Festival DoSol 2006
04/08/2006 – Largo da Rua Chile – Natal/RN
A segunda edição do Festival Do Sol agitou o público potiguar com o melhor da cena local e nacional.
No universo do festival potiguar há espaço para todos. O Poetas Elétricos abre o festival Do Sol fazendo uso da palavra e da imagem tangenciado por música eletrônica. Incompreendido por quem esperava rock, aclamado por quem esperava a democracia de gêneros em um festival de música independente.
Pernambuco? Presente! Raras são as bandas que não se deixam abater por dificuldades técnicas e leis de Murphy. O Parafusa, um dos expoentes da mpb pernambucana conseguiu levantar a bola do meio do show em diante, talvez conseqüência da alegria natural da banda e seu repertório.
Também pernambucanos, o Bonsucesso Samba Clube faz uma mistura de samba, reggae e manguebeat. Seja mostrando que este último se renova, seja provando que nem só dele vive a música pernambucana, o Bonsucesso fez um show bem dançante. Exibindo um mix de eletrônico, regionalismo e imagens, Du Solto se destaca na primeira noite do festival. Bom gosto nas imagens, ritmos dançantes aglomeram um público numeroso e animado.
Mais uma surpresa nativa, o Experiência Ápyus apresentou um repertório pop com um leve toque de samba, podendo ser apontado como uma promessa local. Intenso, foi um dos shows mais comentados da noite.
Após uma loooonga e interessante discussão sobre o dilema tocar ou não tocar músicas novas acompanhada pela correspondente do Zona Punk na van, a banda Ludov surpreende o público mais fiel da noite com uma canção inédita. Além de, claro, os sucessos já consagrados. O ponto forte do show foi a boa dobradinha entre os vocais de Vanessa Krongold e o tecladista e guitarrista Mauro Motoki. Pois se o Bonsucesso Samba Clube ainda havia deixado dúvidas sobre os rumos do manguebeat, o Mundo Livre S. A. fecha a noite para acabar com esta dúvida. A citação de “London Calling” (The Clash) aparece apontando para o passado e para o futuro ao mesmo tempo, marcando a flexibilidade tanto do gênero pernambucano quanto da consagrada banda inglesa.
Na segunda noite, um dos destaques foi o Carfax, de Recife. Com um pop original e dinâmico, ora pesado, ora se permitindo um flerte com o samba, tem como ponto forte o belo vocal feminino.
O divertidíssimo Los Canos ganha o público pela presença de palco e o bom humor. Com letras irreverentes e alguma influência de Ramones, foi um dos shows mais animados da segunda noite.
Apontada como uma das melhores bandas de Natal, o Bugs apresentou um rock’n’roll sujo, lembrando Husker Dü acompanhando letras densas. O Bois de Gerião não contraria as previsões feitas pelo Zona Punk e foi, de fato, um dos melhores shows do festival. A dupla de metais e a voz de Rafael Farret deixam indecisões sobre o que seria o ponto forte da banda. Walverdes, completando 13 anos de estrada, faz um show fervoroso para um público curioso, parecendo estar pela primeira vez frente a um rock tão duro.
O Autoramas, como sempre, agrada o público em cheio com a influência rockabilly. A baixista Selma imprime personalidade no palco cumprindo a difícil tarefa de substituir a saudosa Simone, com maestria.
Marcando o início do triste fim, o Astronautas conseguiu compactar um público empolgado com as batidas eletrônicas já conhecidas, assim como as letras com refrões grudentos e, ao mesmo tempo, inteligentes. Com alguns momentos politizados e emblemáticos, o vocalista André Frank confirma sua presença de palco, uma das mais marcantes do cenário independente.
Com algumas dificuldades técnicas e alguns fatos paranormais, o show do Allface começa com alguns atropelos técnicos mas nada que tire a graça das boas melodias e influência de hardcore. Anderson Foca teve carisma/jogo de cintura suficientes para lidar com os tropeços do início e manter o público coeso até que o show engrenasse e agradasse geral.
O Devotos fez o show mais empolgante da última noite, com rock bem pesado e letras engajadas, preparando (ou não) o terreno para os capixabas do Dead Fish, que encontraram uma platéia dividida entre seus grandes sucessos e algum desagrado em vê-los no palco.
No mais, a democracia de gêneros reina mais uma vez em um festival independente. Seja sendo uma vitrine do redescobrimento de alguns gêneros musicais, ou de bandas novas locais, o sucesso do festival Do Sol traz fôlego para uma terceira edição.
Lançamentos potiguares:
Revolver: rock retrô classe A, letras ingênuas e divertidas lembrando a Jovem Guarda, animado, festeiro e dançante.
Memória Rom: Rômulo Tavares faz tudo ao mesmo tempo agora, brilhantemente, inclusive letras inteligentes, lembrando Titãs em início de carreira.
Dóris: influências explícitas de surf-music, afinadíssimo e forte vocal feminino e letras divertidas e críticas. Prato cheio para quem curte Autoramas.