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RESENHA DE DISCO: THE FEITOS – NA CABEÇA DA CHORONA

Na ativa há cerca de quatro anos, vitimado pela crise da indústria fonográfica, o The Feitos batalhou um bocado para chegar ao primeiro álbum, e acabou optando pelo formato SMD. O disco vem encartado numa mini revista pôster e sai pelo módico preço de R$ 5, estampado na própria caixinha do CD, em papelão como os antigos vinis. Com tanto tempo de estrada o disco acabou reunindo uma espécie de “best of” dos shows do grupo, incluindo “hit indie” “Disco do Roberto”, sucesso nas pistas de dança das casas noturnas alternativas do Rio de Janeiro.

Para entender o The Feitos é preciso voltar um pouco no tempo e lançar um olhar no Little Quail, banda do início os anos 1990 liderada por Gabriel Thomaz (hoje no Autoramas) que misturava rock dos anos 50 e 60, bom humor e jovem guarda – de onde vem a referência à Roberto Carlos, presente já no título da principal música do The Feitos. Sem Little Quail não seria possível o The Feitos, que re-atualiza o rock pra cima e divertido neste disco de estréia, adicionando uma generosa dose de esporro suja e deliberada. Mais do que nos shows, as músicas têm uma distorção quase descabida, fortalecida pelos vocais toscamente desafinados de Ramon Ribeiro e por uma equalização feita quase nas coxas, se não fosse proposital. Tudo contribui, no entanto, para a estética divertida – sem ser engraçadinho – sobre aquele mesmo rock’n’roll à jovem guarda do pioneiro Little Quail. Achados como “Eu Perdi o Amor Pelos Meus Dentes” e “Gente Feiosa”, com um reforço de teremin do baterista Andrei Duarte, realçam o que o trio tem de melhor.

Casos de amor adolescentes são o principal assunto das letras, todas de autoria do vocalista/guitarrista Ramon. Por mais sofridos, os temas têm sempre certa dose de cinismo que desafiam o ouvinte a ficar incólume a tal ponto de vista. Ë o caso, por exemplo, do drama vivido pelo protagonista paranóico com a fidelidade da parceira em “Mulher Infiel”, ou de “Eu Perdi o amor Pelos Meus Dentes”, onde, ao contrário, o jovem apanha feliz do namorado de uma pretendente. Há espaço para deboches com o hard rock, na impagável “Eu Quero Ser Poser”, e autozombaria, caso de “Gente Feiosa” e “Feios Mas Felizes”, que até pode sintetizar “Na Cabeça da Chorona”: feio, sim, mas feliz e muito legal.

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