Clipping, Coberturas

FESTIVAL DOSOL 2009 REPERCUSSÃO: O INIMIGO

confronto

http://www.oinimigo.com/blog/?p=3407

Histórias de choro no palco e por trás dele não são novidade. Mas aqui, bem na nossa frente é novidade. Notícias chegaram que muitos caíram aos prantos após os shows. Ao vivo vi Dante emocionado, ainda sobre o palco. Reflexo do que foi a melhor apresentação deles até então. O quinteto ganhou mais peso, por incrível que pareça, e fez um show redondo. Ok, a gritaria as vezes cansa, mais no todo o show foi muito bom. Quem mais chorou? Foca disse que chorou, tão bonitinho. Dimmy, batera da Vendo 147, também disse que chorou. Só faltou ver Vlad, da Sick Sick Sinners, chorando.

O festival teve seus ótimos momentos, bons e regulares. As três primeiras bandas em cada dia (Flaming Dogs, Driveout, Venice Under Water no sábado e Dr. Carnage, I.T.E.P. e Fliperama no domingo) foram locais e tocaram para um pequeno público, mas interessado. Sempre a frente do palco a observar. Das seis destaque para a Flaming Dogs, que apesar do show inconsistente, deixa a crer que com experiência e interesse tende a ser uma boa banda. O Venice Under Water também fez um show melhor do que o último que presenciei, talvez pelo acréscimo de mais uma guitarra. O som ficou mais “limpo”. Menos embolado. Fliperama faz o tal do punk rock bubble gum que não fede nem cheira, bem executado, elogiada nos meios especializados, mas não consegue prender a atenção por muito tempo. Dr. Carnage é rock chulo, machista, estilo Raimundos nos bons tempos e Matanza. A semelhança não ajuda. O I.T.E.P. é crossover de metal e hardcore. Muito em voga, bem praticado, mas não acrescenta em nada, a não ser para quem quer perder o juízo nas rodas de pogo. Tímidas até então. Paulo, vocal, ainda tentou instigar o público, mas não deu.

O Melda era uma incógnita. Letras curtas, repetitivas, algumas Claudão (o one-man-band) avisou que eram verdadeiras. Como a da mulher que insistia em dar em cima, mas apesar dela ser gostosa não ia rolar uma comida. O som? Pode-se dizer que é punk. Bateria eletrônica programada num lap top e a guitarra tocada rápida e rasteira junto com sacudidas de cabeça para fazer com que o capacete cheio de guizos fizesse algum efeito. Não ouvi. O show valeu boas risadas. Cássim e Barbária fazem um som pop, modernoso, pesado, bem misturado. Muitas influências e dificuldade em captar uma unidade. Merece ser ouvida com mais atenção. Já o Plástico Lunar tem uma boa dose de Mutantes e Mopho. Ainda tocaram uma versão duma música de Leno e Raul Seixas, captada por Alex de Souza para a surpresa da banda. Show muito bom. Psicodélico, hard rock. E se o teclado estivesse mais alto seria sensacional.

the exploited

O festival teve algumas belas sequências de pedradas. Como Bugs + Vendo 147, Rejects + Sick Sick Sinners. E no meio, rock para dançar dos locais Bonnies, que já faz algum tempo regularam o show entre a porralouquice de “Não toque na minha baby” e a viagem de “Hora das compras”. Eles estão em seu melhor momento e já vem mais um disco em breve. Nesse momento Pedro Mendigo estava no cangote de um amigo, sem camisa, fingindo nadar. O Bugs vem crescendo e precisa urgentemente sair de Natal. Com belo EP recém lançado e show na agulha, passeando sempre entre o psicodélico e o stoner ou metal, a meta tem que ser outros palcos. Vendo 147 valia pelo inusitado das baterias gêmeas. Mas o show falou mais alto com muito peso e covers clássicos encerrando. O Rejects abusou do volume e prejudicou um pouco a apresentação. Ok, tocar alto é bom, mas há limite. Show bom, redondo, com cover inusitado de Neil Young, mas é bom regular o volume melhor. Sick Sick Sinners foi a formação mais singular do festival. Psychobilly da melhor qualidade que já rodou a Europa duas vezes, mas pelo Nordeste e Norte ainda são novidade. Baixolão, vocal rouco, diversão e riffs rápidos. Resultado: roda de pogo incessante. Um dos melhores shows do festival junto com a baiana Retrofoguetes. O trio veio de branco e abusou da irreverência e carisma para conquistar o público. Tocar o tema do show de calouros e ainda ver CJ (baixo) dançado tal qual cowboys foi muito divertido. O trio está entre as melhores bandas e shows do Brasil, instrumental ou não. É show para encher os olhos e ouvidos.

The Baggios tocou entre a Retrofoguetes e Danko Jones, tarefa dura. Para quem gosta de rock em dupla, com peso a la White Stripes, Black Keys, foi prato cheio. Blusão pesado, cheio de riffs, mas que passou apagado. Danko Jones veio com a credencial de show gringo, pesado. Foi bem simpático com a platéia, fez um bom show, mas ainda fico com o trio baiano Chiclete-Daleano como melhor show do sábado.

O domingo sempre é reservado para camisas pretas, coturnos e rodas de pogo insanas. Também teve show em que Deus não esteve presente, o da Nervochaos. Com direito a vocalista com tatuagem no peito de pentagrama invertido. Espaço para o metal tradicional do Deadly Fate com direito a um surfista master na guitarra mostrando toda a habilidade em riffs que levavam a loucura um pequeno público que se acabava cantando todas as músicas em pé sobre a grade de isolamento do palco. O Comando Etílico é metal oitentista cheio de caras e bocas, há quem goste. Não chupo essa manga. A primeira gringa do domingo, a Pulverhund, fez um bom show, mas passou apagada entre as últimas atrações da noite. O batera, que é brasileiro, tocou com a camisa do Corinthians, aquela roxa, feia de doer. Não fosse um problema técnico e os ajustes na guitarra de Rafael Cunha, o show da local Distro teria sido perfeito. O som estava cristalino. Tudo bem ensaiado, dois vocais bons, mas a guitarra teimava em desafinar e ainda deu uma pane no palco que cortou a energia. A cada dia a banda cresce mais.

devotos

O encerramento dos dois dias merece atenção. Enquanto no sábado foi aberto espaço para um festival dentro do festival, com o tal barulhinho bom, no domingo não teve isso, mas sim um barulhinho dos infernos numa sequência violenta. DuSouto, Nuda e Orquestra Boca Seca fizeram bons shows, mas passaram a margem da qualidade e credibilidade da pernambucana Eddie. Que faz um som que mistura reggae, rock, ritmos regionais e o sotaque carregado do pernambucano. É dançar imaginando um domingo na praia.

A sequência que englobou Confronto, Calistoga, Devotos, Mugo e The Exploited pode ser descrita com a trinca porrada sonora temperada com moshs e rodas de pogo. Com destaque para a disputa entre lado a e lado b no show do Confronto. Funcionou assim: a banda mandou o público separar em dois lados e ir um para cima do outro. A segurança não gostou. Mas que foi bonito foi. Devotos comemora 20 anos com clássicos como “Eu tenho pressa” e o hino “Punk Rock Hardcore”. Ainda coube bis. A goiana Mugo segurou parte do público que queria ver Exploited com muito peso, passeando entre Korzus e Sepultura. Mas a noite tinha que ser encerrada com uma clássica mundial. E a caveira de moicano estava atrás da bateria. Como diriam no interior, cagada e cuspida a imagem de Wattie. Felizmente não houve nenhum protesto quanto ao possível envolvimento da banda com movimentos extremos e o show correu com rodas de pogo e público empolgado. A maioria que estava presente nem havia nascido quando a banda inglesa começou a tocar, o que faz com que muitas das bandas formadas pelo público sejam filhos indiretos do Exploited.

O espaço dos shows foi o mesmo do ano anterior mostrando que a fórmula deu certo. Une público, bandas e imprensa numa única massa interagindo em harmonia. É possível ver um ídolo, comprar uma camisa ou cd e comer um cachorro quente, tudo a poucos metros de distância. Essa interação é primordial para o funcionamento de qualquer festival. O DoSol criou a sua cara.

Previous ArticleNext Article

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *