O Seu Zé está na ativa desde 2003, cria dos amigos Fell (guitarra e voz) e Lipe(baixo e voz) companheiros na banda República 5. Escalaram Augusto (guitarra) e Xandi (bateria) para completar o quarteto e partiram para formar uma das bandas mais completas de Natal. Muitos torcem o nariz para o estilo carregado de nordestinidade da banda, coisa já superada segundo Lipe. Já outros torcem o nariz para o fato deles serem muito profissionais. Como se isso fosse problema. É por essas e por outras que a banda tem um grande público em Natal que em todo show canta junto com a banda e até faz brinde com “Sai Galada”. Se muitas bandas querem tocar, eles querem fazer show, espetáculo, por isso investem em figurino e até em shows teatrais. Confira a entrevista com Lipe e Fell.
No show na Casa da Ribeira, no Warm Up, foi o primeiro show que vi de vocês há muito tempo. Vi os novos equipamentos. Como eles vem ajudando a banda?
Há algum tempo estamos investindo uma grana considerável no upgrade do equipamento da banda. Além de instrumentos novos, estamos buscando conhecer outros equipamentos para fugir um pouco da fórmula “guitarra, baixo e bateria”. Não pretendemos fazer nada de muito inovador com isso. A intenção é de pesquisa de sonoridades, timbres e “texturas” diferentes. No ano passado tiramos o Dark Side of The Moon do armário e resolvemos brincar de Roger Waters. Estamos usando um equipamento da Korg, chamado Kaoss Pad. É uma espécie de sampler com timbres prontos, que a gente usou na gravação do último compacto e que têm funcionado muito bem ao vivo. Alguns sons e timbres dele lembram muito o theremin.
Vocês sempre foram preocupados com a produção da banda além da parte musical: figurino, equipamentos, marketing, arte dos discos e etc. Quando vocês se deram conta de que isso também é importante?
Já a partir do surgimento da banda quando participamos do Pop Rock Tropical em 2003. Um ano antes, com a banda República 5, eu (FeLL) e Lipe havíamos participado desse festival e pude perceber que a banda vencedora tinha um produtor bem articulado que mandou confeccionar folders, camisetas e fez uma boa divulgação boca-a-boca. Daí no ano seguinte, já com o SeuZé, e com apoio de uma produtora pra correr atrás das coisas, a gente mandou criar uma logomarca, produzir camisa, folder, usamos bem o espaço da rádio e divulgamos muito no boca-a-boca. Depois disso, quando eu e a produtora (Brunna Brok) entramos na faculdade, começamos a nos interessar em marketing e administração. E aí a gente já confiava bem nas nossas músicas (é importante acreditar nas composições) e fomos lapidando essa parte mais “institucional”, que influencia até mesmo na qualidade do som quando, por exemplo, decidimos que temos que conseguir um jeito de comprar equipamentos bons, mandar elaborar boas imagens gráficas nos nossos trabalhos, vestir-se com identidade e buscar um meio de realizar nosso plano de gravar o primeiro disco. No entanto, nesse ano de 2003 aprendemos o mais importante, em minha opinião: Ter proatividade e não cair no reclamismo!
Falta isso às demais bandas? Se preocupar mais com as demais etapas do processo musical?
Eu creio que hoje as bandas até já entendem dessa parte que estou chamando de “institucional”. O erro eu creio que está na falta de iniciativa das bandas para fazer as ações planejadas acontecerem. Aliás, isso se é que alguma banda faz algum tipo de planejamento prévio né? Muitas vezes vejo boas fotos de bandas, pessoal cheio de estilo e personalidade na vestimenta. Mas aí na hora de agir ou até mesmo de mostrar o som deixam a desejar. Ou então os caras não confiam nas composições da banda, organizam todo o “institucional”, mas tocam mais covers, dando a impressão de que têm até vergonha das próprias composições. É o que me parece, uma opinião minha mesmo. Isso eu falo quando sei que a banda tem música autoral, pois tem banda que se lança como cover e é assim que eles querem mesmo. Nada contra. Mentira! Tenho alguma coisa contra sim, mas não sei agora como expressar.
Outra coisa diferente que está presente no mais novo trabalho de vocês “A Comédia Humana – Solidão” é a presença de uma faixa multimídia com fotos, letras, cifras e outras coisas. Porque incluir isso no disco?
Isso tem a ver com a idéia da inovação, com o diferencial. Buscamos nesse novo trabalho fugir mais da estética sertão, seca, nordeste. Não é que nos arrependemos, muito pelo contrário, adoramos tocar as músicas do primeiro disco que abordam esses temas, mas buscamos sempre por inovar nas composições, nos tipos de eventos que produzimos, etc. “A Comédia Humana – Solidão” teve muita coisa que veio com caráter inovador, a começar com o próprio disco que sugere um tipo de produto novo. O disco multimídia é uma idéia que já vinha sendo maturada desde quando o General Junkie lançou seu primeiro disco com uma faixa multimídia contendo informações sobre o patrocinador do disco deles. Achei a idéia muito boa, muito forte para agregar valor. Quando conseguimos apoio do Studio R para gravar as músicas e da Ponto Criativo pra desenvolver a faixa multimídia, era a oportunidade batendo à porta. Além disso, o multimídia é uma forma de colocar em produto um videoclipe, por exemplo. O clipe é uma coisa que não se vende, só se exibe (TV, YouTube, Site, etc), porque a característica dele, ao meu ver, é promover o trabalho e os lançamentos da banda. Então, como a gente não toca na MTV ou nos programas que exibem clipe, nada melhor do que o disco multimídia para fazer a circulação do clipe.
Vocês disseram que tem mais músicas, mas priorizaram lançar separadamente em vários discos temáticos. Depois pretendem juntar todos e lançar um álbum?
Sim. Isso vai depender se conseguirmos o incentivo da Lei Djalma Maranhão. Se isso acontecer a gente já lança toda a idéia em um só disco. Caso contrário, iremos fazer discos com cerca de 5 faixas mais o multimídia e lançar no tempo devido.
Percebi nesse trabalho recente um, digamos, amadurecimento. As temáticas regionais ficaram de lado e até as influências musicais ficaram mais abrangentes. É isso mesmo?
Essa questão da nordestinidade no SeuZé é um assunto bem complicado. Essa foi uma identidade que a gente buscou e criou no começo da banda. No começo de 2003, quando tivemos as primeiras reuniões para pensar na parte conceitual, sobre que imagem queríamos passar com o SeuZé. Achamos que a mais adequada para aquele momento seria a regional nordestina, com toda a simbologia que essa expressão traz: sertão, seca, forró, xote. Na realidade, quando eu e FeLL convidamos Augusto e Xandi para montar a banda, estávamos viciados no 2º disco do Jorge Cabeleira (e o Dia em que Seremos Todos Inúteis – Vendem-se Asas para o Carnaval); na mistura de blues e rock com os tais “ritmos regionais” que eles faziam. Entregamos esse disco para os dois e dissemos: “é mais ou menos isso o que queremos fazer”. E de fato, as primeiras canções que compusemos estavam inseridas nesse contexto. Aí, nesse momento inicial, todo o conceito da banda foi pensado nesse sentido. Procuramos um nome que de alguma maneira remetesse a essa regionalidade; com a logomarca da banda idem; os figurinos dos primeiros shows, também. Mas, quando continuamos o processo de composição, as músicas que foram surgindo nada tinham a ver com aquela imagem que tínhamos buscado construir conscientemente e que já estava consolidada. O resultado: éramos entendidos como uma banda que expressava a “nordestinidade”e gravamos um disco, que pelo menos em 50% das suas canções, não tinha nada a ver com essa idéia de Nordeste seco, pobre e faminto, não se inserindo em nenhum tipo de regionalismo. As músicas do novo disco podem surpreender muita gente que está esperando aquele SeuZé nordestino que, na verdade, nunca foi essa unanimidade toda. Dá para linkar, sem muito esforço, as músicas desse novo trabalho com as do primeiro disco que não estão inseridas, nem tratam de temáticas ditas regionais.
O Seu Zé é uma das bandas que tem o público mais heterogêneo. A quê vocês devem isso?
A gente sempre teve a preocupação de circular pelos palcos mais distintos possíveis. Nossos primeiros shows relevantes aconteceram em calouradas e outros eventos da UFRN. Isso em 2003 e 2004. Como tivemos uma boa aceitação, identificamos que o público universitário era o nosso público alvo. Já fizemos alguns shows memoráveis por lá. Há uns dois meses, depois de um bom tempo sem tocar por lá, fizemos um show numa calourada de Artes. Foi uma loucura! Mas, sempre tentamos desenvolver outros projetos e parcerias que nos permitissem não ficar presos ao circuito dos bares e festivais da cidade. Desde 2005 que participamos, junto do CIS, um curso isolado de História aqui de Natal, de um aulão temático para alunos de cursinho e pré-vestibular. Eu e Xandi temos formação na área de História. Os professores do cursinho preparam o roteiro da aula e a gente escolhe canções para relacionar com os conteúdos abordados. Uma idéia que parece simples e restrita, potencializou o nosso público nessa faixa etária. A cada ano participamos de pelo menos 2 aulões desses. Cada um com um público entre 600 e 700 pessoas. Essa meninada não costuma freqüentar os bares nos quais a gente costuma tocar à noite e de madrugada, mas está lá no site baixando as músicas, repassando para os amigos, comentando no Orkut da banda. Também temos uma aceitação legal de um público mais velho, com mais de 35 anos. Não sei se isso é decorrente do lado cênico que temos nos shows ao vivo. Talvez seja o fato de, na nossa música, haver elementos do que convencionou chamar de MPB. Não sei. Isso é assunto para um estudo antropológico. O fato é que a gente tem uma posição consciente em relação a isso. Se vamos nos apresentar em um lugar que a grande maioria do público presente será mais velho, buscaremos nas nossas canções as que mais se adeqüem a essa ocasião.
Para encerrar, muitas bandas mais antigas estão mais paradas e estão surgindo outras mais novas preocupadas em fazer coisas diferentes. Vocês acham que a produção de rock natalense está evoluindo?
Eu não sei bem se trata-se de uma evolução. Para ser sincero, eu busco sempre acompanhar as bandas novas que vão surgindo por aqui e não vejo ninguém fazendo algo realmente diferente. Relevante sim, mas diferente não. Temos sim algumas bandas novas muito boas que começaram a aparecer por aqui nos últimos dois anos, ou de um ano para cá, como o Lunares e o Bandini. Se situarmos essas bandas em Natal, elas estão realmente fazendo uma coisa diferente do que costuma se ouvir por aqui. Mas, com a forma de divulgação atual, concentrada basicamente na Internet, não dá para conceber uma banda pensando nas fronteiras da sua cidade de origem. Resumindo e continuando nos exemplos que estou usando, não é todo mundo aqui em Natal que vai reconhecer a influência do Interpol no Bandini e do Coldplay e outros artistas ingleses mais recentes, no Lunares. Não quero dizer que essas bandas são apenas isso. Mas se as situarmos num cenário mais amplo, que é a lógica da internet, vamos ver que a representatividade delas, em temos de inovação é bem maior aqui do que fora. De toda forma, é muito bom ver bandas novas como Lunares, Bandini, DOMBEN e Eletrobilhar aparecerem. É legal para a cidade como um todo, para os festivais, e para o público.. Há uns 3 anos atrás, muita gente devia não agüentar mais ver os nomes de SeuZé, Jane Fonda, Zero8Quatro, Bugs e Bonnies nas listas dos festivais locais e dos bares da cidade.
Visite o site cheio de recursos deles e baixe o EP dos cabras clicando na capa.