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ENTRVISTA: GILBERTO MONTE – Diretor de música da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb)

Por Bruno Nogueira

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O estado da Bahia passou os últimos 40 anos sob o regime de um mesmo grupo político. Quatro décadas em que a música não teve uma pasta própria de gestão, já que a própria Cultura estava sob a mesma secretaria de Turismo. É um momento muito específico que poucos estados tem oportunidade de viver. Por isso, aproveitei esse meio tempo para conversar com Gilberto Monte, diretor de música da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), para fazer uma avaliação e previsão de futuros projetos.

Gilberto, que é também músico (entre projetos, já esteve no Electrocooperativa), está no centro das atenções de mudanças polêmicas na gestão de música no estado. Ao contrário do que já acontecia nos grandes centros do país, não existiam editais da área na Bahia, o que provocou mudanças na distribuição da verba pública. “Essa gestão decidiu democratizar através de editais. Ou seja, você torna público, faz chamada, todo mundo sabe quem ganhou e quanto ganhou”, explica o diretor, “e isso gerou um choque muito grande”.

A principal diferença é ter um estado que não compete com o mercado de produção cultural. “Queremos ser fomentadores da cultura e não executores. Cabe ao estado apoiar projetos e não realizar”, reflete Gilberto Monte. Até porque, segundo o diretor, atingir 417 municípios de forma igualitária como produtor seria uma tarefa muito difícil. Com os editais, ele espera instrumentalizar a cadeia produtiva da música local, incentivando seus agentes a pensar em necessidades concretas do mercado que faz parte.

“Se a gente conseguir mudar a forma do artista se relacionar com o meio musical, já vai ser um salto grande”, avalia. É o resultado que era esperado, por exemplo, ao criar um edital para produção digital em música. Já que hoje um músico não precisa pensar apenas no formato álbum, podendo lançar seu trabalho em duas ou quatro faixas ou até em vídeo. Uma iniciativa que chamou atenção até da Petrobras, que está recorrendo ao modelo de Gilberto Monte para montar um edital similar.

Criar um ambiente que seja bem aproveitado pela produção e circulação local, para o diretor de música, é fundamental também para que a cidade possa manter seus artistas. Gente como Lucas Santanna e Pitty, que criaram uma assinatura da música baiana e agora moram em outros estados com pouco dialogo com a Bahia. “Eles são um capital humano que precisamos reposicionar”, comenta Gilberto, “as pessoas passaram a desconhecer a diversidade musical da Bahia, não percebem que temos música instrumental, pop rock e vários outros gêneros de qualidade”.

O resultado desses primeiros dois anos está nos produtos gerados por esses editais que passaram a criar diálogo com o mercado nacional. “O grupo de rap Império Negro produziu um clipe via nosso edital e ele agora está concorrendo ao Hutuz, o maior prêmio do Hip Hop Nacional”, comemora. “Estamos trabalhando com valores pequenos, mas que se adaptam com essa nova lógica de produção. Hoje um vídeo não precisa custar tão caro quanto antigamente”, justifica o diretor de música da Funceb.

A segunda parte de sua gestão, que deve permear os próximos dois anos, também já começa a delinear os primeiros resultados. Após trabalhar o imaginário, Gilberto Monte pretende exportar uma “Música Contemporânea Baiana”. Para isso, trouxe investidores e agentes de shows internacionais para Salvador e criou debates onde artistas tiveram oportunidade de mostrar seus trabalhos.

Agora, Lucas Santanna, Rebeca Matta, Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicletas, Ramiro Russoto e Vandex foram convidados para o South by Southwest, que acontece no Texas, e é considerado maior evento de negócio de música do mundo. A diretoria já se dispos ajudar eles, enquanto no Recife, nenhum dos convidados ao SXSW teve apoio para ir. E acabou não indo mesmo. A Funceb está terminando de produzir coletâneas de artistas locais, que levará a este evento e também a Womex, feira de World Music, para divulgar a produção local.

Segundo Gilberto, “o segredo está em pensar grande, mas dar passos pequenos”. Nesse ritmo, ele espera em 2009 um ano para começar a colher os resultados desses primeiros projetos.

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