Por Luciano Matos (BA) – elcabong
A Som Livre é a maior gravadora brasileira, ficando atrás apenas das Majors. Pertencente a rede Globo e famosa pelas trilhas de novela, a gravadora vem se despontando por reabrir seu rico catálogo de música brasileira. Nos últimos meses relançou caixas de CDs e mais recentemente soltou uma coleção de rock, que se não é com material de seu catálogo, o que mais valioso tem nos CDs são as preciosidades raras de se achar. Trata-se da coletânea “Clássicos Multishow”, que como o nome já diz é uma parceria com o canal de tv fechado. São seis discos, três com nomes nacionas e outros três com nomes internacionais, dois para cada década, 70, 80 e 90. Sendo assim, os anos 70 é revivido numa coletânea nacional e outra internacional e assim sucessivamente. A idéia é bacana e com seleção e textos de apresentação do editor da Bizz Ricardo Alexandre. Até que vale a pena, especialmente a série dos anos 70. Isso porque o restante não é tão difícil de se encontrar.
O CD nacional dos anos 70 é mesmo a maior preciosidade da coleção. Não é toda hora que se tem acesso fácil assim a uma das partes do rock brasileiro mais esquecido e desprezado. Além de alguns dos principais nomes do gênero no período no Brasil, como Raul Seixas (que aparece com “Como Vovó já Dizia”), Secos & Molhados (com “Assim Assado”) e Mutantes (”O Contrário de Nada é Nada”). Assim como os Mutantes nessa época. já sem Arnaldo e Rita, boa parte das bandas presentes faziam um som calcado no rock progressivo. Entre esses estão O Terço; Vimana (que tinha na formação Ritchie, Lulu Santos e Lobão); Casa das Máquinas (que flertou também com o hard rock) e que aqui aparece com uma das boas canções da coletânea, “Vou Morar no Ar”; A Bolha (banda que voltou recentemente para gravar um disco que não haviam terminado nos anos 70); Som Imaginário (banda que revelou Wagner Tiso e que aqui aparece numa música de Lô Borges, Beto Guedes e Fernando Brant, “Feira Moderna”); A Barca do Sol (que tinha entre seus integrantes Jacques Morelebaum, ele mesmo, o responsável pelos violoncelos nos discos de Caetano pré-”Cê”), os gaúchos do Bixo da Seda e, finalmente, Moto Perpétuo, que revelou um tal de Guilherme Arantes. Um dos maiores destaques é o grupo Peso, com a música “Cabeça Feita” tirada do único álbum da banda e que é uma semi-raridade. Tem também o rock humor do Joelho de Porco, o rock rural de Sá e Guarabyra e o estranho ness emeio Sidney Miller, um cantor e compositor mais ligado aos primórdios a MPB e a uma linha mais tradicional da mesma. Na coletânea há espaço ainda para o perfil mais rock de Alceu Valença, pouco conhecido, mas de muito valor. Aqui ele aparece com a música “Sol e Chuva”, tirada de seu disco “Vivo”, um clássico do início da carreira do pernambucano, que, inclusive, a própria Som Livre teve o cuidado de soltar em CD em uma das caixas lançadas recentemente.
No CD internacional uma mistura total com folk (”American Pie”, de Don McLean), New Wave (”Heart of Glass”, do Blondie), disco (!) (Hot Chocolate com “You Sexy Thing”), soft rock (Pilot com “Magic”), o vocalista do The Zombies, Colin Blunstone, além de progressivo, hard rock etc. Alguns nomes fundamentais da história do rock estão lá, em suas melhores fases, como Santana (”Black Magic Woman”), Jethro Tull (”Aqualung”), Lynyrd Skynyrd (”Sweet Home Alabama”), Van Halen (com a cover de “You Realy Got me” do Kinks), Kiss (com a clássica “Rock’n’Roll All Nite”), além de Deep Purple com “Highway Star”, Rush, Scorpions e The Beach Boys (que vale mais pela sua fase das décadas anteriores) Mas não é nos anos 70 que tem o Punk? Cadê The Clash? Sex Pistols? Ramones?
A parte nacional dos anos 80 não foge do óbvio, com aqueles mesmos nomes de sempre, que são os nomes representativos da epóca, pelo menos comercialmente falando. Mistura nomes que sobreviveram, sons da moda do período e gente que nunca mereceu muito, mas chegou a se destacar. Estão lá Paralamas do Sucesso, Titãs, Barão Vermelho, Blitz, Kid Abelha, RPM, Biquini Cavadão, Capital Inicial, Ultraje a Rigor, Camisa de Vênus, Leoni, Cazuza, Engenheiros do Hawaii e Léo Jaime. Entre as ausências, além do Legião Urbana, Plebe Rude, Inocentes e Ira, nomes mais desconhecidos, mas nem por isso sem importância, como Fellini, De Falla, Picassos Falsos, entre outros. Na coletânea dos anos 80 internacional uma seleção muito boa, mesclando bandas clássicas, nomes de sucessos do período e gente que marcou a época com sucesso únicos. Estão lá The Cure, Siouxsie & The Banshees, Depeche Mode, The Smiths, Tears For Fears, Echo & The Bunnymen ao lado de Billy Idol, Oingo Boingo, Simple Minds, The Mission, Culture Club e bandas de um sucesso, com oa bacana Talk Talk com a linda “It’s my Life”, os esquecíveis Fine Young Canibals com “She Drives me Crazy” e a inesquecível “Don’t Dream It’s Over”, do Crowed House.
Nos CDs mais atuais, dos anos 90, uma mescla com coisas fundamentais, como Raimundos, Planet Hemp, os pernambucanos de Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, Pato Fu e até os baianos da Penélope, com coisas que marcaram, mas não precisavam nos lembrar, como Charlie Brown Jr., Jota Quest, Mamonas Assassinas. Tem ainda Capital Inicial, (única que aparece em dois CDs da coeltânea). Engraçado que mesmo sendo uma coletânea de rock paracem lá O Rappa, Gabriel O Pensador e Cidade Negra, como se não existissem outras coisas no estilos para incluir. De fato no mainstream não existia, era o período em que o rock independente ganhou algum holofote, mas forma basicamente estes nomes que ultrapassaram o limite. Mas diante destes nomes poderiam incluir Skank (já que nem tudo é rock mesmo) e nomes como Little Quail, Maria Bacana, Jupiter Maçã, entre outros. A parte internacional mescla também os sons que marcaram a década passada. Hits certeiros do período, bandas que não fizeram mais do que um sucesso, projetos bacanas que surpreenderam fazendo sucesso e bandas que nunca mais chamaram tanta atenção comno naquele período (mesmo algumas tendo até melhorado). Entre os sucessos mais marcantes estão “Unbelievable”, dos garotos do EMF (deve ser uma das músicas mais com a cara do anos 90 ), “Two Princes”, do Spin Doctors, a divertida “Alright” e seu tecladinho inesquecível, do Supergrass, além do Faith no More e a clássica “Epic” e a deliciosa “Lovefool”, do Cardingans. Tem ainda Garbage, Everything But the Girl, além é claro do Brit Pop com Oasis (”Don’t Look Back in Anger”) e Blur (”Charmless Man”), o grunge com Alice in Chains (”Man in the Box”) e Soundgarden (”Loud Love”) e sem Nirvana e Pearl Jam. Para completar tem ainda os hits descartáveis e desnessários do Ugly Kid Joe, 4 Non Blondes e Jesus Jones.
No final é aquela coisa, serve para relembrar alguns sucessos, lamentar algumas coisas que se gostava na época, mas como importância mesmo só os CDs dos anos 70, especialmente o nacional, com material que não se encontra fácil por aí. Funciona para quem nunca se adentrou muito na música fora das rádios e programas de TV.