Coberturas

COMO FOI? MACACO BONG E EMICIDA NO STUDIOSP

Recém estabelecidos em São Paulo, Macaco Bong inaugura projeto mensal

Por Marlos Ápyus, especial pro Dosol

Quem via a casa lotada à meia noite de uma quinta-feira jamais poderia imaginar que em 90 minutos subiria ao palco uma das bandas de mais difícil digestão da atual cena alternativa brasileira. Porque se música instrumental é aquela que abre mão de um texto a ser defendido por intermédio de um vocalista, o Macaco Bong abdica de ainda mais elementos, tais como melodias, levadas compreensíveis e harmonias que façam qualquer sentido, e que poderiam soar minimamente atrativos aos 450 curiosos que se hipnotizariam mais tarde com seu som.

Porque não só não há o que cantar: não há o que assobiar. Tantas vezes, nem como se movimentar, tamanha a quantidade de contratempos que jorram dos amplificadores. Daí que o público fica confuso, não sabe se vai pra frente ou pro lado, se pula ou escuta. Em dado momento parece desistir, fecha os olhos, entra em transe e se entrega. Enquanto isso, abaixo dos refletores sobram climas, entrosamento, histórias que vão se desenrolando esticando ao máximo os limites de tudo que a falta de técnica é capaz de produzir (e aparentemente não é pouco).

Contudo, poucas metáforas soam tão justas e ricas em significado como a do “Artista Igual Pedreiro” defendida no título do primeiro álbum do trio. Desde a postura de um músico que se vê como um elemento mínimo, tão necessário à sociedade como qualquer trabalhador, à pouca necessidade de estudo para exercer sua verve musical dentro de suas evidentes limitações – o que não os impede de erguer grandes obras numa praia dominada por virtuoses.

E o que o Macaco Bong fez na noite de 17 de março de 2011 foi grandioso. Recém estabelecidos na maior cidade do país, já arregaçam as mangas e se apresentam como anfitriões, esbanjando iniciativa, substantivo tão raro em tantas outras vertentes musicais que entortariam (e entortam) a cara para seu trabalho. E assim deve acontecer pelo menos uma quinta-feira mensalmente no Studio SP. A tirar pela explosão de aplausos ao final de cada número, a iniciativa está mais que aprovada pelo público que recebe de braços abertos seus novos vizinhos.

Quando a hora e meia de show se aproximava e as ideias pareciam se esgotar, sobem ao palco os convidados. Primeiramente o Astronauta Pinguim, com seus sintetizadores acompanhados pela guitarra de Bruno Kayapy tocada em modo havaiano (com slides deitada no colo). E, por fim, Emicida, sensação do hip hop brasileiro e que veio bem a calhar a quem já estava com saudades de um pouco de ritmo e poesia. É quando, maestrados pelo DJ Nyack, o feeling abre espaço ao carisma do MC, a platéia embarca na onda e a noite chega ao seu auge.

Porque, uma vez que se complementam, a música instrumental parece ter nascido para casar com rap. Na saúde e na doença, então, que só a morte os separe.

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