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RESENHAS FESTIVAL DOSOL – RECIFEROCK!

Cobertura: Festival DoSol 2007 (Natal)

É costume dos festivais convidar jornalistas de fora para cobrir o evento e, assim, ele ter uma repercussão em outros estados. Este ano, pela falta de patrocínios (explico depois), o festival DoSol só teve de presença externa a equipe da Trama Virtual, eu e Guilherme Moura. Como acompanhamos o nascimento da história, fizemos questão de pagar nossas passagens e conferir os três dias de rock, com 47 bandas, na maratona aberta por Anderson Foca. E quem não foi de folgado, esperando a mordomia de um convite, aviso logo: perdeu o começo de uma revolução.

Não precisa ser um acompanhante assíduo dos festivais para entender que os tempos mudaram. A maneira como ouvimos música, como possuímos a música, distribuímos e até fazemos, hoje, não é a mesma de 10 anos atrás. Nada mais justo que outros elementos, como a imprensa e os festivais, também sintam essa necessidade de mudar. O público de todos os festivais diminuiu fortemente nos últimos cinco anos e o DoSol importou de Goiânia um modelo de evento que pode funcionar muito bem no Nordeste.

Esqueça o palcão e gente até onde a vista alcança. Isso agora é terreno das baladas, daquelas pessoas que vão para caça e ao abate da noite, sem dar a mínima para quem está tocando. O DoSol aconteceu em duas casas vizinhas, numa área fechada de circulação das pessoas. Então era possível ficar sentado tomando uma cerveja ao lado do Cachorro Grande, do Moptop, Rock Rocket, Matanza. Até do Barba, que era dos Los Hermanos e agora está tocando no Jason. Confraternização e a sensação de que todos estão juntos na mesma história. Sai ai, também, aquela figura de ídolo inatingível da música.

Comentar os 47 shows sozinho é uma tarefa impossível para mim. Perdi um monte para conseguir descansar, já que o ritmo lá era frenético. Antes de um acabar, já começava o outro. Vou então destacar os que me chamaram atenção. Ah, e não vou falar de headliners, porque todos os shows foram vitórias de goleadas. Gente pra cacete, dando mosh, fazendo roda, dançando, lotando a casa inteira. Se você chegou aqui e não sabe como é um show do Matanza, então volta nos arquivos ai. 😛

Na sexta, um acidente com 16 carros – sério mesmo – fez a gente se atrasar um bocado para chegar em Natal. Perdi o Motherhell (PB) e Monophone (CE), que queria ter visto. Pode parecer média, mas juro que não é. O melhor show das estreantes foi a banda do próprio Anderson Foca, chamada The Sinks. Eles fazem um cruzamento entre Bad Religion e Foo Fighters, puxando para o lado do punk rock, com letras em inglês. A banda mal existe e já tinha gente cantando as músicas.

Este foi a noite das bandas de Pernambuco também. Vamoz! e Volver tocaram em palcos diferentes. A Volver adiantou algumas das músicas do vindouro segundo disco numa apresentação mais morna. Já tinham uns seis meses que a banda havia parado e acho que isso acabou prejudicando. Uma figura lá disse que viajou seis horas só para ver a banda, já que nunca mais havia visto um show deles.

O show da Vamoz! foi mais para cima. Já vi a banda tocar para 10 e para mais de 3 mil pessoas e a instigação deles no palco não muda. Chegaram num nível de profissionalismo, com uma presença tão boa de palco, que parecem estar anos luz de muitas outras bandas que fazem o mesmo tipo de som. Apesar da instigação, parece que a mesa de som não conseguiu acompanhar muito bem uma banda sem baixo.

SEGUNDO DIA
O sábado, surpresa para mim, foi o dia mais morno. Achei que seria o mais movimentado. Acompanho a música de algumas bandas menores de Natal há alguns anos já. No começo, parecia ter uma fixação pelo hardcore da Califórnia nas referencias. A boa notícia do dia é que parece que alguém abriu a janela da cidade e novas referências estão entrando. Fliperama e Arquivo começam a mudar um pouco do som e aparecem como destaques locais na noite. Elas agora tem muito da escola do rock simples, com guitarras e baixos preocupados em arrancar riffs.

Foram bons também os shows do Red Run (CE) e Stellabella (RJ). A primeira é de hard rock e tem uma preocupação legal com a presença no palco. A segunda já é mais madura, tocam um rock quase pop, não fosse por um cover do Nirvana já no final. O vocalista é a cara do Kurt Cobain, o que deixou a experiência meio assustadora. O Rockefellers, de Goiânia, ganhou disparado o melhor da noite. Na linha do Matanza, são múscas para beber e brigar. Catem eles no Youtube, que verão que o negócio promete.

Jane Fonda merece um parágrafo. Banda local, que mistura um monte de referencias, com o new metal sendo a mais forte. Desenvolveram algum tipo de plano para contaminar a água local, porque a o público é simplesmente obcecado por eles. Cantam todas as músicas e fizeram o momento com maior quantidade de público.

A seqüência final dos shows teria sido insana, não fosse o show do Supergalo. Lucy & the Popsonics, Honkers (principalmente) e Zefirina Bomba literalmente destruíram por onde passaram. Encerrando com um show do Rock Rocket, vocês imaginam a loucura…

TERCEIRO DIA
O domingo foi o dia mais lotado do DoSol. A galera chegava já às 15h, em bandos, para não perder nenhum show. Matt Weston, do Nation Blue, me diria mais tarde que essa foi a maior surpresa dele no Brasil. Na sua casa, a Austrália, todo mundo só chega no fim da noite para ver a atração principal. O esquema era um palco com hardcore, outro com metal. E entrar para assistir algum show exigia coragem, porque a roda de pogo não conhecia limites.

Hugo Montarroyos já se rasgou de amores aqui pela Ravanes, então não vou chover no molhado. Foi o primeiro show a chamar atenção, com um heavy metal começando a ceder espaço para o hardcore. Tipo Ratos de Porão ao contrário. O cara reconheceu Guilherme, que estava tirando fotos, e agradeceu a presença do RecifeRock! em Natal. O outro nome local que vale destaque é o Drunk Driver. Rock bem cru, que só me fazia pensar em Black Flag. O som ainda é muito sujo, o que deixou o show meio confuso.

Apesar da catarse no show do Matanza, essa foi a noite do Jason. O show foi perfeito, só com hits dos 10 anos de carreira do grupo. Os caras são, indiretamente, responsáveis por toda essa avalanche de bandas novas de hardcore. O novo vocalista consegue criar um elo com o público que é espantoso. Parece que estão trocando dezenas de mensagens subliminares a cada segundo. Acabaram ofuscando um pouco do próprio convidado que trouxeram, a australiana Nation Blue. Essa acabou fazendo um bom show, mais pouco memorável.

 

 

 

 

 

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