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ENTREVISTA: RAFAEL BANDEIRA – PONTO CE / HEY HO ROCK BAR

Júlia Lopes
Da RedeCem Comunicação

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Festival Ponto.Ce em 2006 (Por Abrahão Otoch)

Sete anos de casa de show, um festival independente e muita, mas muita vontade de não parar no tempo. Tudo isso Rafael Bandeira transparece em pouco tempo de papo, fácil que é de conversa. E ele deixa claro: o que quer é estimular ainda mais o circuito da música no Ceará – usando, ou melhor, potencializando as ferramentas que tem à mão: o Hey Ho Rock Bar, querido reduto da música independente em Fortaleza, e o Festival Ponto.CE, que desde 2006 é um dos fortes atuantes na cena local – o que lhe rendeu a afiliação à Associação Brasileira de Festivais Independentes – Abrafin. Data marcada (o Ponto.CE acontece em 6 e 7 de novembro) e muito o que conversar sobre toda essa cadeia produtiva, Rafael aperta o play.

RedeCem – Desde que surgiu, o Hey Ho se dedica ao nicho da música independente – seja local ou nacional. De uns tempos pra cá, porém, tem se discutido um outro tipo de ação da casa. A gente pode começar nossa conversa sobre o que fez com que essa mudança entrasse na pauta do Hey Ho – ouvi falar em especulação imobiliária…

Rafael Bandeira – Esse problema já existe há muito tempo e ficou acentuado com a intensificação de fiscalizações. Ele não é apenas do Hey Ho ou do Noise3D (quando funcionava na mesma rua do Hey Ho). Mas é de todo mundo que atua naquela região.

RedeCem – Tem o problema com aquele prédio na esquina, de uma famosa construtora. O que se comenta, entre as pessoas que frequentam o lugar, é que ela instigou o poder público a intensificar essas fiscalizações.

Rafael – Na semana passada eu tive uma reunião na SEMAM (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle Urbano) e por coincidência encontrei o advogado da construtora. Ele contou uma história completamente diferente. Mas claro que ele não vai assumir isso. E a gente nunca vai saber…

O importante é que a gente tinha resolvido, há pouco tempo, mudar o foco do Hey Ho. As questões burocráticas que a gente enfrenta, essa especulação, todos esses fatores fizeram com que a gente pensasse nosso operacional, nossa conduta. Utilizar melhor o espaço que, sejamos sinceros, não é bem utilizado. A programação fixa é só de sexta e sábado – eventos na quinta e no domingo são esporádicos.

A gente quer um melhor uso do Hey Ho principalmente durante a semana. Não abrir promovendo mais shows – algo que a gente não quer abrir mão, que já é nosso. Mas a gente queria diversificar mais a programação. E vale para todas as linguagens. Teatro, dança, audiovisual. O nosso intuito é virar um centro cultural, talvez. Mas é preciso uma força, parceiros. Como a parceria com o Teatro das Marias, coordenado pela Valéria Pinheiro. Ela ganhou edital de Ponto de Cultura e a gente deve levar algumas atividades pro Hey Ho.

RedeCem – Quando o Hey Ho, que é uma casa de shows, se dispõe a abrigar outras manifestações artísticas, tanto o operacional como o estrutural tem que mudar, se adaptar. Existe algum plano nesse sentido?

Rafael – A gente não tem nada definido. Faço questão de dizer isso. Vai ser algo novo. Nesses seis anos a gente adquiriu experiência com shows. Esporadicamente teve outro tipo de apresentação – como brechós e desfiles. Mas era mais por vontade dos outros do que nossa. E todos eles foram bem legais. Deu-nos muita motivação.

A gente deve sofrer alguma modificação estrutural, vai depender da demanda. Se precisar derrubar o palco pra fazer uma exibição de audiovisual, a gente derruba. Além do palcão, a gente tem um outro, móvel, que pode ser montado e desmontado com rapidez. Um show pra 200 pessoas, por exemplo, não exige o outro maior.

RedeCem – E como está sendo a articulação com as pessoas que trabalham nessas diversas linguagens?

Rafael – Quero ouvir essas pessoas. Eu não tenho a experiência que eles têm. Tenho experiência de show. Quais pessoas poderiam fazer parte do projeto? O ideal é abrir pra todo mundo pra ter um suporte. Mas vou utilizar muito a galera do Hey Ho. Esse é um ponto importante: não posso trazer algo hermético pra nossa equipe.

Quero formalizar uma associação. O meu CNPJ é comercial e eu precisava de um sem fim lucrativos pra ter um convênio com a Prefeitura, por exemplo. Então devo abrir uma associação lá dentro. Tem a APROINCE – Associação dos Produtores Independentes do Ceará – em fase bem inicial. E que não limita a ser só de música. Quem for produtor pode mexer com tudo, não só a música.

RedeCem – Algo além da Rede, então?

Rafael – A Rede veio depois da APROINCE. Eu já conhecia o pessoal de Cuiabá, antes daquele boom da oficina. Admirava o trabalho deles e dizia: consigo visualizar tudo isso que vocês têm aqui lá em Fortaleza, mas infelizmente de forma isolada. Temos tudo, equipamentos, força de trabalho, material, mas tudo em formato de ilha. Quando existia a necessidade, as pessoas faziam essa comunicação. E depois ia embora – até existir outra necessidade. Aquele encontro formalizou isso e criou pontes entre essas ilhas.

RedeCem – Queria mudar de assunto e falar sobre o Ponto.CE, festival produzido por vocês, integrante da Abrafin. No ano passado, a presença de uma banda internacional, Bad Religion, acabou ofuscando não só as bandas locais ou nacionais, mais o festival como estava em sua concepção…

Rafael – Na Abrafin questionaram muito essa mudança de formato. “Será que as coisas estão caminhando na direção correta?”, perguntam. “Perde um pouco o foco”, comentaram. Distancia um pouco daquela idéia original. Eu não acho que seja ruim trazer bandas de fora. A gente consegue, com organização, fazer com que a coisa gire em torno do festival, fazer com que seja um festival daqui. Tem estratégia pra fazer isso. Mas essa a gente não conseguiu segurar. O Bad Religion tomou conta do festival.

Mas não deixa de ser bem ruim. E isso ocorre não só com as bandas internacionais. Em 2007 fizemos três dias de shows. E num dia só – quando tocou o Massacration – a gente teve quase o triplo de público do primeiro dia. O que a gente quer esse ano é diversificar mais e que as pessoas queiram ir pro Festival Ponto.CE.

O que aconteceu é que tinha um festival montado e, de uma hora pra outra, surgiu essa oportunidade de fazer um show do Bad Religion. A gente adaptou e correu esse risco. E quase que quebra tudo – no pior sentido.

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