Quando pouco antes das 2h o New York Dolls pisou no palco principal do Abril Pro Rock encontrou um público relativamente pequeno – pouco mais de 2 mil pessoas num espaço onde cabem mais de 12 mil – e cansado. Desde às 21h, doses cavalares de hardcore, punk, hard rock e metal haviam sido exaustivamente tocadas no Chevrolet Hall. Com um atraso de mais ou menos uma hora em cada apresentação, a noite foi uma sucessão de bandas que não conseguiram atingir aquele momento único em que banda e platéia se tornam indissociável – ou conseguiram por não mais que três ou quatro músicas. E o New York Dolls, banda de punk seminal, influência de gerações de roqueiros, bem que tentou, mas não chegou a fazer a apresentação histórica que era esperada.
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Não que os americanos estejam fora de forma. Apesar da barriguinha saliente de David Johansen – que insistia em aparecer por baixo de uma babylook azul bebê – os punks cinquentões mostraram que o tempo passou bem para os dois sobreviventes da banda original. Joahnsen – que fisicamente exibe uma semelhança impressionante com Mick Jagger, mas sem o rebolado, a voz e o carisma – deu conta do recado. Surpreendeu a platéia ao cantar, logo na segunda música, “Piece of my heart”, canção imortalizada na voz de Janis Joplin. As músicas mais famosas das “bonecas” estavam todas lá: “Human Being” – regravada pelo Guns’n’Roses em The spaguetti incident -, looking for a kiss, personality crisis.
No palco, as “bonecas” estavam pouco glamurosas: as unhas de Joahansen, comumente longas e pintadas com alguma cor berrante, estavam bem cortadas e sem sinal de esmalte. O figurino também foi comportado, bem longe da imagem andrógina e glam inaugurada no rock com a ajuda do grupo. A lembrança do show do New York Dolls talvez fique prejudicada pelas bandas anteriores, com músicas repetitivas e até cansativas – como o Bad Brains.
A Bad Brains era a que mais despertava curiosidade entre as bandas estrangeiras. Não era cultuada por um nicho – como o Helloween e, em menor escala, o Gamma Ray. Não era a estrela do festival – lugar a cargo do New York Dolls. Tampouco corria por fora como a neozeolandesa The Datsuns. Na ativa desde a década de 1970, e sem nunca ter parado, a Bad Brains merece respeito. A mistura de reggae e hardcore, porém, não funcionou no palco.
Os quatro integrantes da banda, todos de dreadlocks nos cabelos, vestidos de bermudas e jeans, tocam reggae e hardocre. E não, como se poderia supor, um som próprio com elementos dos dois ritmos. Numa apresentação esquizofrênica, a banda toca reggae, grita “rastafariiiiiii” e, de repente, na música seguinte, executa um veloz hardcore. No palco por mais ou menos uma hora, a banda começou a ficar cansativa e, do meio para o final do show, o público mal se mexia.
Brasileiras –O show mais divertido da noite, sem dúvida, ficou por conta dos capixabas do Mukeka di Rrato. Já veteranos, eles tocam aquele hardcore pra cima, divertido e ligeiro, agradando em cheio as centenas de garotos punk que só queriam entrar numa boa roda de pogo ( “dança” típica de shows de punk) e bater cabeça. As músicas curtas – que raramente ultrapassavam os dois minutos – favoreceram a potência do show da banda. Com um som parecido com o Mukeka, porém mais pesado e flertando com o countrycore, os Zumbis do Espaço fizeram uma apresentação morna, assim como a The Sinkhs, banda de Natal que canta em inglês.
Ganhadora de um concurso na internet, a pernambucana AMP abriu o festival com um show cheio de barulho e mais nada. O vigoroso hard rock do Vamoz, espremido entre o Bad Brains e o New York Dolls, mostrou porque a banda voltou ao festival, depois de tocar como revelação em 2001. Única banda de heavy metal nessa primeira etapa do Abril pro Rock – dia 27 tem Helloween e Gamma Ray – a Project 666 impressionou pela competência dos integrantes. Num show rápido, nervoso e gutural, Rodrigo Colaço mostrou que é provavelmente o melhor vocalista do gênero na cidade.
Barradas! – A morena Mandy, a ruiva Ana Paula e a loira Camila conseguiram o que muitos fãs sonham: chegaram até o camarim de seus ídolos – que neste fim de semana eram os roqueiros do New York Dolls. A aventura da trupe, porém, foi abortada pela “mau humorada” produção do Abril. “Abrimos a porta do camarim e vimos o roadie, mas não deu para ver a banda. Logo depois chegou a produção e nos expulsou”, conta Camila, que não consegue lembrar a letra de nenhuma música dos seus ídolos. “Só queríamos uma foto”, lamentavam as três.
Por Maria Carolina Santos, da Redação do PERNAMBUCO.COM