Natal, Notícias

MEMÓRIAS CARNATALESCAS…

Por Hugo Morais (bemvindoboaviagem)
Quinta-feira, sexta e sábado. Sempre a tarde nos reuníamos para abrir os trabalhos. Casa de Pelúcio a beira-mar de Cotovelo, casa de Bob, minha casa. Cervejas, tira-gosto a vontade e rock nos ouvidos. Prévia de Carnatal. Passados quase dez anos, ainda me vêem a memória, nitidamente, as farras promovidas pelos quatro amigos. É, já fui freqüentador de Carnatal. Não do jeito tradicional. Íamos para avacalhar, beber, farrear e rir muito.

Três dias de farra, três prévias. Lança, fumo e cerveja. As vezes uma cachacinha. E lá íamos eu, Bob, Pelúcio e Traveco para os arredores do Machadão. O ponto principal era na Miguel Castro com Romualdo Galvão. Estrategicamente debaixo de um poste. Dias antes providenciamos a confecção de um carro tubular (eu fechava os olhos e segurava os tubos e Pelúcio soldava) com rodinhas para aconchegar a caixa de isopor que comportava umas oito caixas de cerveja em lata ou duas grades de garrafas. Fizemos também nosso abadá, camisetas com o desenho duma mulher arreganhada com uma fogueira entre as pernas, sobre ela o título: Fogo na bacurinha. O bloco Taras estava fundado. Quatro integrantes.

Quinta-feira, assim que chegamos na Miguel Castro, assim que colocamos o carro de cerveja na pista, recebemos uma proposta de compra. “Claro, cinco reais a cerveja”. O indivíduo faltou ter um ataque: “Tá maluco? Ali em cima custa R$ 2.50 duas”. Para piorar ainda rimos da cara dele. “Se quiser é cinco”. Saiu soltando cobras e lagartos. Chegando ao ponto onde nosso bloco ficava, reiniciamos os trabalhos parados em Cotovelo. Em público, cerveja. Na entoca, lança e um fuminho. Íamos em dupla e quando voltávamos para o ponto, os outros dois iam completar o rodízio.

Já estávamos todos altos quando Bob se aventurou a sacudir a corda de isolamento. Mesmo altos, não entramos na brincadeira. Ainda avisamos a ele, “tu vai se foder”. “Porra nenhuma, olha esses cordeiros”. Olhando a movimentação, distraídos, nem vimos que caminhão passou por cima de Bob, ele que se gabava de ser forte, estava no chão, encostado no meio-fio, deitado na lama que corria, atordoado. Olhamos bloco adentro e ainda vimos o “caminhão” de quase dois metros de altura por um e meio de largura. Caímos na risada. Ajudamos o demente a se levantar. O abadá teve que ser tirado, mas não teve problema, ele não foi expulso do bloco.

Em dado momento resolvemos dar uma volta, eu e Bob, olhar a movimentação nas ruas adjacentes. Nos engraçamos por duas meninas, uma loura e uma morena. Gaúcha e paulista. Oferecemos o que tínhamos nas pochetes e seguimos em frente. Elas disseram que nunca tinham “escutado o helicóptero”. Duvidamos, mas tudo bem. Chegando em frente a Autobraz, por trás de dois caminhões partimos para o ataque. Duas cheiradas de lança e elas estariam no papo. Depois de passar o efeito helicóptero ouvimos Bob nos chamando: “Chega porra, a menina apagou”. Era verdade, elas nunca tinham cheirado. A menina caiu por cima de um mendigo que dormia tão camuflado que não percebemos sua presença. Acordou agradecendo a benção, olhando pro céu. Também, não é todo dia que uma loura bonita cai no colo da gente. Na hora ninguém achou graça, mas depois rimos muito. Depois de uns sacolejos embalados pelo aperreio, “porra, essa menina tem que acordar, se não acordar estou fodido”, ela acordou. Sem saber nem onde estava. Disparada que era, caiu de nariz de novo. Voltamos ao Bat-local. Bebemos muito, fuleiramos geral e fomos embora.

Na sexta não foi diferente. Começamos os trabalhos eu, Pelúcio e Bob, na casa do mesmo. E tome birita. Alguém lembra dumas latinhas de cerveja importadas que tinham 250 ml? Não lembro a marca. Mas tomamos muitas. Embalados pelo filme “Faces da morte”. Parei de assistir na mudança de sexo. Puta merda. Coisa horrível. Saímos de lá com uma garrafa de cana embaixo do braço.

Encontramos com Traveco e sua namorada no ponto de sempre. Reabrimos os trabalhos. Depois de muita triatlon, deixados Traveco e sua namorada tomando conta do carro de cerveja e fomos dar uma volta. Paramos no banheiro do restaurante Viver na Prudente de Morais, onde a mãe da namorada de Traveco estava. Uma borrifada de lança para cada um e lá vem o helicóptero. Quando voltamos, lá estava Bob de novo no chão. Desta vez no chão de um banheiro masculino, em pleno Carnatal. Preciso dizer algo mais? Lá se vai o abadá de novo. Depois da via crucis que foi a volta em meio a passagem do Chiclete com Banana, encontramos Traveco e sua namorada putos. O Chiclete passou por lá e foi preciso encostarem o carrinho de cerveja no poste e subir em cima para não levarem os três.

Pouco tempo depois aparece Ameba com um amigo. Queriam entrar no bloco. Aceitamos com a condição de no outro dia trazerem umas cervejas. Combinado. Num desses rodízios do lança, o amigo de Ameba percebeu a movimentação e foi junto comigo e Traveco. Encostamos num bugre Baby e tome cheirar. Quando voltamos encontramos o indivíduo que tinha mais ou menos um metro e noventa deitado em cima do bugre. Apagado. Puta merda, duas vezes é foda. E lá fomos nós sacudir o fela. De repente ele acordou, nos olhou e deu um murro em cada um. Caímos sobre a calçada. Filho da puta. Voltamos para a concentração e ele não estava lá. Demos um rela em Ameba.

Quando eu pensei que as coisas estavam esfriando, Bob saca a vara de pescar com um abridor de garrafa em forma de cacete na ponta. Começa a sacudir dentro do bloco. Uns gaiatos e gaiatas tiravam onda querendo dar uma chupadinha. Outros desviavam. De repente um tarado arrancou o cacete. Bob e Pelúcio não contaram conversa, pularam a corda e foram atrás do cara. Depois de meia hora reapareceram. Nesse meio tempo quase que nos levam, de novo, quando passou o Chiclete com Banana. O susto foi grande.

Depois de muita birita e outras coisinhas mais, estávamos vendendo três cervejas por R$ 2.00. Cansados, fomos embora. Fui a pé ao ponto de ônibus, Devia ter uns dez ônibus parados. Entrei no menos vago. Ponta Negra-Rocas e esperei ele rumar a Cidade Jardim. Acordei acordado pelo cobrador que ria de canto de boca: “É melhor tu descer aqui”. E eu: “Porque?”. “Porque é o ponto final”. E lá estava a igrejinha da Vila e o Bar do Buraco. Puta que pariu. Ainda dormi uma meia hora antes de pegar o ônibus de volta e quase passar do ponto de novo. Depois desses dois dias não tivemos mais disposição para o sábado. Eita cachaças boas. Hoje um amigo está longe, o outro ocupa um grande cargo que não deixa mais espaço para esse tipo de coisa, eu estou casado e com uma filha, e o Traveco continua do mesmo jeito. Coisas da juventude. Hoje não queremos nem passar perto do Machadão em tempos de Carnatal.

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3 Comments

  1. Que bosta! [2]

    Qual o interesse de alguem que entra no “dosol.com.br” que é um portal de ROCK, em ler uma resenha praticamente falando bem do carnatal ? 😛

    Coisas a favor do carnatal eu escuto todo dia por conhecidos.
    Você escreve bem Hugo, mas acho que você deveria escolher uns temas melhores, preferêncialmente falando sobre rock e seus derivados, lógico que oque você vai falar fica a seu critério, mas só uma sugestão.

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