Homônimo sai de casa
Por Felipe Gurgel
Com o primeiro disco, Homônimo, recém-lançado pela própria banda em parceria com o selo Pisces Records (SP), o Et Circensis sai de Fortaleza (CE) para a primeira temporada de divulgação do CD fora do Estado. Natal (RN) recebe os cearenses que tocam domingo, 30 de março, na Casa da Ribeira, pelo DoSol Warm Up – 1ª etapa do Festival DoSol, hoje um dos mais importantes da música independente no Nordeste.
Da capital potiguar, a banda segue para São Paulo (SP), onde faz show no Sesc Pompéia na terça, 1º de abril, e aproveita uma semana para trabalhar o disco. E ainda é tudo “free”: ambos os shows são gratuitos. Confira rápida entrevista com o baixista Pablo Huascar, feita por email, destacando a temporada e o percurso de Homônimo até então.
Vocês fizeram um investimento alto no disco, trazendo o Fernando Catatau e o Régis Damasceno para a produção. Catatau acompanha Otto, Instituto, gravou Los Hermanos, Vanessa da Matta. A banda sente que hoje isso faz diferença na repercussão do CD?
Pablo – Antes de qualquer coisa, o principal diferencial que o Catatau e o Régis trouxeram para o disco foi a competência e a habilidade deles como produtores musicais. Eles conseguiram respeitar nossas idéias, mas dando uma cara para o disco. Nossas músicas, até o encontro com eles, eram muito dispersas e tinham uma sonoridade, em certo sentido, indecisa. Passeávamos por vários lugares, mas não ficávamos em nenhum, o que parecia tornar a banda inconsistente. A idéia deles não era encaixar a gente em rótulo algum, mas dar mais consistência, mais corpo para o som. E acho que eles o fizeram muito bem. A genialidade das coisas estava em pequenas nuances que eles eram capazes de sugerir e que mudavam completamente intenções e dinâmicas das canções. Também preciso ressaltar o trabalho com os timbres, além da qualidade do estúdio. O Kalil, que gravou e mixou o disco, teve idéias na mixagem que fizeram muita diferença. Fizemos uma parceria para o lançamento do disco com um show que foi marcante pra gente. E talvez respondendo efetivamente a sua pergunta: sim, faz diferença para a repercussão do CD. O Catatau e o Régis são caras muito conhecidos e respeitados no Brasil todo. Quando alguém recebe um disco e sabe que a produção foi deles, no mínimo, fica curioso.
Homônimo está todo na Internet, disponível para baixar em MP3. Hoje qualquer banda que grava procura ter páginas no My Space e no Tramavirtual, pelo menos. Qual a melhor frente de divulgação pela rede? Você tem predileção/afinidade por algum desses sites?
Pablo – A internet pra mim é uma incógnita a ser decifrada. Já tivemos comentários muito legais vindo espontaneamente pela rede, mas não consigo precisar a repercussão que ela pode alcançar. Apesar disso tenho certeza de que ela é imprescindível para qualquer banda. É um meio gratuito e relativamente democrático de ter acesso a informação. É praticamente impossível estar alheio a isso. Quando comecei a usar esses sites fiquei meio obcecado por achar um jeito de aumentar o número de acessos, pois não basta simplesmente estar lá e pronto. É preciso gerar demanda pra sua música, despertar interesse de alguma forma, se fazer visível no meio de um universo quase infinito. O My Space tem uma infinidade de bandas legais. A pergunta pra mim é: como, no meio de toda essa gente, se fazer perceber de alguma forma? Obviamente que ter um trabalho de qualidade é fundamental, não é só colocar qualquer coisa e esperar ter muitos acessos. Nosso meio principal de divulgação é o My Space (www.myspace.com/bandaetcircensis), mas vejo dois problemas nele. O primeiro é que é um site relativamente pesado para se navegar, mesmo para quem tem banda larga. O segundo é que, ao menos no Ceará, ele tem poucos usuários pessoais. A grande maioria dos nossos amigos no My Space são outras bandas. Às vezes fico pensando que se o Orkut tivesse um player nós teríamos uma quantidade significativa de acesso às músicas. Também gosto muito do Tramavirtual, pois acho fantástica a idéia do download remunerado. Tem que ter um volume muito alto de downloads pra se ganhar um valor significativo, mas, ainda assim, acho uma maneira legal de se dar um retorno ao trabalho das bandas. Quem quiser fazer download do disco por inteiro, também pode ir no site do nosso selo: www.piscesrecords.com
A banda saiu pouco de Fortaleza até então. Qual a relevância dessa passagem pelo DoSol e pelo Sesc Pompéia hoje?
Pablo – Parece que a gente fez o caminho oposto. As bandas, usualmente, têm gravado EPs, saído do Ceará pra divulgar o trabalho, tentar conseguir alguma repercussão e só então vão correr atrás de gravar um disco cheio. A gente começou logo com um disco cheio, com um investimento relativamente alto para sua produção, para só depois tentar circular. Nesse sentido, tocar no DoSol e no SESC é, no mínimo, realizar alguns sonhos. Tocar em dois lugares muito relevantes para a música independente. O Foca é um cara muito reconhecido pelo trabalho dele como produtor, então, receber o convite pra tocar em um evento que ele está realizando é muito significativo pra gente. O SESC, ainda mais o Pompéia, é o sonho de consumo de toda banda aqui de Fortaleza que quer ir tocar em São Paulo. Espero que estejamos à altura desses dois desafios. Mas tudo o que a gente tem conseguido não rolaria sem amigos legais como os que fizemos e os que estamos fazendo. O Dado (Projeto Noise3D) tem sido muito importante nessa jornada e também o Marcos e a Benya, do Coletivosupernova, em Sampa.
Até agora, as melhores coisas que saíram na mídia sobre a banda foram algumas resenhas e comentários em que se nota que o jornalista de certa forma cuidou de não se apressar tanto em analisar o disco. Nesses tempos em que se ouve 150 bandas de uma vez no iPod, para escutar bem o Et Circensis é preciso “desacelerar”? Ter outra sensibilidade?
Pablo – Eu acho que a grande história não é ter uma sensibilidade diferente, mas sim ser afetado por alguma intensidade que o som carrega. Não acho que há um jeito melhor ou pior de se escutar nossas músicas, mas que alguma potência pode ser ativada nos corpos que entram em contato com ela. O melhor é pensar se alguma dessas intensidades foi capaz de desconstruir alguma estrutura aparentemente sólida com a qual teve contato, se conseguiu desfazer e recriar algum hábito enraizado. Pra ser bem cearense, se conseguiu “bulir” com as pessoas de alguma forma. Pra mim isso é o que importa. O grande lance é pontencializar os encontros que produzem forças alegres, que fazem a vida e natureza dar saltos. Se a gente conseguir fazer 1% do que eu estou dizendo, já me dou por muito feliz. Pra arrematar essa história, vou trazer uma citação, mais ou menos grande, de um cara chamado Deleuze. Ele diz: “Não há questão alguma de dificuldade nem de compreensão: os conceitos são exatamente como sons, cores ou imagens, são intensidades que lhes convém ou não, que passam ou não passam. Pop’filosofia. Não há nada a compreender, nada a interpretar”
A banda parece mesmo ter confiança no seu trabalho, pois afirmam que começaram de forma bem diferente da maioria das bandas independentes. Sou obrigado a conferir HOJE na Casa da Ribeira, não tenho como escapar, porque não tenho jogo de futebol para atrapalhar minha ida até a festa de Foca.