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RESENHA – PRÉVIA DO FESTIVAL DOSOL NO ROCKPOTIGUAR.COM.BR

Prévia do Festival DoSol – Banda Antes

O enorme logo da MTV colocado em frente ao DoSol Rock Bar funciona, na hora da saída, como um grande cartaz de ?Eu não disse??, deixando pra trás toda e qualquer dúvida que a presença da tv paulista inspira. O troço é enorme, vermelho, feito de lona e cheio de ar. Umas cervejas a mais e eu o teria abraçado.

O motivo de tamanha gratidão, na realidade, se deve a um pequeno grupo de pessoas que teve a brilhante idéia (sem ironia alguma) de juntar seis das melhores bandas em atividade no mercado independente brasileiro e enfiá-las num ônibus. Sob a batuta da turnê MTV Banda Antes, Rock Rocket, Daniel Belleza & Os Corações em Fúria, Vanguart, Zefirina Bomba, Faichecleres e Ecos Falsos saíram de São Paulo no último 18 de julho e até 07 de agosto vão cruzar o Nordeste e o Centro-Oeste, acompanhados de uma equipe de reportagem da MTV. O registro da turnê vai virar um especial com seis episódios a ir ao ar em agosto ou setembro.

Mas quem for assistir pela televisão sem ter comparecido ao menos uma noite dessa turnê, vai estar se enganando com o mais miserável dos placebos. Natal recebeu essa saudável família no dia 23/07 (mais a potiguar Allface) no DoSol Rock Bar, servindo de prévia para o Festival DoSol, que rola em três noites de agosto.

O público bom e quase heterogêneo, aguardava do lado de fora, discutindo qual seria o melhor show da noite e tirando fotos com o logo da MTV. Aposta de muita gente, os paulistas do Rock Rocket foram os primeiros a tocar. Bastou o primeiro acorde da guitarra de Noel soar pra o povo ser empurrado pra dentro do DoSol. Daí pra frente, o que se via eram cabeças batendo, latinhas sendo entornadas e pés descontrolados. O RR não poupou o fôlego de ninguém e quase não fez pausa entre as músicas, que já são clássicas indiscutíveis do rock feito neste país. E tome ?Lili (Francesinha Ordinária)?, ?Aline?, ?Cerveja Barata?, ?Puro Amor em Alto Mar? e o hino ?Por Um Rock?n Roll Mais Alcoólatra e Inconseqüente?. Show curto, porém memorável.

Pausa para se encostar na parede e tomar uma água. Ou cerveja mesmo, tanto faz. É preciso se preparar para o próximo show que, antes mesmo de começar, já provoca comoção no público que quer garantir um lugar bom na frente, ou entrar no camarim a todo custo. Quando os primeiros integrantes pisam no palco, a platéia chama pelo vocalista. Mais parece que é um gladiador que vai entrar em cena. Nada disso: é ninguém menos que Daniel Belleza & Os Corações em Fúria. ?No MADA a casa quase veio abaixo. Vamos derrubar de vez hoje!?, gritou o vocalista antes da banda engatar com ?Babe?. E de fato, a casa veio abaixo. Num lugar pequeno, Daniel pôde fazer uma apresentação mais intensa. Mais perto do público, ajoelhava-se na beira do palco e se deixava tocar pelo povo da primeira fila. Momentos de maior catarse glam: a já citada ?Babe?, ?Aonde Estão As Flores Da Sua Cabeça??, ?A caixa?, e, indiscutivelmente, ? A Vaca (I?ll Be A Cow For You)?. O baixista Rangel, talvez tão popular quanto o frontman, enquanto cuidava (muito bem) das notas graves, ainda arrancava gritos ensandecidos da platéia. Depois do show, foi mais assediado que o próprio Daniel.

Quem pegou o rojão de tocar logo depois dessa maluquice toda foram os locais do Allface. Talvez por conta do cansaço do público, fizeram uma apresentação de resposta morna. Mesmo assim, mandaram sons já conhecidos como ?Baque Forte? e ?Sempre Vou Estar Por Perto?, cantadas pelos fãs da banda presentes no local. O show serviu mais pra pontuar as coisas e fazer uma ponte para a segunda parte da noite.

O Ecos Falsos, ilustre desconhecido da noite, entrou na sequência e ainda pegou o público apático. O combo noise de três guitarras com o volume topado e os discursos ininteligíveis do vocalista (que pensava estar em João Pessoa, data anterior da turnê), também não ajudaram a ganhar a simpatia do público. O quinteto paulista, auto intitulado ?a melhor boyband do mundo?, já andou arrancando elogios rasgados de Tom Zé, mas passou longe dos bons momentos dos seus discos de estúdio (como os do EP A Última Palavra em Fashion). No palco do DoSol, fizeram um show meio atravessado e cansativo.

Com muito mais consistência, o Vanguart veio em seguida. Um dos shows mais esperados da noite, entraram praticamente com o jogo ganho e, mesmo cantando quase tudo em inglês e praticando um som um tanto quanto alienígena por essas bandas, emocionaram mesmo quem não estava entendendo muita coisa. Folk Rock bem tocado, por uma banda carismática e competente até demais. O vocalista Hélio, mesmo escondido atrás de um violão, não pára um segundo, interpretando com emoção as letras um tanto beatniks das canções. Quando empunhou a gaita em ?Last Express Blues?, quase matou muita gente do coração e arrepiou umas outras tantas (inclusive este escriba). ?Semáforo?, hit da banda, pôs todo mundo pra cantar junto no refrão e gritar junto com Hélio: ?Todos os meus amigos, todos os meus amigos querem… morrer!!!?. E teve gente que quis mesmo, quando os integrantes do Rock Rocket e dos Corações em Fúria subiram ao palco para uma rápida jam session, mezzo country/mezzo glam, com direito uma declaração apaixonada e beijinho carinhoso de Daniel Belleza: ?Vanguart é a maior banda do mundo!?, disse o careca. É quase isso.

Depois de tamanha felicidade, a coisa só tinha como melhorar: Zefirina Bomba, a banda de ?viola noise? que faltou chamada na segunda noite do MADA viria para se redimir num show arrebatador. Teria sido catártico, visceral, destruidor, matador. Teria, se não fossem os problemas técnicos que atingiram a banda logo no início do show. Aí, foi um verdadeiro corre-corre entre os roadies e os integrantes das outras bandas em socorro ao Zefirina. Uma corda quebrada da viola de Ilsom, um cover de ?Aneurism? (do Nirvana) outro de ?Day Tripper? (dos Beatles, dedicada uma garota da platéia que vestia uma camiseta da banda), o baterista do Rock Rocket, a equipe da MTV e o guitarrista do Ecos Falsos dando uma força nos vocais e emprestando sua guitarra depois – foram só algumas das peripécias que rolaram em cima do palco. No final, um pedido de desculpas pelos imprevistos e a esperança de que, na próxima, tudo dê mais certo.

Se o Zefirina Bomba não botou fogo no lugar, pelo menos não esgotou os presentes que ainda restavam no local para o momento mais dançante da noite. Se alguma estrutura óssea se manteve parada durante o show dos Faichecleres, só podia estar morta e enterrada. O trio de Curitiba mandou um som mod/sixties/garage?n roll perfeito, com o baixista Giovani dividindo os vocais com o guitarrista Marcos. Um show parte é o baterista Tuba, sem dúvida um dos melhores em atividade no país. Alucinado, no melhor estilo Keith Moon encontra John Boham, Tuba mostra a língua, berra, roda a baqueta e quase destrói o kit. Sentado no banquinho, tem mais presença de palco que os outros dois que estão na frente. E quem estava pela beira do palco, dançou, cantou e rodopiou ao som de ?Metida Demais?, ?Santa Rock?n roll?, ?Ela Só Quer Me Ter?, ?Casalzinho Pegando Fogo?, ?Aninha Sem Tesão? e outras.

A festa terminou com uma jam final, com integrantes de todas as bandas, mandando covers de clássicos como ?Paranoid?, ?The KKK Took My Baby Away? e ?I Wanna Be Your Dog?. Tudo isso tocado de forma bêbada, festiva e descompromissada, por quase vinte malucos em cima de um palco, agora já minúsculo. A noite, resumida em uma palavra: histórica. E ainda houve quem duvidasse… pra esses, a solução é abraçar o logo da MTV mais próximo, com urgência.

Por Alexix Peixoto

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