Natal, Notícias

MATÉRIA ESPECIAL: A DOCE ILUSÃO DA INDEPENDÊNCIA

Por Hugo Morais (bemvindoboaviagem)

Desde que um grupo de amigos se junta e começa a tocar músicas de bandas que são suas influências, ali já está o embrião do que um dia pode vir a ser a mais nova sensação local, regional ou nacional. Mas o mais comum é ser uma reunião de amigos que depois de algumas tentativas e alguns fracassos, pára e vira lenda. Ou com as facilidades dos dias atuais, grava um EP, um CD e acaba, mas com um material lançado.

Muito da culpa da banda não dar certo é dos integrantes. O comum é serem acomodados ou imaturos. Ou não fazem por onde chegar a algum lugar, ou não percebem o que tem que fazer para chegar a algum lugar. As vezes a intenção é só tocar, tirar uma onda, ficar pela cidade mesmo tomando birita, as vezes curtindo a fama com as menininhas que acham que empunhar uma guitarra é o máximo. Para essas bandas a diversão é o início e o fim. Palmas para elas que são bem resolvidas. Já para as que pensam em chegar a algum lugar, ficar parado e esperar as coisas acontecerem não é uma boa. Se antigamente as coisas aconteciam, hoje tem que fazer acontecer. Todo esse papo é lugar comum. Tudo já foi escrito. Então o que faz algumas bandas conseguirem seguir em frente, ter “sucesso” e outras não? Dedicação, contatos, profissionalismo e inovação são os fatores mais importantes e que predominam nessas bandas. Mesmo aquelas porra-loucas que tocam por todo canto, não são assim o tempo todo. São no palco, fora dele tem que ser sério, não careta, sério. Muitos preferem chamar tudo isso de panelinha, cruzar os braços e ficar se perguntando o que as outras tem? É melhor se perguntar o que a sua banda não tem. Talvez não tenha nem senso crítico de se questionar.

Duas bandas que estiveram aqui em Natal domingo mostraram que sabem como é o independente: Zefirina Bomba (PB) e The Honkers (BA). As bandas são exemplos dos dias atuais, da independência que está na boca de todos. Ser independente é uma grife. É status. Algumas são porque querem, a maioria porque não tem opção. E isso não é de hoje, sempre foi assim, poucas chegavam a uma grande gravadora, hoje a coisa ficou mais escassa devido ao já sabido desmantelamento das majors. As bandas vinham de três shows em João Pessoa, Fortaleza e Recife, tudo feito de carro, com divulgação pequena, na base do boca-a-boca e internet. Aqui em Natal o evento ocorreu no Shambala Pub, um local que não está apropriado para receber bandas de rock. O “palco” é um cubículo e o equipamento de som deixou a desejar as duas bandas. Se pro Zefirina (foto acima) que toca um rock movido a distorção a coisa não era tão notada, no Honkers (foto abaixo) ficou claro. Isso fez lembrar os shows toscos que eram organizados antigamente em Natal na base do malhado, mas verdadeiro, “Do it yourself”. É isso que as duas bandas, que já tocaram nos melhores festivais brasileiros, fizeram. Se bancaram correndo riscos, coisa que nem passa pela cabeça de muitas bandas daqui, seja pela organização zero, ou pela falta de coragem mesmo.

Olhando os dias atuais em Natal podemos ver as mesmas bandas tocando constantemente. E em locais restritos. Fruto de uma panelinha? Talvez, mas talvez essas bandas sejam as mais profissionais. E se não forem, talvez sejam as que mais mostrem interesse em tocar. Ou talvez sejam únicas, possuam elementos musicais que as demais não tenham, se alguém conseguir juntar tudo isso ficará no circuito. Anos atrás shows poderiam ser vistos em Ponta Negra, Praia do Meio, Blackout (hoje Galpão 29), Casarão da Ribeira, Garagem Ribeira, Bimbo’s, Bar do Buraco, Aero-Roller, The Wall, Bar do Pedrinho, Quatro Colunas… Muitos lugares, o tal underground existia. O que aconteceu com todos esses lugares? Muitos eram locais aproveitados para shows, mas que não eram próprios para isso. O resto fechou, sucumbiu. Talvez espelho da produção local. Produção das bandas e dos produtores culturais. Hoje resta o Galpão. E surgiram o DoSol e a Estação Ribeira. O Budda, última fortaleza das bandas baile que há alguns anos assolaram Natal, fechou. Dois grandes nomes da produção local cruzaram os braços: Vlamir Cruz e Alexandre Alves. Indagados, a resposta é a mesma: cansaram da acomodação das bandas, que queriam tudo nas mãos. Queriam tudo nas mãos e não davam nada em troca. E essa troca não precisa ser dinheiro, apenas trabalho. Quando alguém surge querendo fazer algo com um preço que é pago, com dinheiro, é chamado de mercenário. De aproveitador e muitos outros adjetivos. Sim, estes e outros são dados a Anderson, mais conhecido como Foca.

Diferentemente de Vlamir e Alexandre, que faziam a coisa sem querer ter um retorno financeiro, Foca o faz, e por isso ainda está na ativa. Porque só faz mediante pagamento, se não querem ajudar, que paguem pelo menos. Não dá para viver de filantropia a vida toda. Os que reclamam da panelinha as vezes são encontrados dentro do estúdio DoSol gravando, enviando material para o festival ou algum evento que ocorre no bar, ou curtindo as festas que o mercenário organiza. Ele sozinho não faz tudo. Ao seu redor alguns ajudam. São figuras fáceis nos eventos do DoSol: Dante, Gustavo e Henrique, todos do Calistoga. Sempre estão presentes também Caio Vitoriano, Vinicius Menna, Rafaum e outros que sempre ajudam ou fazem parceria. Parceria, essa é a palavra.

Quem está errado? Foca? Vlamir? Alexandre? Nenhum, cada um tem seu ponto de vista e sua maneira de trabalhar. Cada um interpreta a realidade de um modo diferente. Cada um deu e dá sua contribuição como acha melhor, mas nunca reclamaram sem ter motivos para isso. O que ocorre com a maioria das bandas, uma maioria nivelada por baixo, é um reclamismo recorrente com argumentos ridículos que as vezes se escoram até em ideologias baratas, vide o underground que por aqui não existe mais. Ficar reclamando não resolve. Se uma banda que você julga não ser boa está tocando, no mínimo deve estar trabalhando para isso. Pode até não ser a melhor, mas é mais dedicada. Ou se joga o jogo, ou sai dele.

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13 Comments

  1. mercenário é meu eggs! 🙂

    1)Eu trabalho para caralho, amo o que faço e mereço receber por isso.

    2)70% das vezes em que faço alguma ação em prol do rock local não ganho nada. O festvial dosol tem 4 edições e em nenhuma ganhei qualquer dinheiro (mas gerei dinheiro para outras pessoas envolvidas no processo).

    3)Alexandre Alves – professor
    Vlamir cruz – apoesentado
    Foca – roqueiro.

    A diferença é essa. Isso é a minha fonte de renda, meu emprego.

    4) Vagabundo que não faz nada para atirar contra quem faz tem em todas esquina, literalmente. Quero vê é vir para dentro, meter a cara, atuar. Aí sim, nego tem algum direito de falar algo, enquanto isso fico aqui dando risada (uma pena que hoje nem role tanto como antes) dos comentários que o povo faz (fazia).

    5) é possível. Não sou rico, me fodo para pagar minhas contas como todo mundo. Mas esse post foi feito anrs das sete da manhã porque se eu dormir muito não dá tempo de fazer tudo o que preciso durante o dia para viver no rock. Não recomendo, façam outra coisa!

  2. Vejo isso em todos os lugares por onde passei, seja em Aracaju, Salvador ou Recife. Existe uma massa de acomodados que só sabem reclamar seja de espaço para tocar, seja da “falta” de bandas legais tocando (que normalmente são as bandas dos amigos dele ou bandas que tocam um milhão de vezes nos mesmos lugares, o mesmo repertório e etc.), ou o que é mais normal, é reclamar que o ingresso de R$ 3,00 está muito caro e que o cara é mercenário e quer ganhar em cima das bandas.
    Quase decretei “falência” devendo ao banco, telefone e tudo mais, pq quero muito continuar com o rock, a idéia é viabilizar os dois caminhos. O de pagar as contas, e o do rock, seja com produção de bandas seja com produção de shows.
    Foca e cia, são guerreiros e nenhum desses que criticam teriam a coragem de fazer um festival com as bandas que fez na última edição do DoSol, custeando tudo do próprio bolso.

    Abraço e Rock sempre!!!

  3. Parceria e seriedade são as palavras de ordem para quem quer algo com o rock. Ir a shows faz parte do rock tbm, e os ditos “rockeiros” de Natal, não cultivam isso, uma pena! Gastar dinheiro com o rock não é perda de tempo como se pensa, é um investimento que você faz pra na frente ter resultado. Torço pra que um dia apenas metade da galera que toca aqui em Natal vista a camisa preta e comece a ir pros shows pq senão, FUDEU!! Natal tem muitas bandas que são fodas, mas um grupo restrito(panelinha), tem o interesse em fazer as coisas pelo grupo e não por si só!!
    Sou rockeiro, não desisto nunca!! E digo mais, vou pra todos os rolés que posso ir pq gosto de ver como estamos das pernas, estamos indo bem, mas falta as bandas decidirem o que querem!! VIbe? Ganhar menininhas? Ou fazer uma coisa concreta e fundamentada???
    Rock é sério!!

    =)

  4. Pois é…

    É bem mais fácil taxar o rock de panelinha, de mercenario, falar que em natal só existe bandas ruins, que ninguém dá oportunidade a quem ta surgindo. É bem mais facil fazer isso que meter a cara na coisa e levar em frente. Que tentar fazer algo que não seja sentar e criticar. Muito nêgo senta e reclama de panelinhas e não sai pra mudar isso, não corre atras, não faz bons contatos (isso é primordial), e nem busca nada. Quer tudo nas mãos.

    Conheço o foca e tiro o chapéu pra ele e pra toda a equipe do dosol pelo que fazem pelo rock potiguar. Acompanhei a organização do festival dosol, vi a loucura que foi pra fazer um festival sem apoio nenhum, ajudei no que pudia ajudar, porque ia tocar? N~çao, não foi por isso, minha banda ja tava classificada, podia muito bem cruzar as pernas e esperar a hora de tocar, mas não, tentei fazer algo mais, contribuir o minimo que fosse, enquanto isso nêgo me criticava. “pra que tu ta se metendo?”, “vai ganhar o que com isso?”. Ganhar? Nada! Até gastar quem sabe! Mas gosto do rock, e quero ver ele continuar, faço minha parcela.

    Vejo rafão e a turma do xubba, selo relativamente “novo”, mas os caras correm atras, batalham, estão de parabens, estão na atividade. E é isso. Ou você se meche ou afunda.

    E vejo tb muita gente boa que quer fazer a coisa funcionar, como o corvo que faz o caos natal e varios outros eventos, o pessoal q anualmente faz o heavellon e vários outros eventos.

    Mas também tem muita gente que atrapalha, que só reclama e “bagunça” as coisas.

    Mas é isso, cada um colhe o que planta.

    Abraço,

  5. Natal tem grandes problemas que aos poucos estão se acabando ou pelo menos diminuindo, como a falta de união de produtores, musicos e interessados. sempre tem um para estar falando mal do que um faz ou deixa de fazer, que faz as coisas erradas e tudo mais, oras, é muito facil ver um erro ou um ponto negativo para quem ta de fora, mas quantos pontos positivos eles estão fazendo, ou gerando? no lugar de ficar falando mal ou boicotando, porque não vem conversar, mostrar sua opnião e dizer no que pode ajudar? por que bandas ficam reclamando que não tem lugar ou espaço para tocar em natal, não se juntam e fazem um evento? por que as bandas investem tão pouco em si mesma? não acho que exista uma panelinha em natal, acho que tem um grupo organizado que estão produzindo coisas com frequencia.
    e ja ta na hora da galera parar de tratar o rock como brincadeira e ver isso como algo serio, ver que tem pessoas que estão interessadas em estar produzindo algo cada vez melhor e serio para a sua cidade. e se é isso que a gente quer? por que não fazemos? vamos deixar as besteiras de lado e vamos se unir cambada.

    quanto mais gente for na mesma direção, mais a gente ganha, mais o rock ganha, mais natal ganha.

  6. Comecei a pouco a bisbilhotar de forma tímida a cena musical da cidade. Então vou emitir a opinião como quem observa, como público, até mesmo porque o trabalho final das bandas e produtores têm como objetivo atingir o mesmo. Fiquei impressionado ao perceber que existia um movimento, mas principalmente com uma boa quantidade de bandas querendo fazer a sua própria forma de forma de rock, ou seja, de música.

    Ao assistir as apresentações do segundo dia do “Festival Novas” escrevi a partir da resenha um comentário entusiasmado onde dizia achar a cena bem organizada. Mas lendo essa matéria e seus respectivos comentários além de outras questões começo a ter a impressão que não é bem assim.

    Tenho lido coisas interessantes como a expressão “panelinha” que não escutava desde a 2ª série. E parece que a desorganização vem a partir dos que fazem e produzem música. Como público me irrita perceber que tantas questões menores atrapalhem a evolução da cena local.

    O que sempre me apaixonou no Rock foi o caráter de contra – cultura que sempre serviu como alternativa a cultura massificada e estagnada que nos é oferecida de tempos em tempos. Algo sincero e visceral, livre de rótulos convencionais.

    Embora conheça pouco do que acontece por aqui, quis expressar minha opinião para chamar a atenção dos que estão com todas as dificuldades tentado propagar o eco distorcido das guitarras.
    “Não Importa o que estão tentando cozinhar, estamos todos na mesma panela. Rock n’ Roll, feijão, Arroz e fritas.”

  7. Muita gente fala, fala e fala
    mas a coisa é, quando neguim vai atrás de produzir algo porque “O Povo é mercenário” acaba fazendo cagada!
    Concordo com oq Macaco falou, a união da cena é que faz o crescimento ser real, se o Foca começar a jogar merda nas paredes do Dosol ele ainda vai ser o cara que traz banda x e banda y pra tocar aqui e pronto, o cara faz,nem relógio trabalha de graça, o bom seria se todo mundo que quer fazer o rock andar pra frente se unisse, produtores+musicos+tudo e pronto…

    comentário totalmente esquecível, são 6 da manhã e não durmi!
    fui!

  8. Foca, minha intenção ao fazer o comentário, não era lhe criticar ou criticar o seu trabalho, até mesmo pq não o conheço. Escrevi sobre coisas que começo a perceber, como por exemplo, críticas infundadas de quem tem pouco interesse em produzir algo relevante. Pelo pouco que percebi a partir das iniciativas do “DoSol”, não o incluo nisso.
    Sim! O mais importante! Gosto de falar e, sobretudo nesse caso de escrever, mas costumo agir em prol do que acredito, e com certeza o Rock é uma das principais forças que movem minha vida. Sendo assim dentro de algum tempo produzirei algo artisticamente falando para contribuir com o que está acontecendo, mas antes, com certeza voltarei ao bar para assistir os eventos que lá acontecem. Portanto, muito obrigado pelo espaço, espero um dia poder trocar idéia pessoalmente. Falou!

  9. 01- De uns tempos prá cá parece que se criou poraí uma aura mítica como se o Mister Mu aqui fosse algum bom samaritano a solta pela cidade em busca de fazer o bem pelo rock e cultura a qualquer custo… Nessa correria dos tempos atuais, é bom que se diga que, o que para alguns possa a primeira vista parecer filantropia, pode ser, para o outro, atividades que numa ótica de um planejamento estratégico para médio e longo prazo teriam possibilidades de gerar retorno, frutos… lá na frente.

    02 Com relação a Médio e longo prazo, a Mudernage passou 2006 e 2007 revisando/reavaliando as parcerias de divulgação que tinha com artistas/bandas, pois, na nossa ótica, no dia a dia da coisa, estávamos, nós Mudernage, mais empenhados em alcançar os desejáveis resultados de longo prazo que as outras partes envolvidas… No decorrer de 2007 não conseguimos perceber, com raras exceções, indícios de maior empenho, por parte dos parceiros/bandas/artistas em prol deles mesmo.

    03 Nunca é demais dizer que o cancelamento das parcerias de divulgação das bandas/artistas que ocorreram foram realizadas de maneira totalmente amigável. : )

    04 O internauta mais apressado pode ainda entender, lá no texto do Hugo, que “cruzou os braços” seria igual a “parou todas as atividades”, o que não é o caso, pois, na realidade a Mudernage se conceitua como uma “entidade de cultura”. Sendo uma “entidade de cultura”, ações na área musical são apenas uma das possibilidades possíveis. No entanto, por falar de música, para o primeiro semestre de 2008 temos já confirmado a “Difusão e Lançamento” de um álbum de música instrumental. Ação que será feita de forma auto-sustentável com todos os envolvidos sendo remunerados,”Inclusive a Mudernage também”.

  10. Gente, que tédio 😛

    Hugo, o mundo não começou semestre passado. Casas abrem e fecham em qualquer lugar do país, nesse mesmo ritmo, em espaço de tempo distintos. O tempo todo. Não fecham porque as bandas são ruins. Se vc acha que alguém vai para o bar para ver a banda, está iludido. As pessoas vão para se divertir, encontrar amigos, tomar uma cerveja e, de quebra, encontrar um bom show. Mas a música que a banda toca não está em primeiro plano. Principalmente de uma banda que mal tem 2 anos de vida.

    Pare de pensar que uma banda deixa de tocar porque alguém deixou de trabalhar por ela. Isso é raciocínio de terceira série. Banda que toca é banda que trabalha. O dono do bar tá fazendo o trabalho dele e não o da banda.

    E não pense que Vlamir e Alexandre faziam as coisas de graça por amor a música. Não é assim que isso funciona. Dinheiro não é uma coisa que se quer ou deixa de querer, é uma coisa que a gente precisa. Não imponha um problema nisso, porque novamente você vai tá pensando como se tivesse na segunda série. Não existe essa questão de não fazer por dinheiro.

    O que existe é uma auto-valorização do trabalho. Alguns acham que custam mais, outros que menos, e por ai vai.

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