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HUGO MORAIS (RN): RAIMUNDOS – RAIMUNDOS

Quem consegue imaginar o disco de estréia do Raimundos sendo produzido hoje? Eu não consigo. Mas em 1994 o politicamente correto ainda não estava tão em voga. Hoje antes de falar temos que pensar duas vezes.

A primeira vez que vi e ouvi Fred, Canisso, Digão e Rodolfo foi num programa que não lembro o nome. Ele passava nas tardes de sábado na Globo. Sábados que duraram muito pouco. O programa era apresentado por Thunderbird e as bandas tocavam de verdade. Tinha de tudo, desde pagode até rock. Tudo convivendo pacificamente durante um mês mais ou menos. Fim de programa e estrago feito. Lá a banda que vinha de Brasília, mas possuía laços fortes com o Nordeste, tocou Puteiro em João Pessoa. Dali em diante o Raimundos estava diariamente na MTV, que naquela época se dedicava integralmente a música, e tocando Brasil afora.

Da tv, a banda passou a integrar o 3 em 1 Polyvox do meu pai, mas apenas em sua ausência. Motivo? Não são poucos: ela pegou no meu pau, pôs na boca e depois ficou de quatro; caralho de asa; vou soltar peido bem forte; arranco-lhe o cabaço; rapa de buceta; enrabada; não é assim que se fode não; vou te botar de quatro e meter bem no teu roxo; peitos; pentelhos; mijo; cú; pingelo; pau; buceta; xereca. Tá bom ou quer mais? Tem mais. Eles falam em pedra, em maconha, em birita. Pode-se ouvir carreiras sendo esticadas e cheiradas, bem como baseados sendo degustados. E eles ainda queriam ser o selim da bicicleta, pra ficar bem no meio das pernas e sentir o seu ânus suar. O seu.

Essa foi a trilha sonora de uma boa época. Para ser bem sincero, acho que escutamos esse disco, escutamos porque éramos cinco: eu, Renato, Felipe, Marcelo e Uerley, durante dois anos. Bem como escutamos muito Da Lama ao Caos e Samba Esquema Noise. Hoje isso é impensável. Um disco dura o exato momento do player (do mp3, do som do caro com mp3, do celular com mp3, do Ipod) mudar o “disco”. Foi lá, quase quinze anos… E nós com quinze, dezesseis anos. O auge da aborrecência, das biritas, da contestação. E vimos o Raimundos em pleno Circo da Folia, não em Pirangi, mas na avenida Amintas Barros onde hoje é o restaurante Mangai. Lá, debaixo duma lona de circo e de um temporal, umas duas centenas de pessoas se bateram e até arrancaram os cabelos de Caniço quando o mesmo deu um mosh.

Mas o que danado esse disco tinha de tão especial? Na virada dos anos 80 para 90, ainda reinava aquela brisa pop resultante da New Wave e da Dance Music, seja lá o que for isso. Claro que existiam boas bandas de rock. De estilos bem variados. Mas como o Raimundos não. Irreverentes, imorais, agressivos e inovadores sonoramente não. A inovação sonora foi semelhante a que promoveram os criadores dos dois discos citados acima e que vinham de Recife. Forró, Repente, Metal, Hardcore, Punk. Tudo isso aliado a letras engraçadas, pessoais ou fictícias, que remetiam ao uso de drogas, ao sexo, a mulher como objeto, ao preconceito com homossexuais. Riffs certeiros e pesados de Digão estavam lado a lado com um baixo muito alto de Canisso, bateria rápida de Fred, sanfona de Zenilton e até a um triângulo ou violão.

No último domingo o programa Discoteca MTV dissecou o álbum com a ajuda de Digão, Fred, Canisso, Miranda (o produtor da pérola) e outros envolvidos. Rodolfo também apareceu, em depoimentos colhidos na época que ele estava na emissora diariamente. Hoje, como todos sabem, ele é um distinto cavalheiro evangélico que renega tudo que produziu à época.

O disco, sem sombra de dúvidas, é um dos mais importantes da história do rock nacional e pode entrar em qualquer lista. Um disco que deixa de lado a hipocrisia, o reclamismo intelectual, o culto e cópia ao que vem de fora. Ali a criatividade esteve presente do início ao fim lado a lado com um rock barulhento, mas de qualidade. E ainda reverberou em Lavô Tá Novo. Mas o que se viu e ouviu adiante foi uma mudança progressiva que enterrou a banda. Vez ou outra vemos um dos integrantes querendo ressuscitar – como Fred que veio a Natal com o Supergalo ano passado ao Festival DoSol ou Digão que também ano passado formou uma dupla, de sabe lá o quê, e depois de uma aparição no Youtube nunca mais ouvi falar. A verdade é que nenhum vai superar o que foi produzido. Vão viver a lembrar a época de ouro da banda. Época que se consumia música, hoje a música nos consome.

Arroche e baixe o disco AQUI.

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4 Comments

  1. Menos “Pedrinho”, bem menos………. escutei raimundos quando muleque, mas ta loooooooooonge deles serem melhor banda em qq estilo que os queiram classificar.

  2. Eu lembro demais do TV zona pow!

    foi lá que eu conheci o raimundos tmb… eu morava ao lado do finado Teatro Fenix… no jardim botanico.
    lembro ter visto pela primeira vez o Skank tocando “indignado” eu ate gostava dessa musica.
    hehehehehe

    o tunder muito gente boa.. era legal o programa. demais ate para os padroes globo.

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