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RESENHA DE DISCO: MOPTOP – COMO SE COMPORTAR

Talvez o amadurecimento não devesse ser um tema tão recorrente ao se falar de segundos discos. Fico pensando o quanto já não me repeti puxando o assunto por esse mesmo gancho. E agora, ouvindo o segundo disco do Moptop pela sei lá quantas vezes, me pergunto se não devia mudar isso em favor de uma banda que mudou tanto em tão pouco tempo. Pelo menos para o ouvido mais distante. Afinal, falar de “Como se comportar”, que sai pela Universal, é esbarrar no fato de que essa deve ter sido a banda que mais acompanhei nos últimos quatros anos.

Estou ouvindo essas músicas desde a primeira demo, quando ainda se chamavam Delux, a uma turnê inteira que acompanhei eles na van pelo Nordeste. E esse amadurecimento me parece ser algo tão natural que parece extremamente mais irrelevante. Ironicamente, o nome dado ao disco acabou se transformando na minha maior dúvida agora. Como me comportar? Está claro que essa é outra banda e que essa é uma informação que vai fazer diferença para quem escutar mais por acaso, o tal ouvinte potencial.

Talvez o Moptop tenha se tornado a banda que deveria ser desde o primeiro disco. Com menos guitarras distorcidas e com um rock mais limpo, onde a voz de Gabriel surge surpreendentemente sem efeitos. São pelo menos três mudanças fundamentais que dão o primeiro impacto em “Aonde quer chegar?”. Baladinha mais lenta, que mostra exatamente o que se passava nos shows mais recentes do quarteto carioca. É fácil de perceber que essa e “Contramão”, que vem em sequência, vão ganhar versões mais aceleradas ao vivo.

Se precisasse ser resumida numa única música, essa nova fase da banda poderia ser traduzida na canção que dá nome ao disco. Ela faz a ponte entre o primeiro e esse disco. É também a que consegue situar o Moptop como integrante inquestionável do panteão do novo rock carioca. E, talvez ela sozinha, consiga funcionar melhor que o disco inteiro para compreender em que momento eles se encontram agora. Se fosse um single, trabalhado com mais tempo, talvez até desse mais relevância a nova etapa.

Isto porque, passada a trilogia das primeiras impressões (uma balada, uma mais rock e outra no meio termo), o disco perde um pouco do rumo. “Desapego” soa tão desnecessária quanto “Bom par” e “Adeus”, que era bem mais rápida e pegajosa na época do primeiro EP do Moptop. Tentar manter esse equilíbrio entre algo mais pop acaba prejudicando também “Eu avisei”, que entraria fácil nas melhores do repertório. O caminho que eles pretendem seguir é claro, mas dialoga com outro público totalmente diferente.

Nos melhores momentos estão “História pra contar”, daquelas que viciam e “Bonanza”. Ambas figuram como um último suspiro que eles deixam no caminho. Se a mudança não der certo – e vamos torcer aqui para não dar – é o caminho para trilhar a volta a uma banda mais rock. O dilema é bobo, claro, afinal eles seguem rumo a uma banda com muito mais capacidade de aceitação (e fazendo boas músicas, que é o que importa), em troca de alguns poucos fãs que nunca chegaram a dialogar tanto com a crescente de público jovem que eles conquistaram nesse processo.

Talvez seja o próprio dilema da música pop resumida num estudo de caso. Como se comportar, afinal, se aqueles mais próximos nem sempre são aonde se quer chegar? Seguir na contramão e praticar o desapego talvez seja um caminho mais lúcido. O trocadilho com as músicas é super brega, eu sei, mas vai dizer que não funciona nesse caso?

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