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REPERCUSSÃO ABRIL PRO ROCK 2008: PRIMEIRO DIA NO RECIFE ROCK

Cobertura: Abril pro Rock 2008 – Primeiro dia

Paulo Floro, editor da excelente revista eletrônica “O Grito” www.revistaogrito.com , foi o responsável pela cobertura dos shows do palco 2.

As mudanças de proposta e de local do Abril pro Rock pareceram não combinar muito. Se a meta era – e foi atingida – mais realista, com objetivo de atrair pelo menos três mil pessoas por noite, essas três mil pessoas mais pareciam um grupinho muito pequeno diante de um lugar tão grande como o Chevrolet Hall. Ou seja, a impressão que passava era a de um vazio permanente, de gente faltando e espaço sobrando. Enfim, para quem não estava a par das novas ambições – mais enxutas e mais modestas – do festival, foi difícil esconder uma expressão de desolação e a sensação de fracasso. Para quem sabia do novo paradigma que o APR tentava estabelecer para si, restava a certeza de que a missão estava cumprida.

Em compensação, no quesito qualidade das atrações, a coisa melhorou muito. Show ruim, daqueles de virar a cara ou encher o saco de qualquer cristão, não teve um sequer. Apenas alguns melhores do que outros e alguns regulares, e outros que poderiam ter seu tempo reduzido (caso do Bad Brains). No mais, tudo certinho, não fosse um detalhe. O som do Chevrolet Hall colaborou pouco, e até o espectador achar a posição ideal para curtir o show sem maiores interferências (microfonias, som de baixo estourado) levava um certo tempo. O ideal é ficar do meio para trás, onde o som é recebido de forma mais pura e chega mais cristalino ao seu receptor. Mais à frente a coisa fica complicada.

Mas, no frigir dos ovos, uma decepção era indisfarçável. Foi triste ver tão pouca gente presenciar uma apresentação tão boa e histórica quanto a do New York Dolls. Frustrante mesmo. E, de encher os olhos era ver Wander Wildner pogando feito criança na platéia ao som do NYD. Ele, sim, conseguiu ser alegre o tempo inteiro ontem. Sua alegria era absolutamente contagiante, e a gente até esquecia a vergonha (nessas horas bate uma vergonha desgraçada) de viver num local onde o público não sabe reconhecer a pedra filosofal de um estilo, lenda viva capaz de lotar qualquer show em qualquer lugar um pouco mais informado e civilizado.

Palco dois – por Paulo Floro

O Project 666 dava o recado: aquela era a noite do peso no Abril Pro Rock, sem a presença de headbangers e sua disputa de “bate-cabelo”. Teve a vantagem de pegar um público disposto que acabara de chegar no Chevrolet Hall, e sua apresentação não foi acometida pelo cansaço da platéia – até o New York Dolls sofreram com isso.
Sem ninguém deitado pelos cantos da casa, o Project 666 despejou toda a agressividade e fez uma ótima abertura dos trabalhos de peso da noite. O interessante na banda é que, apesar da obviedade do nome, da proposta sem muita inovação, o som consegue chamar atenção até dos detratores do metal (ou rock pesado, por extensão). É difícil ficar incólume àquela fúria. Deve ser coisa do demo mesmo.
O “projeto” tem influências bem acabadas de vários estilos de metal. E parece que conseguiram um público também heterogêneo. Tomados pela catarse promovida pelo vocalista Rodrigo Colaço, estavam metaleiros, adolescentes do hardcore, mods e – juro que dava para encontrar – indies.
Já a Zumbis do Espaço não manteve o carisma do Project 666. Muita gente que insistia em fazer roda punk em frente ao palco se divertiu bastante, mas não estavam interessados na banda. Os paulistas fizeram um show homogêneo, nada marcante. Apesar de bem humorado, ninguém conseguia captar as referências do rock nerd da banda.
O apelo country do Zumbis passou desapercebido, mas encontrou resposta em alguns fãs antigos, o que para uma banda que faz seu primeiro show no Nordeste, não significa muita coisa. Quem sabe em outra oportunidade eles consigam arregimentar mais adeptos fiéis. Antes de terminar, as últimas cartadas: o hit “Três noves invertidos” e os riffs clássicos de “Iron Man”, do Black Sabbath.

O show do Vamoz! veio sem surpresas, mas correspondeu às expectativas dos fãs. Veteranos na cena indie de Pernambuco, a banda coleciona apresentações em palcos importantes da cidade, e pela boa recepção de seu último disco “Damned Rock n’ Roll” precisa ir a lugares mais distantes. O Vamoz! precisa sair do Recife logo.
Sua apresentação foi comprometida pelo marasmo que alastrava pelo local, e perto do fim só ficaram os muito pacientes, os fãs e aqueles que descobriram o som cheio de elementos do rock old school do Vamoz!. Lembrando que a banda foi uma exceção na política da organização deste ano do APR que privilegiou bandas que não tinham tocado em palcos gratuitos da cidade ou mesmo no próprio festival. Agora, o Vamoz! já tem dois Abril Pro Rock no currículo (a primeira vez foi em 2004). Precisa de mais nada

Palco 3 – por Hugo Montarroyos

Com fome de palco, os caras da AMP entraram em ação por volta das 21h, despejando seus riffs cavalares na linha Queens Of The Stone Age que pareceram hipnotizar o público. Absurdamente entrosados e ensaiados, mandaram uma pedreira atrás da outra, sem intervalos, e chamaram Fabrício Nobre, do MQN, para mandar ver nos vocais de “Acidez”. Jornalistas de fora de Pernambuco, em uníssono, diziam que há tempos não viam surgir uma banda pernambucana tão boa. Afirmação que este que vos tecla concorda em gênero, número e grau.

“O sonho de qualquer banda independente é tocar no Abril pro Rock”, foi a primeira frase do bom show do The Sinks, dita pelo baixista Anderson Foca, que não escondia a emoção de tocar no festival após 11 anos de espera. Sonho realizado, tratou de brindar os presentes com rock puro e simples, emoldurando grunge e Weezer, numa combinação que soa extremamente gostosa de ouvir e que legitima o ótimo som que fazem. Se a performance de Foca é desengonçada e meio atabalhoada, é no guitarrista e vocalista Dante que as atenções acabam se concentrando. Moleque de voz boa e de presença de palco marcante, não se intimidou depois em entrar na roda-de-pogo do show do Bad Brains, e assim realizar dois sonhos em uma só noite.
Músicas absolutamente bem trabalhadas em peso e simplicidade como “Ignored”, “You” e “Do You Wanna Give Up” garantiram a felicidade dos roqueiros presentes, e credenciaram, definitivamente, o The Sinks como uma das bandas mais legais a surgir no Nordeste nos últimos anos.

Palco principal – por Hugo Montarroyos

O Mukeka di Rato subiu ao palco e o vocalista Sandro tratou logo de dedicar o show ao cantor brega Adelino Nascimento, falecido naquela mesma noite, de problemas cardíacos. Donos de um dos discos mais representativos da história do punk/hc do Brasil, o indiscutível “Acabar Com Você”, acabaram extraindo dele seus melhores momentos, como “Viva a Televisão” e o clássico “Maconha”. A volta do vocalista Sandro em substituição a Bebê confere ao disco – e a todo show – uma maneira mais limpa e arrojada de cantar, fazendo com que as ótimas letras do Mukeka não desaparecessem em meio a tempestade de decibéis que a banda sempre provoca por onde passa. Foi, depois do New York Dolls, o melhor show do palco principal, superando até mesmos ídolos Bad Brains.

É complicado escrever sobre uma lenda. Sobretudo quando tal lenda ainda está viva. E mais ainda quando ela representa três gerações do hardcore (embora eles odeiem se enquadrar em tal rótulo) e tenham feito algo que a maioria prefere creditar ao The Clash: misturar a velocidade do hardcore com as batidas do reaggae (ok, o The Clash fez o mesmo, só que com o punk). Mas certas coisas não passaram despercebidas ontem.
Da formação original, restaram o baterista Earl Hudson, o guitarrista Dr. Know e o baixista Darryl Jenifer (este, quase gagá). Coube ao vocalista Israel Joseph injetar sangue novo na banda e o contraste entre sua disposição e o cansaço dos demais integrantes era evidente. Outro ponto delicado de ser tocado é justamente aquilo que um dia soou como inovação para o Bad Brains. Se eles são ótimos, perfeitos no hardcore, nas partes e violentas e mais rápidas de seu set, garantindo fácil a abertura de uma roda-gigante e animada, nas partes mais lentas e de culto rasta a coisa se tornava absurdamente monótona. Confesso que este é um defeito particular meu, e não da banda. Como adoro hardcore e detesto reggae, o Bad Brains nunca esteve em alta cota comigo, embora reconheça sua importância histórica e seu papel de divisor de águas no gênero. Mas ontem, fora Cannibal – visivelmente emocionado por ver tão de perto seus ídolos – e outros tantos, a maioria parecia concordar comigo: ficava empolgada pra valer durante as partes mais secas cruas e violentas do show, e aproveitava para dar uma volta ou ir ao banheiro nas partes mais voltadas ao reggae. Ou simplesmente sentava quando misturavam ambas. No fim das contas, o show acabou sendo mais longo e mais chato do que precisava ser.

Uma lenda-viva chamada David Johansen entrou em cena e de cara passou a impressão de que os 38 anos que se passaram entre seu início de carreira e a noite de ontem não tinham afetado sua voz e sua presença de palco em nada. De peruca e sempre nos mostrando que Joey Ramone e Steven Tyler foram crias suas, esbanjou disposição, carisma, talento, bagagem punk. Sua voz soa tão perturbadora como era nos anos 70. Dava sinais de ser bem mais jovem do que os excelentes músicos novos que o acompanhava: Sam Yaffa (baixo), Steve Conte (guitarra) e Brian Delaney (bateria). O outro sobrevivente, o guitarrista Sylvain Sylvain, também permanecia confortavelmente conservado, uma legítima testemunha e um dos sujeitos de uma história que envolveu muito sexo, drogas e rock n’ roll. Um a um, clássicos como “Pills”, “Looking For a Kiss” e “Personality Crisis” eram jogados na nossa cara. Se o show tinha um público infinitamente menor que merecia, um clima intimista acabou se instaurando entre banda e platéia. Show que, daqui a dez anos, poucos terão o privilégio de dizer que testemunharam. Assim como hoje nos referimos com tanto carinho ao show de Chico Science e Nação Zumbi em meio ao temporal no Circo Maluco Beleza em 1996. Alheio a isso tudo e em estado de transe, Wander Wildner percorria dançando todo o Chevrolet Hall, em exercício de total contemplação e devoção e desmentindo um de seus grandes sucessos, aquele em que diz que não consegue ser alegre o tempo inteiro. Ontem, pelo menos durante todo o show do New York Dolls, ele conseguiu ser. Assim como todas as poucas testemunhas de tal momento histórico também conseguiram ser. Uma pena que tal alegria tenha sido compartilhada por tão poucos. Coisas de Recife…

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4 Comments

  1. Hugo ou Guilherme, não sei qual dos dois idiotas apagaram o comentário que eu deixei aqui no site.

    Meus amigos tenham boas maneiras o Recife rock está uma merda mesmo.

    Eu só mostrei um site melhor que o de vcs porra ver que dessa vez não apaga o meu comentário por que se não dessa forma vou achar que vocês estam com inveja.

    melhor que o recife rock ai está de novo: http://www.pernambucobeat.com

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