Há uma seqüência no filme Amores Perros, de Alejandro Iñarritu, onde um dos protagonistas no auge do desespero caminha sobre cacos de vidro. Como se a agonia fosse tamanha a ponto de não caber em palavras – ou urros – o diretor preferiu abster a platéia do som. Cristalizou uma agonia sem palavra alguma, deixando para o espectador a empatia sensorial da cena.
Amores Perros não tem absolutamente nada a ver com 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, mas o auge da agonia permeada pelo silêncio vale como analogia. O filme que venceu em
O drama de Otilia, vivida pela competente Anamaria Marinca, ao lado de Gabriela, na pele da comovente Laura Vasiliu é elevado a décima potência pela falta de trilha sonora e pela frieza de um diretor (Christian Mungiu) honesto que importou-se tão somente em contar uma história simples, dolorosa, sem arroubos e por isso mesmo tão palpável.
O drama de um aborto ilegal e das conseqüências disso num país sufocado pela repressão política salta da tela para a falta de fôlego da fotografia de tons pálidos e a ansiedade de que tudo chegue ao fim da maneira menos dolorosa possível. Fim onde, aliás, Otilia sugere o silêncio entre elas sobre tudo que aconteceu.
É mais ou menos assim que o espectador sai do cinema. Com um nó no estômago, uns cacos de vidro debaixo dos pés e nenhuma palavra.
Rodrigo,
parabéns pela análise (ou crítica?) bem acertada sobre 4 meses, 3 semanas…
Acabei de assisti-lo agora à noite. Você descreveu com precisão o sentimento de quem sorveu esse filme. De fato, o silêncio dele é “gritante”.
Abraço,
Teixeira.