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MATÉRIA ESPECIAL: HUNTER THOMPSON

Por Bruno Nogueira (popup)

Em fevereiro, faz três anos que o escritor e jornalista norte-americano Hunter Thompson decidiu encerrar sua vida com um tiro de espingarda na cabeça. Conhecendo ele com intimidade, fica fácil de imaginar que onde quer que suas cinzas tenham sido lançadas no espaço – durante a cerimônia excêntrica bancada pelo ator Johnny Depp – mesmo sendo contra qualquer lei da física, deve ser agora um lugar bastante fedorento. Intimidade é uma sensação inevitável para quem nunca chegou sequer a vinte metro de distância de Thompson, mas leia agora sua derradeira obra, “Reino do Medo“.

Lançado em português (tradução de Daniel Galera, nosso próprio discípulo de Thompson) pela Companhia das Letras, o livro reúne 485 páginas de antigas reportagens, cartas, trechos de conversas e material inédito do escritor, sob o subtítulo de “Segredos abomináveis de um filho desventurado nos dias finais do século americano“. Os recortes, montados de maneira cronológica, passam a constante impressão de que estamos entrado direto na vida de Hunter Thompson, conhecendo os detalhes mais minuciosos de sua candidatura a Xerife, aos períodos que escreveu para a revista RollingStone.

Nem todos os textos são de autoria de Thompson. Entre suas cartas e reportagens, estão relatos de autoridades e amigos, quase todos de caráter oficialesco, sobre alguma experiência passada junto ao escritor. Para dar conta de tantos retalhos, a tipografia do livro muda constantemente, usando fontes diferentes para classificar as várias categorias de texto. Numa primeira impressão e para quem optar ler o livro fora de ordem, a edição é confusa; mas com a leitura em ordem direta, passa a fazer um pouco mais de sentido.

1745668983_a07e3413b7_o.jpgDividido em três partes, todos os textos retratam os momentos finais da vida de Hunter Thompson. Algumas reportagens e cartas retratam períodos passados, mas como lembranças do escritor. Do período que ingressou nas políticas-norte americanas à seu trabalho como correspondente internacional. Entre as viagens, há registros de sua passagem pelo Rio de Janeiro. “Pesando tudo, o Rio chegava muito perto de ser o melhor lugar do mundo para ficar perdido e abandonado para sempre quando o Mundo finalmente encerrasse atividades“, escreveria.

Por representar seu período mais estabelecido como escritor, “Reino do Medo” é recheado do estilo Gonzo que ele criou e o consagrou no jornalismo. Linguagem direta, onomatopéias e um constante esforço de representar imagens textualmente são elementos presentes em praticamente todos os recortes do livro. Um verdadeiro deleite para relembrar (ou apresentar, aos desconhecidos) a forma como Hunter Thompson desafiava a criatividade do leitor mesmo com as coisas mais simples.

Apesar de não ter intenção biográfica, o livro cumpre um pouco dessa função pelo caráter pessoal dos textos. Entre eles, a sensação é reforçada por várias fotos de Hunter Thompson em diferentes fases da vida. Ainda bem jovem, no pequeno apartamento que ocupou no Rio de Janeiro; e em momentos mais velhos, ao lado de figurões do governo de Richard Nixon. Com a intimidade criada, parece que o suicídio de Thompson era inevitável, assim como a necessidade de celebrar o que criou em vida.

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