Tadzio França – Repórter
Roda de pogo ou roda de samba? A primeira opção imperou, é claro, mas também houve espaço para movimentos mais soltos e cadenciados na 6ª edição do Festival DoSol, realizada no fim de semana passado em trecho da Rua Chile, na Ribeira. O festival se permitiu aquela que foi, talvez, uma de suas edições mais ecléticas, musicalmente falando.
A diversidade, aliás, é um caminho seguido cada vez mais por festivais de música (“independentes” ou não), Brasil afora. Mesmo tendo o rock ‘n roll como eixo, os dois dias do evento sugeriram que uma visão mais ampla da cena musical pode vir para o DoSol nas próximas edições.
O sábado, mais arejado musicalmente, também o foi no sentido de espaço. Apesar de cheio, o “estreito” da rua Chile sequer lotou. Já no domingo, com suas atrações pesadas, encheu o local – e não só de camisetas pretas, pode-se dizer.
Sábado eclético
Entre o peso e o balanço, com cruzamentos bem definidos ou não, foi a tônica adotada no primeiro dia do DoSol. Os shows, divididos entre o pequeno DoSol e o galpão maior, Armazém Hall, fluíram de forma ágil. Se o anseio era simplesmente pelas guitarras altas, então foi o que ofereceram as bandas iniciais do festival. Rápido e sujo, mas sem esquecer que o rock nasceu em bailes de dança, o Bonnies foi um dos primeiros a se destacar na maratona rocker de sábado. Indo além de sua obsessão pelos anos 50, a banda exibiu rock festeiro de diversos ângulos – sempre dando espaço para rodas de pogo ou passinhos de dança frenéticos. O cliente escolhia.
Já o Rejects não deu chance para outros movimentos além dos do pescoço e ombros. Rock pesado e direto – até demais; o público ainda pequeno no horário, cansou rápido. Mesmo assim, o trio curitibano de psychobilly Sick Sick Sinners conseguiu a façanha de fazer com que todos seguissem seus espasmos rítmicos sem pausa pra respirar. “Psycho” é o rock primitivo dos anos 50 num andamento anfetaminado. O baixo acústico, grave e em primeiro plano, pediu pogos imediatos. O público concedeu.
O trio baiano Retrofoguetes mostrou que bandas de rock instrumental não precisam ser sempre sisudas. Técnicos, mas a favor da diversão, tocaram alto e rápido, brincando com temas como o da Família Addams e do Show de Calouros do Sílvio Santos, além de canções próprias. Uma esbórnia feliz. A dupla sergipana Baggio, só bateria e guitarra, mostrou um rock clássico entre o bluesy e o anos 70, mas sem empolgar muito.
Danko Jones, tida como uma das grandes bandas do Canadá – apesar de pouco conhecida por aqui – cumpriu as expectativas em torno dela. O vocalista, carismático, soube levar a plateia em seu rock pesado (de refrãos interessantes) mesmo com a barreira da língua.
Fim da sessão roqueira. Dai em diante, só fusões com guitarras e música brasileira. O Nuda, de Recife, mesclou um pouco de tudo (tudo mesmo!) em regionalismo nacional para seu rock psicodélico. Muita informação, pouca coesão.
DuSouto, repetindo a boa performance do Mada, veio ainda mais dançante, entre o reggae, o samba e o jungle. Boa parte do público sabe cantar de cor as músicas da banda natalense. Bom sinal. O Orquestra Boca Seca, conhecida nos bares da cidade por seus covers samba-roqueiros, mostrou que as composições próprias estão mais para o funk a la Tim Maia e quetais. Agradou. O alto nível etílico do público àquela altura continuou favorecendo as misturas suingadas. E uma platéia receptiva sambou e pulou para o pernambucano Eddie, que instaurou seu carnaval à “original Olinda style”, tocando canções antigas e novas. Os sons do mangue continuam a ecoar por aí.