Matando o amor desbanca grandes nomes da música brasileira
Sérgio Vilar
Matando o amor ao som do pop e conquistando meteoricamente o público natalense amante do gerúndio já no primeiro CD, a banda potiguar Talma&Gadelha foi recentemente classificada entre os 100 melhores discos de 2011. Apesar da lista não figurar em nenhuma revista cultuada ou ter sido elaborada por algum figurão da música, o portal Rock in Press (www.rockinpress.com.br) mostrou criterioso embasamento para justificar a seleção, caracterizada pelo ecletismo e dominada por álbuns independentes – um retrato da ascensão vivida pelo segmento nos últimos anos.
Único do RN no ranking projetado por um portal especializado em música, trabalho ficou à frente de O Teatro Mágico, Pitty e Eddie. Foto: Flickr do grupo/Divulgação |
O disco Matando o Amor conquistou a 54ª posição, exatamente à frente do álbum de Fernando Anitelli, líder do fenômeno da música independente, O Teatro Mágico. Os potiguares desbancaram outros renomados artistas nacionais, a exemplo do novo trabalho de Pitty (Agridoce) e dos pernambucanos do Eddie. Ou ficaram quatro posições atrás do novo álbum de Lenine, Chão; a 14 posições do novo trabalho de Karina Buhr (Longe de Onde); ou ainda a 19 degraus do badalado CD de Gal Gosta, Recanto. No site dá pra ouvir quase todos eles.
Mais do que o reconhecimento dos críticos do blog, a banda Talma & Gadelha conquistou fãs. Para uma cidade sem identidade musical e pouco afeita aos seus valores, é um feito. Os dedos de uma mão talvez bastem para enumerar composições de natalenses cantadas ao pé da letra pelo público local. Com o CD, Simona Talma, Luiz Gadelha e banda emplacaram pelo menos três sucessos bem decorados durante os shows: O roqueiro e a hippie, Enigma, a faixa título, e ainda Por que todo coração é burro.
Novo trabalho em breve
De carreiras solos consolidadas e sem alcance fora das muralhas potiguares, Simona Talma e Luiz Gadelha se despiram da rigidez dos estilos musicais marcantes em seus álbuns para se unir e emplacar uma sonoridade pop onde o amor, as desilusões e o universo adolescente figuram em composições maduras e arranjos bem encaixados. E o segundo álbum está planejado para o início do segundo semestre deste ano. A construção do repertório está no início. Mas no primeiro show da banda em Natal – um acústico na Casa da Ribeira, no dia 19 deste mês – será apresentado o experimento de uma faixa inédita.
Até lá, a banda tem agenda cheia. De shows e novidades. A maior expectativa está voltada à produção de novos clipes. O cineasta Buca Dantas fará roteiro e direção para a música Por que todo coração é burro. “O segundo foi interessante porque partiu do interesse de uma produtora de filmes carioca que gostou da música Daqui a alguns anos. Dois designers, Mário Passos e Bruno Dante, trabalham com animação de bonecos. O clipe será nessa linha. Já enviamos fotos para eles montarem nossos bonecos e produzirem a animação. É uma forma de lançar um clipe no Rio de Janeiro”, comenta.
Parceria com o Camarones
Também há projeto definido para montagem de um show junto com a banda Camarones Orquestra Guitarrística, intitulado A Festa da Banda e a Banda da Festa, com estreia prevista para o mês de março deste ano. “Será uma festa bimestral. As duas bandas tocarão repertório cover completamente louco; o que vier na cabeça. Serão três horas de show com músicas de Luis Caldas, Carimbó, Elvis… Músicas que temos vontade de tocar e não cabe nos nossos trabalhos. É um show livre, pra se divertir e dançar”. Simona adianta ainda que o repertório já esta sendo ensaiado, além de uma música inédita – espécie de hino da festa.
CDs solo nos planos
Um ano de Talma&Gadelha bastou para remodelar conceitos musicais na dupla protagonista da banda. Luiz Gadelha e Simona Talma lançarão seus discos solo este semestre, ambos pelo selo Dosol. E a influência pop marcante no último ano de trabalho será presença certa. A pegada blueseira mesclada ao jazz que caracterizou os seis trabalhos solo de Simona ficou mesmo preso nos braços seguros do passado. “Deve vir coisa nova. Me libertei de algumas regras; não me prendo mais a ritmos. Antes eu tinha um foco: ‘Essa música será um blues’. Hoje sou mais espontânea”, disse Simona.
A ideia da menina “mais vagal que há” é produzir um CD “mais construído em estúdio”, com definições de arranjos-base para melhor conceituação do álbum. “Luiz deve começar o dele em pouco tempo, com algumas participações. Quando ele acabar, eu começo o meu. E acredito que em julho a gente grave o segundo disco do Talma & Gadelha”, estimou Simona. Até lá, menos shows em Natal e mais presença nos palcos do Rock Cordel. Ainda em janeiro a banda se apresenta no Ceará, dia 21, e em Souza (PB), dia 29. Além dos acústicos na Casa da Ribeira, dias 19 e 26, farão o primeiro show da banda no Dosol, dia 4 de fevereiro.
Independência
Após mais de 10 anos de carreira solo e só no último com presença em palcos nordestinos, a exemplo da Feira da Música em Fortaleza e agora no Rock Cordel, Simona justifica o sucesso. “Optamos por um som mais pop, mais simples. Também buscamos outros caminhos. Nos inscrevemos em editais. Nos arriscamos de forma independente. Guardamos dinheiro e fomos um fim de semana para Fortaleza, por exemplo. Conseguimos um show em um bar de rock e em um teatro super fofo. E agora faremos show no espaço Dragão do Mar, para mil pessoas. Ou seja: já voltamos lá com outro respaldo”, mas sempre matando o amor em doses homeopáticas de boa música pop.