Por Luciano Matos – El Cabong
Maglore – Veroz
Existem bandas sensacionais, que mudam as coisas ao seu redor, que fazem pequenas ou grandes revoluções, que até influenciam uma geração. Há também aquelas bandas que apenas apresentam uma coleção de composições bem cuidadas, um elenco de canções redondas e precisas. E isso de forma alguma é um demérito. Assim como não é toda hora que surgem artistas com inovações profundas, não é qualquer um que tem a capacidade de formular canções pop bem feitas sem soar um produto pré-fabricado e calculado para agradar dono de gravadora. A banda baiana Maglore é aquele tipo de banda que se não inova nada, mas faz bem o que se propõe a fazer, pelo menos em boa parte das faixas de seu CD de estreia, “Veroz”. O disco reúne 13 músicas com proposta assumidamente pop e pegada roqueira. Músicas simples, sem complicações, bonitas, fáceis de entender, aprender e cantar junto e, assim mesmo, com atenção na produção, a cargo de Jorge Solovera, com arranjos e timbres bem azeitados, e mantendo uma preocupação em não ser superficial e soar bem. É música para tocar nas rádios, sem constranger e sem afastar o público médio. Algo por si só já relevante, ainda mais visto como anda o mainstream brasileiro.
Esse mérito em compor canções pop simples e bonitas a banda parece ter aprendido bem quando fazia covers dos Beatles, afinal foram esses tipos de canções que catapultaram os ingleses ao sucesso mundial, não a revolução sonora que fizeram depois. Evidente que a distância com a banda inglesa é de anos luz, mas o grupo baiano segue a bem linha traçada de criar composições no formato pop adequado. Sem se alongar – das 13 faixas, apenas 3 tem mais de quatro minutos – a Maglore trata de temáticas universais, que dialogam com o ouvinte comum, falando de momentos diversos de relacionamentos, bem como motes mais específicos, como em “Tão Além”, na qual questionam de forma interessante a realidade musical na Bahia. “Veja o som como um outro alguém/ Que esse apartheid musical/ A gente dobra e finge que nunca existiu/… Me disciplinaram tão além/ Que eu esqueci de venerar os carnavais também/ Me trataram com tanto desdém/ Se eu falo estranho mas me entendem então tudo bem”.
Não são em todas as músicas que a Maglore acerta em cheio, mas algumas delas são muito bem finalizadas, com arranjos mais trabalhados e o formato muito mais bem resolvido. É o caso de “Demodé”, que traz um riffzinho bem sacado, seguido de um teclado, resultando numa canção docemente caprichada, com uma das melhores letras do disco: “Quando eu ficar ranzinza/ e não puder mais reverter/ A idade que incomoda/ É um demodê feito pra vender// Vou andar no descompasso/ Dos cinquenta eu não passo/ Não vou ter mais sensatez/ Maldizer vai virar esporte/ Vamos desdenhar da sorte/ Ganhar mais e mais perder// E não vou falar de amor/ De amor/ E não vou guardar rancor nenhum”
Em “Lápis de Carvão” guitarras mais sujas aparecem e mostram uma agressividade que poderia estar presente mais vezes no álbum. É justamente o trabalho das guitarras que chama atenção, remetendo diretamente ao rock feito nos anos 2000, com um diálogo entre riffs e solos que dão um frescor a faixa. Aliadas ao bom refrão e a um Teago soltando a voz, rendem mais uma das boas canções do disco. Outro destaques são “Todos os Amores São Iguais” e “Enquanto Sós”, perfeitas canções grudentas para sair cantando junto. Ao lado de “Lápis de Carvão”, “A Sete Chaves” e “Às Vezes um Clichê”, já apresentadas no EP “Cores do Vento” que a banda havia lançado em 2009.
Assim como grande parte das novas bandas que temperam seu rock-pop com música brasileira, há momentos que a sombra do Los Hermanos aparece. Como em “Pai Mundo”, uma proposta diferente da banda, com um sambinha, falando de final de tarde, mar… poderia estar no disco “4″ dos barbudos. Há momentos não tão inspirados, como “O Mel e o Fel”, “Armadilhas de Papel” e “Despedida” inofensivas e simplórias demais e que mereciam maior burilamento. “Amaria Sonhos Coloridos” quase chega lá, mas fica no meio do caminho.
Há muito a evoluir. Um trabalho de maior apuro em algumas músicas, que podem ganhar mais vibração e, especialmente, uma maturidade maior, com a conquista de mais personalidade e sonoridade própria. Algo até compreensível de não se encontrar no primeiro disco. Assim mesmo, é o tipo de resultado que faria muito bem às rádios. Vai revolucionar algo? Com esse disco, pelo menos, não. Não há nada de novo ali, apenas um punhado de canções com início, meio e fim, com bons refrões e uma pegada rock bem dosada. Uma banda correta, que não brilha, mas cumpre bem seu papel. Léo Brandão (teclado e guitarras), Nery Leal (baixo) e Igor Andrade (bateria) sustentam bem as canções para Teago Oliveira, que se revela um compositor e vocalista bastante talentoso e mostra que tem um grande potencial. Em “Veroz”, a Maglore se mostra ser como uma banda com grandes possibilidades de evoluir e até almejar uma conquista comercial ampla, algo louvável, diante do medo do sucesso do cenário independente. Se você é do tipo que procura algo inovador, não vai encontrar isso na Maglore. Mas, se procura boas canções para embalar sua rotina, para ouvir de manhã e respirar mais leve durante o dia, pode apostar suas fichas.
Download: Veroz (2011)
Gravadora: Independente
adorei ouvir a banda! justo os comentários feitos!!
mas afinal………………o q importa é a musica conseguir passar pelos ouvidos! abraços e sorte para a galera do “MAGLORE”.
Resenha interessante a sua. Comentários bem dosados sobre o som dos caras. Eles tem tudo pra dar certo, só falta um empurrão da sorte…
Sinceramente, não penso que o som seja tão redondinho e simples como vc diz. Muito pelo contrário, músicas inovadoras que não são produzidas a granel nesse país. dizer que as músicas são “simples, sem complicações, bonitas, fáceis de entender, aprender e cantar junto”, das duas uma, ou é uma maneira de dizer o quanto o interlocutor é profundo e intelectualiazado ou qualquer coisa assim, ou que o mesmo não entendeu as letras completamente.