Pernambuco onipresente em Natal
Publicado em 08.08.2006
Em seu segundo ano, o festival DoSol abriu espaço para a produção musical independente
CONCEIÇÃO GAMA
A segunda edição do Festival DoSol, realizada no último fim-de-semana (da sexta ao último domingo), mostrou que o evento tem potencial para se tornar um dos maiores do gênero no País. Em três dias, cerca de 9 mil pessoas compareceram ao Largo da Rua do Chile, em Natal, para prestigiar o trabalho de 38 bandas independentes vindas de 11 estados diferentes, sendo seis grupos pernambucanos: Parafusa, Bonsucesso, Carfax, Astronautas e Devotos. O grande destaque do festival ficou por conta dos pernambucanos da Devotos, que fizeram um show magistral no último dia do evento.
Quando Canibal e companhia subiram ao palco, parecia que um furacão havia tomado conta do festival DoSol. Formou-se uma roda de pogo gigante – coisa rara em Natal – e quem ficou de fora também se sentiu tentado a entrar. O bom e velho “punk rock hardcore lá do Alto José do Pinho” mostrou que ficou ainda melhor depois de dez anos de estrada. Enquanto Canibal gritava “vamos arrodear, arrodear, arrodear!”, o público potiguar entrava em êxtase.
Outro destaque do evento ficou por conta dos potiguares da Poetas Elétricos, que abriram o festival. O som da banda, como sugere o seu nome, é uma mistura de poesia com música eletrônica. Letras que poderiam perfeitamente pertencer a Tom Zé ou a Arnaldo Antunes se encaixam no som barulhento e perturbador da banda, que transforma qualquer ruído em música. A performance do grupo engloba computadores em cena, indumentárias hight-tech e um telão com imagens urbanas redesenhadas em pop-art. O show foi um grande pastiche pós-moderno muito bonito de se ver.
FÃS – A Mundo Livre S/A, que fechou o primeiro dia do evento, fez um show dançante e contagiante. E quem disse que Fred 04 não arrastava grandes multidões fora do Recife se enganou. O público potiguar tinha todas as músicas na ponta da língua e, mesmo com a maratona cansativa de muitas bandas se apresentando em um único dia, ficou até o final para prestigiar a apresentação, uma retrospectiva de carreira.
A Carfax, que se apresentou no segundo dia do festival, também fez um show correto e contagiante. O repertório da banda foi todo composto por músicas do primeiro disco da banda, O gosto antigo da novidade. Os vocais poderosos de Iana Beckman não precisaram de covers para cativar o público. A banda mostrou que tem potencial e conquistou a platéia.
Os paraibanos da Dead Nomads fizeram um dos shows mais legais do último dia do festival. A banda tocou seu punk rock autoral, com destaque para 1945 e Resposta, músicas cantadas em coro pela platéia. A banda fez ainda um cover de Blitzkrieg bop, dos Ramones, e uma versão hardcore de Bigmouth strikes again, dos Smiths, que levaram o público ao êxtase absoluto.
O festival DoSol cumpriu bem o papel de mostrar a cena independente brasileira, sobretudo a nordestina. Ele foi o retrato de que, para se fazer música boa neste País, não é necessário MTV e nem FM, apenas técnica, criatividade e carisma.