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HUGO MORAIS (RN): O MERCADINHO E O MERCADÃO

Muito tem se falado, discutido, principalmente nas listas de discussão virtuais, sobre o cenário independente que a cada dia cresce mais e toma ares de mainstream. Há quem ache que querer chegar no topo é errado, há quem discorde. Falar em underground hoje ainda é válido? Pra mim não. O underground como conheço desapareceu com o avanço absurdo da tecnologia, de comunicação principalmente. Qualquer banda tem seu MySpace, seu Fotolog, seu Orkut. Ou seja, isso não é underground, não passa nem perto. Claro que há uma cadeia produtiva a margem das grandes gravadoras, cada dia mais decadentes. Mas esse “a margem” está cada dia mais perto do grande público, e espero que um dia tome conta de tudo.

Há como sobreviver sem ser duma grande gravadora? Há, tem centenas de bandas para provar isso. Uma que gosto muito, mas muito mesmo, e vive assim é a Autoramas. O trio vive fazendo shows fora do Brasil e aqui mesmo, o ano inteiro. É uma turnê constante. Europa, Ásia, América do Sul. Isso tudo se deve muito a Gabriel Thomaz que ainda tem a Gravadora Discos e tem uma larga experiência do tal Underground com a extinta Little Quail And The Mad Birds. Viajaram até de carro pelo interior do Centro Oeste procurando lugares para tocar. Na roubada mesmo.

É dessa época que surgem os primeiros festivais independentes, Humaitá Pra Peixe, Junta Tribo, Abril ProRock e outros, espalhando a semente do que hoje conhecemos. A coisa cresceu tanto que numa cidade como Natal, relativamente pequena, temos dois dos mais importantes festivais. E foi necessário a criação da ABRAFIN para botar ordem na coisa. Pra dar respaldo a uma movimentação que existiu e continuaria existindo mesmo sem as verbas públicas, porque há a necessidade de fugir do lugar comum. Mas aí entram questões espinhosas como: ganhar dinheiro, ser estrela, viver no mercado mediano. Muitos outros pontos podem ser tocados. Mas parece que ganhar dinheiro e ser estrela andam lado a lado, o que não é verdade. Tem quem seja estrela e não tenha um puto, e vice-versa. O papo vai longe, entonci, na minha modesta opinião não há como dizer o que é certo e o que é errado. Isso é da cabeça de cada um, como ética. É construída no dia-a-dia. Eu acho que se pode ganhar grana, ser estrela e continuar no mercado dito médio. Cada um só tem que ponderar o preço a se pagar para obter o desejado, pra depois não ficar reclamando ou botando banca a toa.

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