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CAETANO VELOSO EM NATAL DIA 23 DE AGOSTO.

caetano

Acompanhe matéria que saiu na Tribuna do Norte de hoje sobre o show:

http://tribunadonorte.com.br/noticia.php?id=115986

Por Michelle Ferret

Os acordes da guitarra rasgada abrem o novo trabalho do compositor Caetano Veloso. “Pariu, cuspiu, expeliu/ um deus um bicho um homem (…) são cem, são mil, são cem mil, milhão/ do mal, do bem, lá vem um”… os versos tão cortantes quanto a guitarra dão espaço para o inusitado.

Zii e Zie – que significa em italiano tios e tias – foi tecido com linhas de diferentes cores. Como ele mesmo escreveu no seu site. “Escolhi o nome pela impressão curiosa (e bela) que essas palavras simples causam quando escritas juntas. As encontrei assim na tradução italiana de Istambul, de Orhan Pamuk, que li na ida à Turquia, presente de uma italiana espectadora assídua dos meus shows. É um modo livre, misterioso e revelador de coisas que não sei, de nomear um disco tão lançado à aventura”.

Essa aventura foi o despertar de Caetano para o coletivo, quando ele abriu seu trabalho a uma multidão nos mares inquietos da internet e teve a contribuição de diferentes músicos brasileiros durante uma série de concertos realizados no Rio de Janeiro em 2008, chamados de “Obra em Progresso”.

Como uma vitrine de informações, a ligação da criação com o público aconteceu no espaço virtual www.obraemprogresso.com.br, quando Caetano a cada semana ia disponibilizando as letras das músicas, os vídeos dos shows e abria para discussões seu próprio trabalho. A atitude rendeu ao compositor um lugar na ousadia, onde ele costuma se abrigar, oferecendo a quem quisesse a oportunidade de acompanhar de perto todo seu processo criativo, inclusive aos filmes e livros que ele ia lendo pelo caminho durante a criação. Um exemplo interessante do compartilhamento de informações foi o processo de inserção da canção “Incompatibilidade de Gênios” de João Bosco e Aldir Blanc. Caetano disponibilizou duas versões no youtube para que os leitores comentassem qual seria a mais interessante para entrar no disco.

A vibração do disco, como o próprio Caetano afirma vem do samba. “O ponto de partida foi desenvolver os tratamentos do ritmo de samba na guitarra elétrica”. Há quem diga e a crítica brasileira caiu em cima, que de samba nada tem nesse rock. Mas se prestarmos atenção demoradamente entre os acordes gritantes e a base rítmica do disco, o samba está de uma maneira sorrateira e calma, sem alardes. Ou como disse Hermano Vianna, quem acompanhou todo o processo do disco. “Este aqui é o transamba que vamos dançar ao redor de Caetano em sua Obra em Progresso”.

Seja lá se trans, se samba ou rock, a poesia de Caetano continua dilacerante e viva do início ao fim do disco. Mesmo na canção “Cor Amarela”, quando as referências ao coco de roda – com pitadas de axé – são audíveis e incomodaram muito a crítica, quando a menina preta de biquíni amarelo se balança entre as ondas baianas e cariocas, como quis Caetano.

Acompanhado dos mesmos músicos do último disco “Cê”, Caetano foi além com a criação junto a Pedro Sá, Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado, trazendo referências de diferentes ritmos.

Um exemplo é a canção “Ingenuidade”, que começa com uma caixa tocada secamente – sem acordes – para entrar a voz de Caetano com a poesia de Serafim Adriano… “não eu não podia me enganar assim como uma criança qualquer que veio ao mundo bem depois de mim”… deixando os ouvidos atentos para a viagem musical ora lembrando um carimbó, sem ser. Junto a letras de protesto e outras de amor, uma das canções mais belas do disco é “Sem Cais”, feita em parceria com Pedro Sá. Ouvindo o disco na sequencia, ela é um bálsamo quando a guitarra entra mais leve, quase como um pequeno dedilhado entre o dissonante, levando a poesia para ninar, quando Caetano com sua voz inconfundível “catei colo e o mar parou/ fui deitando pra perguntar/ nome, bairro, amigo, amor/ de onde vem parar o mar/ seu sorriso bateu aqui/ inda posso me apaixonar”.

Na sequencia, “por quem?”, abrindo para a canção polêmica “Lobão tem razão”, quando Caetano diz que o mundo acabou e responde a Lobão por suas críticas. Na verdade é além de uma resposta, mas um delicioso possível diálogo numa chuva vagarosa. “Lobão tem razão irmão meu Lobão/ chega de verdade/ é o que a mulher diz/ tou tão infeliz/ um crucificado deitado ao lado/ os nervos tremem no chão do quarto/ por onde o semen se espalhou”.

Outra canção interessante do disco é “Base de Guantánamo”, uma crítica ao “fato de os americanos desrespeitarem os direitos humanos em solo cubano é por demais forte simbolicamente para eu não me abalar”, como o próprio Caetano diz. E como numa canção recitada, como um rap, Caetano repete incessantemente:

Para ouvir o disco o bom é trazer para respirar a realidade, a atualidade e utilizar do oxigênio que respiramos hoje no ano 2009. É um disco contemporâneo e bonito, cheio de acordes que doem e acariciam os ouvidos – é verdade – mas dotado também de uma singularidade poética como Caetano sabe escrever.

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4 Comments

  1. O show é dia 23, sim! e No lugar que foi extraído essa matéria, no jornal, tem um anúncio do próprio show com a data em letra garrafal. =D

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