(Esta matéria foi publicada na edição de hoje do jornal O POPULAR, no caderno Magazine. A versão que você lê abaixo é a íntegra que, por falta de espaço, precisou ser editada)
Fabrício Nobre, produtor cultural e vocalista da banda MQN, não é mais sócio da Monstro Discos. Uma união que durou 10 anos chega ao fim. O anúncio foi feito na última quarta-feira (26) e a saída do produtor foi acertada em reunião realizada no início da semana. Segundo nota divulgada, “o rompimento da sociedade se dá de forma consensual e amigável entre os sócios e sem nenhum tipo de brigas ou desentendimentos. Fabrício irá se dedicar aos projetos pessoais que já vinha desenvolvendo e a novas parcerias”. Leo Bigode, Leo Razuk e Márcio Jr. seguem à frente das empresas Monstro Discos, Monstro Produções e Alvo Edições e não pretendem buscar um quarto sócio para substituir o produtor cultural.
Fabrício, que entrou na Monstro em 2001, explica que a decisão de sair da produtora é recente. “Decidimos juntos que eu deveria me desligar das empresas para que elas pudessem ter focos próprios, guiadas com a visão dos três que ficam, e que eu deveria focar meu trabalho em novos empreendimentos e parcerias”, diz. O motivo da separação é o mesmo que finda muitos casamentos, ou muitas bandas de rock: chega um momento que as diferenças se acentuam e as divergências começam a aparecer. Foi assim também com os 4 sócios – os caminhos dos monstros como produtores culturais e empreendedores estavam apontando para lados distintos. “Quando isso acontece, parece que a melhor solução é separar para que cada um possa se dedicar com mais empenho e tranquilidade naquilo que acredita”, afirma.
Leonardo Razuk, sócio e responsável pela assessoria da produtora, explica que é natural em determinados momentos um sócio priorizar seus projetos e sair. “Desde o ano passado já estávamos num processo de reavaliação de todo o modelo que queríamos e que estávamos adotando para a Monstro”, diz. Razuk diz que houve uma tentativa de equalizar as ideias e os pontos de vista, mas este ano os quatro perceberam que o melhor seria mesmo a ruptura. Sobre o desfalque, ele acredita que tudo já está organizado para funcionar como um trio. “A Monstro não é o Fabrício. Antes era só o Leo e o Márcio… e depois virou nós quatro. O Fabrício talvez fosse o que mais aparecesse publicamente, mas a engrenagem funcionava com todos e já nos reorganizamos para que ela funcione da mesma forma sem ele”.
Casa nova
O projeto pessoal de Fabrício atende pelo nome de A Construtora Música e Cultura. Criada no ano passado como um projeto paralelo às atividades na Monstro, a nova empresa é também uma produtora cultural, mas vai focar mais as atividades em booking, agenciamento de shows, gestão de carreira e produção musical. E o ex-monstro não está sozinho na recente empreitada. Fazem parte do time Eline Ferreira, Daianne Dias, e Edimar Filho. A Construtora funciona no mesmo local que o Estúdio Rocklab, de Gustavo Vazquez, também parceiro de Fabrício. “Temos um monte de planos juntos”, diz animado.
Fabrício está organizando uma agência nacional de booking e management em conjunto com mais duas entidades, além da Construtora: Do Sol, em Natal (RN) e Casa Fora do Eixo, em São Paulo (SP). O produtor também foi convidado para board internacional do UnConvention, e já tem outras parcerias internacionais em vista. “Acho que não vou trabalhar muito sozinho não”, brinca. Mas ele admite que vai sentir falta do restante dos monstros. “Razuk, Bigode e Márcio Jr. são os caras que mais sacam de música que conheço, são honestos e comprometidos. Vai ser complicado tomar algumas decisões sem eles, mas se apertar, eu pego o telefone e ligo para pegar um toque.”
Monstruosidades reformuladas
A Monstro Discos passará por um processo de reformulação e inovações em 2011. “O que notamos é que a Monstro ficou careta, senil nos últimos anos. Queremos reoxigenar a empresa, pirar mais, curtir mais”, diz Razuk. O novo fôlego, segundo ele, não tem a ver com a saída de Fabrício. “Independente da saída dele, era vital que a gente mudasse, senão, iríamos morrer”.
Nos planos do novo momento da produtora está, por exemplo, a reanimação de um festival que parou no tempo, o Antimúsica Rock Festival, realizado nos anos de 2004 e 2005. E a reedição já tem data e local marcados: dia 4 de junho rola a pancadaria no Centro Cultural Martim Cererê. A Noitada Monstro, assim como a Monstro Comics, projeto de editora e distribuidora de quadrinhos adultos, serão retomadas. O principal lançamento será Cidade de Sangue, graphic novel ilustrada por Julio Shimamoto. Além disso, a Monstro continuará fazendo uma das coisas que faz de melhor: discos. “Muitos lançamentos vão pintar… CDs, DVDs e os compactos mais chiques do Brasil”, diz.
Entre barulhos e bananas
E como fica a situação dos dois principais festivais, o Bananada e o Goiânia Noise Festival? Com a separação, o Bananada está agora sob a responsabilidade da Construtora e o Goiânia Noise Festival, um dos maiores do cenário independente do País, continua com a Monstro. Assim como em qualquer outra separação, rolou a divisão dos bens. “O Bananada saiu porque achamos que era justo ele ficar com o Fabrício, que criou o festival em 1999. Quando ele entrou pra Monstro, em 2001, o festival já existia”, explica Razuk.
O Bananada, que prioriza bandas novas, promissoras e que nunca tocaram na cidade e que, tradicionalmente, era realizado durante um fim de semana no mês de maio, será adiado. Com um formato diferente, o festival terá atividades em junho, julho e agosto. “Vamos experimentar algo novo esse ano para chegar a um formato mais firme em 2011 e 2012. Mas não vou contar muito mais coisa para não estragar a surpresa”, diz Fabrício.
Já o Noise continua como sempre foi. Será no final no ano e voltará a ser realizado no Centro Cultural Oscar Niemeyer, de onde nunca deveria ter saído. A 17ª edição do festival está sendo pensada, contatos com bandas estão sendo feitos e o trio promete que muita coisa boa vai rolar. “O Noise este ano vai ser brutal!”, garante.
Fabrício não descarta a possibilidade de futuros projetos com a Monstro Discos, incluindo até mesmo os dois festivais. “Devemos continuar prestando serviços um para outro. A Monstro deve cuidar da gestão de recursos do Bananada este ano, por exemplo, e provavelmente parte da equipe da Construtora fará parte do Noise”, acredita. Além disso, as bandas com as quais Fabrício trabalha devem continuar lançando discos com o selo da Monstro. Razuk também acredita em parcerias futuras. “Com certeza faremos coisas com ele e tenho certeza de que ele irá nos procurar também. O legal é que a saída dele faz com que Goiânia ganhe um outro escritório para trabalhar e fortalecer a música independente local e nacional”, conclui.
Confira agora a entrevista completa de Fabrício Nobre:
1 – Quando foi tomada a decisão de sair da Monstro? Essa ideia já estava amadurecida havia um tempo ou rolou com o início da Construtora? E por que você resolveu sair?
A decisão do meu desligamento da Monstro se deu bem recentemente, em consenso dos 4 sócios. Eu não resolvi sair. Decidimos juntos que deveria me desligar das empresas para que estas pudessem ter focos próprios, com a visão dos 3 que ficam, e que eu deveria focar meu trabalho em novos empreendimentos e parcerias.
Talvez os fatos que levaram a essa decisão há aconteçam há alguns anos, mas tudo se cristalizou apenas agora. O que acontece, na verdade, é que os caminhos de cada um dos sócios da Monstro como produtores culturais, como realizadores, como empreendedores na área de música, estavam apontando para lados distintos, com dinâmicas e vontades distintas, e quando isso acontece, parece que a melhor solução é se separar para que cada um possa se dedicar com mais empenho e tranquilidade naquilo que acredita.
A nome da Construtora é recente, mas o trabalho que faço em paralelo (todos na Monstro tem atividades paralelas), booking, agenciamento de shows, gestão de carreira musical, produção musical acontece já faz um tempo. Talvez mesmo antes de entrar para Monstro, em 2001, eu já tivesse me aventurado nisso, trabalhei com: Punch, Valentina, Prot(o), Bois de Gerião, rapidamente com Señores e TNYFBB, com minha própria banda o MQN, e, desde de 2007, trabalho diretamente com Black Drawing Chalks, Macaco Bong e Lucy and The Popsonics, por exemplo. Faço também, além das que fiz na Monstro, produções para terceiros: a produção musical da Ambientar, direção de palco e produção do GO MUSIC Festival, curadorias para Cena Musical do Estado de SP, Mulheres Bombril, consultoria para Ministério do Trabalho, entre outras coisas.
Nos 5 anos que presidi a Abrafin, que se encerraram no final em 2010, conheci novos projetos também, viajei um monte, reciclei meu trabalho, senti necessidade de fazer novas parcerias, e acho que esse é momento de colocar isso em prática.
2 – Vai ser mais “fácil” trabalhar sozinho agora? Ou a Monstro vai fazer falta?
Na real não vou trabalhar sozinho, não sei o formato que vou dar para a Construtora como empresa, entidade, sociedade, não sei… mas sei que devo ter novos parceiros, temos nova equipe: Eline Ferreira , que trabalhou com Leo Bigode e Márcio Jr antes mesmo de eu entrar para Monstro e pro Noise, e que está comigo na Abrafin desde a fundação da entidade; assim como Daianne Dias, que também trabalhou com a Monstro em várias oportunidades, na Ambientar e tem experiência de outros projetos como Goiânia Mostra Curtas; Edimar Filho, que entende tudo da parte técnica de palcos e shows, tocou nos Rollin’ Chamas, toca no Space Monkeys e fez parte do coletivo Fósforo Cultural. Dividimos o prédio com RockLab, de Gustavo Vazquez, que é baixista do MQN, segue também como meu parceiro de primeira ordem, estamos fazendo um monte de planos juntos.
Além das parcerias nacionais: estamos organizando uma grande agencia nacional de booking e management, numa parceria com base em 3 cidades e entidades: A CONSTRUTORA em Goiânia; DO SOL em Natal; e Casa Fora do Eixo em São Paulo.
Fui convidado recentemente para board internacional do UnConvention, tenho outros convites para parcerias internacionais. Temos um monte de parcerias em vista, acho que não vou trabalhar muito sozinho não.
Agora uma coisa que tenho certo é que a Monstro vai fazer falta, pelo menos pra mim pessoalmente. O contato com um monte de discos, algumas bandas, mas principalmente os 4 caras juntos ali. Razuk, Bigode e Márcio Jr. são os caras que mais sacam de música que conheço, são retos, honestos e comprometidos quando podem dedicar o tempo a isso. Vai ser complicado fazer algumas coisas, tomar algumas decisões sem eles, mas se apertar, eu pego o fone e ligo para pegar um toque.
3 – No que a Construtora difere da Monstro? Qual o perfil?
A Monstro (e Alvo) é um selo, comércio de discos, editora música, que agrega marca, distribui, comercializa, licencia fonogramas e discos (cds, dvds, compactos em vinil, etc), além de produzir shows e festivais, e que hoje também atua com quadrinhos, vídeo, arte, etc. Mas acredito que nunca teve o foco no agenciamento de bandas, na venda de shows mais diretamente, nunca teve o foco principalmente no booking, na gestão da carreira artística, na agenciamento de tours, e acho que esse será o foco principal da construtora.
Além de ser uma prestadora de serviço de produção para terceiros e de projetos culturais.
4 – Vocês fizeram uma divisão de “bens” normal em qualquer separação. Quais bandas ficaram no casting da Construtora e quais ficaram na Monstro?
Todos os contratados de edição, licença e prensagem de discos ficam com a Monstro. Todas as bandas, mesmo as que eu faço a gestão da carreira ou o booking como Black Drawing Chalks, Macaco Bong, Lucy and The Popsonics, Gloom, MQN, tem seus discos e obras vinculadas a Monstro, com toda a tranquilidade. Vou cuidar dos projetos e shows destas bandas, a Monstro cuida dos fonogramas. No que diz respeito aos festivais eu sigo com o Bananada, sendo que esse ano vamos fazer uma parceria na gestão de recursos.
5 – Como fica o Bananada? Vai mudar o formato? Como será daqui pra frente?
Sim , o Bananada acontece esse ano e deve ter atividades em junho, julho e agosto. Mas não vou contar muito mais coisa para não estragar a surpresa. Pesquisando festivais no mundo todo tenho cada vez mais claro a liberdade de formatos, montagens, datas, etc, então talvez vamos experimentar algo novo esse ano para chegar a um formato mais firme em 2012, assim com tudo novo.
6 – Quais são os principais projetos da Construtora para esse ano?
Dar sequência ao festival Bananada com sua edição 2011; estamos trabalhando já um novo plano também para a parte cultural da Ambientar 2011; fechamos recentemente uma parceira com a cervejaria Devassa e a Ambiente Skate para realizar as Dessava Sessions, que vão ter música e skate; temos shows programados em várias casas como Metropolis, Bolshoi, El Club, Oscar Niemeyer, Martim Cererê, casas novas no interior e outras aqui que nem foram inauguradas; estamos preparando material em áudio e vídeo com produtoras daqui e com o Rocklab; também tem o projeto “Quanto Vale o Show” com parceiros que fazem o Rabiscaria; produções em São Paulo, Belém, Brasília, Nordeste; tem embrião de um projeto de TV para o canal VH1.
Recentemente fui convidado pelo presidente da Agepel para trabalhar na coordenação de produção do XIII FICA. Ainda tenho que me dedicar as funções de diretoria da Abrafin, e membro atuante da entidade.
Mas acho que principal projeto da Construtora deve ser trabalhar de perto com os artistas que gerenciamos a carreira e fazemos a venda dos shows e tours. Acho que a parceria com DOSOL e CAFE-SP fundamental para que essa ação tome corpo nacionalmente e internacionalmente.
Ainda tenho que ser bom pai… ufa! como dizemos aqui em Goiás, “tem trem para caramba!” Mas a equipe é boa, e os parceiros têm gás extra que a gente precisa.
7 – Pode ser que ainda role projetos em conjunto com a Monstro?
Projetos juntos com a Monstro acho que devem rolar sempre, já rolam agora, deve ser algo que dure quando for complementar. Por exemplo: não tenho planos de lançar discos, mas sim de produzir conteúdo. Então, os artistas que trabalho vão continuar lançando discos, cds, dvds, editando músicas, e melhor ainda se seguirem fazendo isso com a Monstro Discos, com a Alvo Edições, etc.
Devemos continuar prestando serviços uma para outro. A gestão/administração de parte dos recursos do Bananada 2011 será feita pela Monstro e, certamente, parte da equipe da Construtora, ou talvez eu, deva fazer parte da equipe de produção do Goiânia Noise deste ano. Acho natural que se um artista procurar a Monstro para fazer um disco e e se a bana quiser fazer o booking internacional, ou mesmo uma produção de gravação, e se acharem que tem o meu perfil, a Monstro deve me oferecer isso em parceria.
É madura a decisão de cada um seguir um caminho, sem brigas, mantendo o laço de amizade e trabalhando junto no que for de interesse de todos, no que for complementar. ROCK SEMPRE!