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HUGO MORAIS (RN): SEDENTÁRIO

Desde o começo dos tempos as imagens ficam na nossa mente representando algo. Um símbolo. Qual seria o símbolo para sua banda preferida? A minha banda local preferida foi a General Junkie, hoje é Os Bonnies. Talvez não mude mais de idéia. Qual símbolo representa a banda para mim? Vários. Seu Aldo, Roni, uma garrafa de cachaça. O Paint Brush.

Poucas bandas locais, mentira, não consigo ligar uma banda local com um símbolo. A não ser Os Bonnies. Eles criaram em torno de si uma relação com desenhos, amigos e fãs, porque não, que fideliza. Os vídeos, as músicas, as camisas, o jeito, está presente nos shows, na atitude, no dia-a-dia. Talvez seja isso.

Muitas bandas tem integrantes que são advogados, designers, jornalistas, cabras de pêia, bancários, vagabundos e uma gama de ocupações, que você pode chamar de emprego, que não os liga a banda. Eles quando sobem ao palco, e tocam seus instrumentos, são outras pessoas. Muitos encarnam personagens até achando que aquilo pode mudar o mundo, mudar pelo menos uma pessoa que veja aquele show, capte a mensagem contida numa letra fraca, brega, rala que nem canja e seja iluminado. Tomado por uma verdade mentirosa que traga paz de espírito, alegria, e que mesmo momentaneamente venha mudar algo em sua vida medíocre.

Os Bonnies não querem nada disso, pelo menos não enxergo, eles podem até vir aqui e desmentir. Mas não querem. A música deles é como uma consequência do que eles são. Nela está contida a verdade deles. O sedentarismo, a inquietude, desilusões. E tudo parece verdade. Quando escuto quase consigo ver Tampinha na minha frente com uma dose de cana dizendo: essa gala. Ou Olavo tocando com aquele movimento quase automático de levantar e baixar o joelho. Ou Thiago não cantando, o bicho é introvertido. E Rafael lá atrás esperando um comando para começar a tocar de uma forma tão simples que parece fácil, mas não é.

Depois de três anos, e muita expectativa, finalmente saiu o disco novo no show que eles fizeram na última sexta. Treze novas músicas e com certeza muitas outras ficaram de fora. Talvez falte as bandas essa espera, para analisar melhor quais músicas tenham condição de entrar em um disco. No show de lançamento a aparente calmaria em algumas músicas novas foi logo deixada de lado quando eles tocaram seus hits que fizeram muitos dançar, cantar, tomar uma. Ou simplesmente ficar observando. As 13 músicas deles já escutei sete vezes em três dias. Coisa difícil nesses dias que centenas de músicas chegam ao mesmo tempo.

Talvez tudo isso seja fruto da banda ser sincera, não que outras não sejam, mas eles parecem ser mais. Como já foi escrito acima, as músicas, desenhos, vídeos, são consequência do que eles são. Não são um produto, fazem parte deles, de forma que uma coisa não existe sem a outra. Vida longa, mais discos pela frente, shows e combustível para impulsionar tudo isso.

Foto: Débora Ramos

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