Fonte: http://www.reciferock.com.br
O primeiro dia da décima edição do festival Mada mostrou que uma das suas principais qualidades torna-se também o seu maior defeito: a diversidade de estilos entre suas atrações. Se por um lado é saudável privilegiar as diferenças, por outro, tamanha falta de uniformidade entre as atrações deixa todos (público e imprensa) um tanto tontos e confusos: teve poesia eletrônica musicada, indie, reggae, rock carioca (terrível, por sinal), rockão, punk-eletrificado-uruguaio e...O Rappa.. Difícil assimilar tanta variedade em uma só noite.
Outra coisa que chama a atenção é o comportamento do público do festival. Poucos shows empolgam os pagantes do Mada, dispersos e desinteressados do que acontece no palco na maior parte do tempo. Exceção feita ao Rappa, único momento de catarse do primeiro dia. Fora eles, a indiferença reinava soberana.
A estrutura da Arena do Imirá continua impressionando. Dois palcos gigantes ladeados que, pelo menos na primiera noite, ofereceram ótima estrura técnica para os artistas.
Um público ainda bem minguado conferiu o irregular show de abertura do talentoso Poetas Elétricos. Se antes a banda primava acertadamente pela palavra e deixava a música apenas como pano de fundo, agora resolveu empatar o jogo. A música deixou de ser um elemento secundário para dar uma roupagem um tanto equivocada às novas composições idem. Pairou no ar uma mistura de Titãs com Blitz, empobrecendo alguns bons versos na tentativa infeliz de soar engraçadinho com trocadilhos bem pobres, vide “Jessica Lange/ Jessica Longe, Jessica Lounge”. Inegável que há talento na banda, mas ele ficava mais evidente em fases passadas.
Selecionada através do Radar Indie, a Amps & Lina teve um começo de show bem atribulado. Nervosos, desafinaram nas duas primeiras músicas, ficaram sem som no violino até metade da apresentação e as coisas pareceram fluir mesmo apenas nas duas últimas músicas. Tocando para um público um pouquinho maior que o do Poetas Elétricos, o Amps & Lina acabou não repetindo a excelente apresentação que fizera no Pátio do Rock do ano passado. Mas também não comprometeu. No mais, é aquela velha coisa: não existe meio-termo na corda bamba em que a banda se equilibra: aprecia-se ou rejeita-se à primeira vista. Não foi diferente em Natal.
Constrangedor mesmo foi o tal do NV, banda carioca que consegue piorar ainda mais a dialética paulistana “charliebrowoniana”. Com letras pobres (e bota pobre nisso) que poderiam servir perfeitamente como trilha sonora de academia de musculação (na linha “seja forte, ame a natureza e preze amigos que não têm preço”), o grupo fará um favor aos ouvidos e cérebros alheios se encerrar suas atividades hoje. Aliás, ontem…
Quem vem evoluindo a olhos vistos em cada apresentação é o Sweet Fanny Adams. Com domínio de palco, técnica apurada e boas composições na linha pós-Strokes, o grupo fez uma apresentação impecável, mas foi recebido com indiferença pelo frio público potiguar.
A coisa mudou um pouco de figura com o local Rastafeeling. Banda de reggae redondinha, muito bem ensaiada, com boas músicas em português e inglês, foi a única a despertar interesse na noite fora o Rappa. Goste-se ou não de reggae (eu detesto), não dá para não reconhecer que é uma boa banda do estilo.
Das atrações nacionais, quem fez o melhor show foi o excelente Brand New Hate. Banda com ótima pegada, presença de palco e uma sonoridade marcante que casa velocidade com rock de raiz e uma urgência juvenil que também pode ser chamada de raça. Eis uma banda que mostra vontade em cena, passa a nítida sensação de estar se divertindo no palco e faz quem está fora dele se divertir pacas também. Belíssimo grupo potiguar com uma estrada promissora pela frente. Mas, infelizmente, foi solenemente ignorado pelo público.
O mesmo aconteceu com o inclassificável Motosierra, dono do melhor show da noite, e de um dos melhores que já vi na vida. Com uma sonoridade única, que mescla a pegada do punk com doses cavalares de hardcore super-acelerado e consistente com riffões contagiantes, ninguém parecia dar bola para a maravilhosa apresentação que o grupo fazia no palco. Não adiantou chamar palavrões em português ou mesmo mostrar a bunda para chamar a atenção. Nem tampouco convidar um cara e uma menina da platéia para uma versão desajeitada e deliciosa de “Rock n’ Roll All Night”, do Kiss, que fechou a apresentação dos uruguaios. O público queria o mais do mesmo do mais do mesmo do Rappa…
E ele veio. Após fogos de artifício promovidos por um dos patrocinadores e aqueles efeitos especiais utilizados em finais de copa do mundo, Falcão surgiu para o delírio das poucas mais de quatro mil pessoas, que compareceram ao local apenas para cantar os sucessos dos cariocas, todos eles vertidos em chatíssimas versões dub, de dar sono em qualquer um que não é fã de carteirinha da banda. Foi a senha para dormir mesmo, que ainda teria muito chão no segundo dia de festival.