da banda Radiohad, que rompeu o contrato com a gravadora e decidiu seguir carreira independente. Agora lançam seus discos no site oficial onde disponibilizam o álbum completo. Lá tem opção que o fã pode pagar ou não qualquer valor para ter acesso a obra. Grande parte dos downloads realizados teve uma forma significativa de pagamento, mostrando que o público se sensibilizou com essa atitude.
Existem outros exemplos, como alguns grupos de música experimental da Alemanha que decidiram fazer uma espécie de mapeamento dos fãs que acompanham a banda através de um site de cadastramento. Com isso descobriram que mesmo tendo um público relativamente pequeno, estes fãs sempre vão existir e dar apoio, sendo indo aos shows, comprando discos e até financiando novos projetos do grupo, impedindo a extinção do mesmo.
Isso mostra algumas estratégias tomadas para se tentar reverter à crise atual, e até mesmo criar condições de sustento para o artista. Não existe uma fórmula mágica para se ter êxito nesse mercado, mas somente analisando a Internet como um fator aliado chega-se a infinitas possibilidades de se obter um bom resultado. A grande questão é: como usar bem essas ferramentas, como a Internet, o homestudio, os selos?
Muito se diz sobre a popularização dos homestudios, que se tornam cada vez mais baratos e acessíveis. Mas sabemos que apesar do surgimento de inúmeros equipamentos, dos preços e condições de pagamento estarem sempre se adaptando ao bolso do consumidor, esse barateamento ainda não é o suficiente para ser um fator que todos possam de fato tê-los em suas residências.
O acesso a um estúdio caseiro dá uma liberdade infinita quando o assunto é produção. O artista passa a ter uma espécie de laboratório, onde nascerão as obras. É como para um pintor ter o seu atelier. Diversos programas também surgiram para facilitar esse contato do músico com as técnicas de gravação, mixagem e masterização, tornando possível assim uma maior intimidade com todo o processo de criação.
Os selos, por sua vez, se tornaram um grande atrativo para o arista. É bom observar que cada selo oferece uma determinada função no mercado. Existem os que têm seu foco voltado para distribuição, outros para produção e alguns que não servem para nada também. Ter um selo é algo que pode ajudar o artista a ter resultados mais concretos, como uma boa produção do disco, a distribuição do mesmo, mais contatos e mais shows, divulgação na mídia, etc.
Tudo isso mostra que para se chegar a um nível aceitável no mercado, o músico precisa passar por várias fases que faz com que suas obras de fato estejam prontas a serem vinculadas para o consumo do público. Por isso há uma grande necessidade da valorização de todo esse processo produtivo, onde observamos que não basta simplesmente chegar num estúdio, gravar e “jogar” na Internet sem compromisso algum o material produzido. Pelo contrário, há todo um investimento, seja de caráter financeiro, espiritual, tecnológico, que faz da música e toda expressão artística um bem a ser preservado e valorizado. E para que esse ciclo não morra, é preciso que a comercialização da arte através da Internet seja algo de fato a ser consolidado e entendido como uma necessidade por todos aqueles, seja o público consumidor ou os que produzem, que desejam ter essa rede de contatos como aliada.
A comercialização por essa via é consideravelmente mais barata e acessível que a atual venda que as grandes empresas dominadoras do mercado fonográfico impõem ao consumidor. Talvez more aí o alimento para outra indústria: a pirataria. Por isso devemos repensar em como viabilizar uma maior versatilidade nessa nova era, pois se a arte morrer aqui, a próxima não haverá.