A sociedade americana contemporânea possui três grandes cronistas dos seus costumes, suas paranóias e da vida que na maioria das vezes passa ao largo do que comumente se traveste com o glamour do império. Philip Roth, na literatura, Bob Dylan na música e Gus Van Sant no cinema.
O último, com assaz fidelidade aos reflexos dessa sociedade na juventude, principalmente nos adolescentes. Com tanto esmero, técnica e experimentação artística consegue ir além do simples cineasta, beirando o esteta. É esse trabalho cuidadoso que pode ser apreciado em Paranoid Park, seu mais recente filme, que involuntariamente fecha a trilogia iniciada em Elefante e seqüenciada por Últimos Dias.
A solidão, o desapego, a ingenuidade irresponsável típica da fase mais gostosa de nossas vidas é cercada de tal forma pelas cobranças de que, enfim, é hora de assumir responsabilidades, a ponto de o que é mais prazeroso tornar-se justamente o mais dramático e sufocante.
A história de Alex, um skatista às voltas com um profundo sentimento de culpa (tão grande quanto de atonismo) por causa de um acidente causado por ele, serve no fim das contas como pano de fundo para uma análise sobre alienação e moralidade. Baseado no romance homônimo de Blake Nelson, a história desenrola-se lenta e sem fôlego, tanto quanto a agonia de Alex, pontuada por seqüências impecáveis sem cortes, diálogos minimalistas e imagens em 35mm, que dão uma sensação de familiariedade assustadora, mas ao mesmo tempo terna e gentil, como o abrigo que ele procura para o seu silêncio.
Só resta-lhe o skate e uma carta confessionária.
Paranoid Park, 2008, Gus Van Sant.
Nota da Redação: A trilha sonora é soberba de tão boa.