Editorial

EDITORIAL DOSOL: PORQUE AS LEIS DE INCENTIVO E OS EDITAIS SÃO TÃO IMPORTANTES?

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Foto: Jane Fonda no Festival Dosol 2005 – Foto por Nicolas Gomes

Por Foca

Ontem dei uma entrevista pro Novo Jornal (Natal/RN) com enfoque na minha carreira de produtor e músico numa espécie de perfil. Lá pelas tantas a jornalista que me entrevistava perguntou sobre o processo de distribuição de verba pública para projetos, e as questões que os envolvem: leis de incentivo, editais, patrocínios e afins.

Rapidamente parei para refletir e analisar esse processo dentro do Dosol e detectamos algumas coisas que eu gostaria de dividir com vocês. Lembro que em 2001, no nosso primeiro ano de existência como Dosol, tentar um patrocínio era algo inglório e injusto. Invariavelmente para se conseguir um apoio público era preciso ter trânsito com os gabinetes, conhecer os gestores e ter bom relacionamento com eles. Ou seja, era preciso usar de influência para que alguém apoiasse um projeto. Todo esse processo era feito às escuras, sem prestações de contas, sem licitações e com muitas interrogações.

Nunca fomos patrocinados ou apoiados dessa forma uma única vez, mas nem por isso deixamos de acreditar no potencial e no foco do nosso trabalho. Vamos pular quase dez anos e chegar em 2010. O que mudou de lá para cá? A corrupção e o tráfico de influências acabaram? Não. Mas diminuiram bastante porque hoje a realidade e a pressão pública são outras.

Nesse período, as leis de incentivo à cultura se solidificaram, passaram a ter uma papel fundamental para quem promove ações culturais com pouco apelo de público (memória e vanguarda) e aos poucos vem consolidando um espaço que passou quase 15 anos para ser construído e que tem relação direta com a democracia e o mérito. Hoje um projeto cultural realmente relevante e bem gerido tem reais possibilidades de conseguir um apoio graças aos editais e leis de incentivo.

Ainda há distorções, claro. Ainda existem no mercado produtores sanguessugas que caçam oportunidades com projetos fantasmas que nunca saíram do papel esperando dinheiro público para realizar ações (normalmente mal feitas), assim como alguns marqueteiros que usam as leis visando apenas a exposição de sua marca, sem levar em consideração o conteúdo cultural dos projetos.

Os bons projetos são aqueles que tem foco e ação, são aqueles que tem clipping, que são colocados na rua independente de patrocinadores e que mostram mérito para que cresçam, tenham visibilidade e aí sim, consigam apoios mais sólidos. Boas idéias e realizações não precisam começar grandes e espalhafatosas. Às vezes um pequeno núcleo de ação gera resultados fantásticos mesmo com pouco ou nenhum dinheiro.

O Festival Dosol deste ano ganhou dois editais de duas super-empresas: a Oi, gigante de telefonia e da Petrobras, que dispensa qualquer apresentação. Foram quase 10 anos criando um ambiente de interesse e relevância cultural para chegar nessas vitórias e mesmo assim não há garantias de que continuaremos sendo patrocinados caso nosso projeto perca relevância.

O que pouca gente sabe é que participamos de quase cinquenta editais para sermos comtemplados em dois, ou seja, é muito trabalho, muito estudo e muita dedicação para que as coisas comecem a dar certo. Isso não é nenhuma novidade para qualquer profissão (ou não deveria ser).

Mesmo com anomalias, as leis de incentivos e os editais são instrumentos essencialmente democráticos e devemos trabalhar para que eles continuem existindo e melhorando. Vamos em frente!

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