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MARCOS BRAGATTO (RJ): O MUNDO VIVE UMA NOVA ONDA DA AC/DC MANIA

Por Marcos Bragatto, Rio de Janeiro

Conteúdo: Rock Em Geral

Meus amigos, não há mal que dure pra sempre nem bem que nunca se acabe. Às vezes, no mundo do rock, quando tudo vai por um caminho, alguém vem por outro e atropela sem tomar conhecimento. Vejam o AC/DC, por exemplo. Ou, por outra, antes vejam o que se tornou o mercado fonográfico. Um Radiohead aqui tentando faturar usando o modelo “quer pagar quanto”, um Nine Inch Nails acolá liberando disco gratuitamente, todo mundo buscando um jeito de faturar no mundo virtual, porque, no físico, hoje representado pelo CD, isso é impossível. Porque, sozinho, sem o mínimo o apoio de estratégias virtuais, o CD, segundo consta, não vende mais. Um paradigma que vem se estabelecendo. Uma verdade absoluta ou algo que o valha.

Eis que surge, então, o AC/DC. Com o novo álbum, “Black Ice”, o grupo ocupou por duas semanas seguidas o topo da parada americana, coisa que não havia acontecido antes. Além do mercado americano, ficou por cima da carne seca ainda em mais outros 28 países, incluindo grandes mercados europeus como Alemanha, Espanha, Dinamarca, Bélgica e Noruega. Vendeu, nesse período, mais – muito mais – que banana em feira: cerca de 5 milhões de discos. E a única estratégia utilizada pelo grupo foi a assinatura de um contrato com a rede varejista Wal-Mart. Sim, meus amigos, nada de colocar música na web e coisa e tal. O grupo australiano, inclusive, não gosta de vender música separadamente no i-tunes, como disse o vocalista Brian Johnson. E, ainda assim, uma empresa que verifica downloads apurou que, entre o dia do vazamento de “Black Ice” e o do lançamento oficial, cerca de 100 mil pessoas baixaram o CD por dia. É mole?

Quem leu com atenção este último parágrafo deve achar que só um discaço poderia causar tamanho alvoroço nos mundos real e virtual. Mas não quero falar sobre o disco agora – e isso aqui não é uma resenha. Mas adianto, de outro lado, que o furor não é causado por “Black Ice”, e, sim, pelo AC/DC. Explico. Em todo o ano de 2008, até outubro, o grupo australiano vendeu cerca de outros 5 milhões de cópias de discos de seu catálogo, só nos Estados Unidos, superando as vendas de catálogo dos Beatles, até então o maior vendedor de discos naquele país. Existe, meus amigos, como está dito lá no título, uma grande onda mundial de AC/DC mania.

Querem mais? Pois então tomem. No dia 23 de outubro, fui à uma festa de lançamento de “Black Ice”, promovida pela gravadora da banda, e um vídeo era passado no telão com inacreditáveis legendas que só aumentavam a confirmação dessa AC/DC mania, e não é de hoje. Entre os dados apresentados, colhi os mais significativos: 1) O AC/DC vendeu mais de 18 milhões de cópias de catálogo desde 2003; 2) É o maior vendedor de catálogo da SONYBMG em todo o mundo; 3) “Live At Castle Donington” é o DVD mais vendido entre todos os artistas da gravadora, e “Family Jewels”, o segundo; 4) O álbum “Back in Black” vendeu mais de 45 milhões em todo o mundo; 5) Entre 2006 e 2007, o catálogo do AC/DC teve um aumento de vendas de 23%, enquanto o mercado vendia em torno de 19% de CDs “físicos”; 6) por fim, o AC/DC é a única banda no mundo que aumenta suas vendas ano após ano. Tá bom pra vocês?

Isso tudo, vejam vocês, não é opinião, não. São os fatos. São os números que não mentem. Até o meu amigo Moderninho de Plantão, embora não consiga entender o porquê, reconheceu a precisão da coluna de Sub-Lucious na Folha de São Paulo, que aponta mais ou menos esses dados que ajuntei ali em cima, embora sempre duvidando que uma banda com 35 anos de estrada, sem apresentar nada de novo (na visão estreita dele) possa se transformar num irrefutável fenômeno de massa. Eles ainda não compreenderam que rock é rock mesmo. Ao menos dessa vez não deram às costas aos fatos. Ponto para eles.

Disse que não era opinião, eram os fatos. Pois a opinião vem agora. O AC/DC virou objeto de desejo depois do sucesso do filme “Escola de Rock”, de 2003. O filme, além de trazer músicas do grupo a trilha sonora, especialmente “It’s a Long Way to The Top (If You Wanna Rock’n’roll)”, que fecha o longa com os créditos já na tela, veste o personagem principal, Dewey Finn (Jack Black), com a clássica indumentária de uniforme de escola usada até hoje pelo guitarrista Angus Young, símbolo do AC/DC. O filme, que cativou desde garotos de idade inferior a 10 anos até velhacos sessentões, detonou um querer pelo AC/DC jamais visto na história do rock. Isso, somado à história e ao legado do grupo australiano, resulta nessa espetacular nova onda de AC/DC mania.

Fato semelhante ocorreu com o excelente “Pulp Fiction – Tempo de Violência”, de Quentin Tarantino, lançado em 1994. Ao utilizar, na trilha sonora, sobretudo temas da surf music dos anos 60, criou uma onda de novas bandas no underground mundial – o americano, principalmente -, além de reinventar o sensacional Dick Dale, o criador da surf music. A onda foi ta grande que veio parar no Brasil, e eu próprio, na saudosa Revista Dynamite, tive uma coluna mensal para apresentar bandas do gênero.

Tenho falado dede o título sobre uma nova onda de AC/DC mania, e explico que uso o “nova” porque, de fato, o AC/DC sempre foi mania em períodos diferentes. Na época de “Back In Black” e “For Those About To Rock We Salute You”, de, respectivamente, 1980 e 1981, vivia-se uma onda desse tipo. Em outros momentos da carreira do grupo, também já foi assim, e hoje isso acontece de forma grandiosa e espetacular, os números são realmente, como disse lá em cima, avassaladores e incontestáveis.

Disse, ainda, que isso aqui não é uma resenha, mas vou falar um pouco do disco. Ou, por outras, de discos do AC/DC. Assim como Ramones e Motörhead, o AC/DC é daquelas bandas que vivem a se repetir, e isso, para elas, ao invés de ser uma coisa pejorativa, é convertida em grande virtude. De modo que se o olhar da crítica não levar isso em conta, desanda qualquer tentativa de avaliação. Porque o AC/DC não faz disco ruim; uns é que são, eventualmente, melhores que outros, e assim vai se levando uma carreira de 35 anos regada à riffs de guitarra, muito peso e rock’n’roll. Que é, convenhamos, o que realmente importa. O resto é falácia, retórica e o escambau.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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